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Histórias que eu conto

Por Homero Malburg -

Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista

Carnaval? O quê?


Um dia desses, tive que explicar para um jovem o que queria dizer “subversivo”. Coisas que, pelo desuso, neste caso, felizmente perderam o sentido.

Ao folhear o livro de Juventino Linhares _ “O que a memória guardou”, lá estava descrita a fundação de duas sociedades: a “Estrela do Oriente” e a “Sociedade Carnavalesca Guarani”, na última década do século XIX. Diz o autor: “Ambas tiveram início com a característica de Sociedade Carnavalesca e ambas perseveraram durante anos fazendo dos festejos de Momo o eixo central de suas atrações e a razão essencial de suas sobrevivências... O desfile dos dois grupos apresentava vários carros de crítica, causticando fatos e costumes da época. Além dos desfiles de carros pelas ruas, existiam os festejos de salão e o tradicional “entrudo”. Segundo Linhares, “era para a rapaziada o divertimento mais empolgante, violento às vezes, mas de comicidade irresistível, o seu poder contagiante avassalava, envolvendo a todos no mesmo nível e com o mesmo entusiasmo”. A munição eram limões de cera cheios de água que “cortavam os ares” molhando o alvo na região atingida.

Na minha infância, acorriam turistas das cidades vizinhas para ver o desfile dos carros alegóricos pelas ruas centrais da cidade. Muito deles, verdadeiras obras de arte do seu Alfredo Silva, em determinado momento mudavam-se as luzes e abriam-se, revelando supresas que ressoavam num “Ahh!” de admiração. Na rua Hercílio Luz, a loja “A Preferida” vendia lança-perfumes, as de vidros e as “Rodouro”, metálicas e douradas. Serpentinas, confetes, fantasias, máscaras de papelão, tudo para o Carnaval. O “Sangue-do-diabo” foi algo desta época. Era um líquido vermelho que, jogado sobre as pessoas, manchava toda a roupa, mas em poucos segundos o vermelho sumia.

Os blocos e mais tarde as escola de samba ensaiavam muito. Lembro-me que, em 1979, quando mudei para a rua Uruguai, os vizinhos ensaiavam seus batuques e cantorias para os blocos que viravam dia e noite pelas ruas cheios de cerveja e amor pra dar... Um personagem famoso de Itajaí, na base do “eu sozinho”, desfilou durante um dia e uma noite carregando uma galinha. Ela morreu e ele foi atendido no Pronto-Socorro  com um baita problema de circulação sanguínea, pois não mudava nunca a posição do braço. As costureiras e bordadeiras da cidade se esmeravam, cheias de encomendas para as fantasias que iriam abrilhantar os bailes do Guarani, da Vila, da Fazenda, do Ramos, cheias de vidrilhos e lantejoulas.

Depois do Carnaval corria-se às bancas de revistas para ver o Carnaval do Rio nas páginas de “O Cruzeiro”, “Manchete” e “Fatos e Fotos”.

As pessoas que nos pedem para ressuscitar o Carnaval do Guarani naquele único baile de sábado, lembram de como era difícil conseguir uma mesa, um ingresso, para as três noites, principalmente a de segunda-feira. Mudaram-se os tempos e, hoje, as opções de lazer são outras e muitas. No entanto, aquelas pessoas que comparecem ao nosso baile, impregnadas daquele entusiasmo irresistível, com os cabelos cheios de confete, corpos suados e pisando sobre serpentinas, vão logo dizendo: “Ah! Como isso aqui é bom! Que saudades!”.  Venham verificar, gente! No baile do Guarani, embora já não tão grande, aquele estado de espírito e o “glamour” continuam. Eu cá espero que, no futuro, o Carnaval, tal como “subversivo”, não precise ter seu significado explicado. E que não se torne como a Semana Santa, a Semana da Pátria, os Finados, apenas só mais um feriadão...

 

“Na minha infância, acorriam turistas das cidades vizinhas para ver o desfile dos carros alegóricos pelas ruas centrais da cidade. Muito deles, verdadeiras obras de arte do seu Alfredo Silva...”


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