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Histórias que eu conto

Por Homero Malburg -

Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista

Armação da infância I


"Meu pai só aparecia aos sábados à tarde, pois a Cia. Malburg (foto) trabalhava até meio-dia" (foto: facebook itajaÍ de antigamente)

Veraneávamos em Armação quando pequenos. Uma das primeiras coisas que aprendíamos com os nativos era que a parte da praia que ia do Alírio à Ponta da Cruz chamava-se “Armação”. A outra, do Alírio em direção da Penha, “praia da Armação”. Em resumo, na Armação ficavam os nativos. Na praia da Armação, “os alemão”, pois lá era grande o número de veranistas de Blumenau, Joinville, Pomerode e arredores.

 

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Acho que foi no verão de 1955, a primeira vez que fomos para lá. Na pensão da “dona Faceira”,  mãe do Lúcio e da Lucinha. Os dois quartos da frente eram nossos: a mãe e nós cincos filhos. O pai só aparecia nos sábados à tarde, pois a Cia. Malburg trabalhava até meio-dia. A pensão era completa, café da manhã, almoço, café da tarde e jantar. E dá-lhe peixe e camarão nas mais diversas formas (deliciosas!) de preparo. Aos domingos, galinha ensopada. Carne de gado, só muito raramente surgia no cardápio. Afinal, na Armação só se matava boi uma vez por semana e a fila pra comprar um pedaço era enorme. Parecia que aquele fogão à lenha da dona Faceira não apagava nunca. Camarões enormes e peixes da mais alta qualidade, pois ela tinha um filho pescador. Hoje, ao recordar, me enche a boca d’água, mas confesso que, naqueles tempos, ansiava por um “bifinho” de vez em quando, que não aparecia.

Nossa época de veraneio era de logo após o Natal até o final de fevereiro – dois meses inteiros! Tomávamos então conhecimento de coisas que não faziam parte do nosso dia a dia. Não havia água encanada. A água era tirada de um poço, o banho de canequinha. No começo, ao tentar tirar a água, normalmente deixávamos escapar o balde do gancho, e dava uma trabalheira resgatá-lo. No final da temporada já fazíamos isto com destreza. A privada era a famosa “casinha” no fundo do quintal. Naquela época só nas cidades se conhecia o vaso sanitário. Energia elétrica, nem pensar. Sobrevivíamos com velas, lampiões a querosene e dormindo muito cedo. Era um desconforto com o qual nos acostumávamos rápido, pois tudo  era compensado pela liberdade de andar pela praia, conhecer novos amigos, ver a chegada dos barcos de pesca e, no mar manso, nadar até eles ancorados, subir e mergulhar de cabeça. Nos fins de semana, com o pai presente, podíamos ir até mais fundo, onde “não dava pé”, pendurados nas boias de câmara de ar que nos deixavam, com o constante roçar na borracha molhada, com a pele toda “assada”.

O Lúcio era proprietário de uma sorveteria ao lado da pensão, onde havia um gerador. Imaginem como infernizávamos a mãe para comprar aqueles picolés redondinhos, maravilhosos, de abacaxi, coco e framboesa... Os adultos reuniam-se em volta de uma mesa de sinuca com suas cervejas e pingas. A nós, crianças, este era um território proibido. A curiosidade fazia-nos ficar de longe, só observando.

A Élia, minha esposa, contou-me que vinha nesta época à sorveteria comprar os tais picolés. Afinal era o único lugar onde os havia. Seu pai, caprichoso e engenhoso, lá do lado “dos alemão” tinha uma casa de vereaneio com gerador e vaso sanitário. Caminhavam muito pela praia até o Lúcio, com medo dos ouriços que espetavam os pés.

Confesso que nunca prestei atenção naquela galeguinha de Pomerode, de shortinho e sandalhinha. Da mesma maneira ela também  nem olhou para aquele piá de oito anos, descalço, de cabelo preto e tão queimado do sol que parecia um filhote de pescador...


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