Os padres chegaram com normas disciplinares rígidas: ao chegarmos, tínhamos que depositar numa caixa, na entrada, a caderneta escolar. Sem a tal caderneta nem se pensava em entrar no colégio. Ela era um misto diário escolar, boletim, livro de orações e normas de boa conduta. Para cada dia no ano letivo, lá tinha que ser carimbada a nossa presença. Isto, sete dias por semana, pois tínhamos aula também aos sábados e domingos, a missa obrigatória.
Este carimbo: “missa”, era imprescindível para entrar em aula na segunda-feira. Se alguém, por algum motivo não tinha assistido a missa no colégio, se obrigava a conseguir a assinatura do celebrante da missa que tinha ido..., na caderneta. Comentei há pouco com um colega da época, por que não inventávamos uma assinatura qualquer, de um padre fictício, ao que ele retrucou: “Nunca! Isto seria pecado-mortal!”.
Nossa presença na escola era total: sábado à tarde as reuniões da “Companhia de São Luiz” e do “Pequeno Clero”.
Domingo, depois da missa, os torneios de futebol no pátio, descalços, defendendo nomes de times famosos: Real Madrid, Flamengo, Palmeiras, Vasco da Gama, etc. Lá se engalfinhavam os hoje respeitáveis senhores, entre os quais Celso Cabral, Élio Siemann, Antônio Phillips, Luiz Antonio Cechinel, Francisco Pfeilsticker Zimmermann, Amílcar Gazaniga, Heitor Rosa, Pedro Ferreira, entre outros tantos craques.
Tudo isto embalado por um alto falante que tocava à exaustão um disco de “Cassino de Sevilha” e, depois de 1958, outro que narrava os jogos da Copa da Suécia com estática e tudo, descrevendo os gols contra a Áustria, País de Gales, Rússia, França e Suécia com um entusiasmo que nos fazia arrepiar.
Entre a narração de um jogo e outro, os hinos que louvavam o “esquadrão de ouro: bom de samaba, bom de couro”... E a pelada corria solta: xingar não podia; brigar, nunca. Dava expulsão do jogo e suspensão das aulas.
Devoções novas nos foram apresentadas pelos salesianos: Nossa Senhora Auxiliadora; São João Bosco (Dom Bosco) e um jovem, São Domingos Sávio, de gravatinha, paletó verde e uma frase: “La morte ma non pecatti”.