Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Caçando e pescando
Nos anos de minha infância e adolescência, era muito comum ganharmos livros de presente. No Natal, aniversário, o livro de aventura nunca desagradava. Comprado na livraria Rangel, na Pedro Ferreira, a maioria da coleção Terramarear, incluía Tarzan, Robert Louis Stevenson, Karl May, Mark Twain, Fenimore Cooper e outros nomes do gênero na literatura universal. Nomes nacionais, fora Monteiro Lobato, para nossa idade, eram poucos. Foi então que na primeira comunhão ganhei do tio José Malburg, “Três garotos em férias no rio Tietê”.
Escrito pelo campineiro Francisco de Barros Junior, descrevia uma viagem de bote a motor pelo rio Tietê (limpo na época), do tio Chico – o autor – mais três sobrinhos. Além de contar caçadas e pescarias, tio Chico preparava pratos deliciosos e, em volta da fogueira, de noite, conversava sobre História do Brasil, Geografia, Biologia e comentava conceitos de moral e ética.
Seguiram-se mais três livros sobre três escoteiros em férias.No rio Paraná, no rio Paraguai e no rio Aquidauana, todos absolutamente maravilhosos.
Um dia, emprestei do Humberto Narciso um volume de uma série de seis, do mesmo autor, intitulado “Caçando e pescando por todo o Brasil”, que descrevia histórias reais vividas pelo autor, desde a sua meninice nos fins doséculo XIX na fazenda do avô, até suas viagens por todo o Brasil quando adulto, período que findou após a Segunda Guerra. Em 1969, achei e comprei em Curitiba estes livros, agora em três volumes que ainda releio, com bela capa de couro com que os mandei encadernar.
Não exagero ao afirmar que muito do meu conhecimento sobre animais, plantas, usos e costumes, geografia sobre a História que não foi escrita, sobre as atividades socioeconômicas destes sertões Brasil a fora, vem da leitura desses livros. Quando adolescente, fixava-me nas narrativas dos belos tiros, das armas de cartucho e da bala, nas pescarias de dourados, tambaquis e jaús. A medida que fui amadurecendo, passei a prestar atenção às narrativas paralelas: a faina do seringueiro, a navegação dos rios, as fronteiras do país, o comportamento dos caboclos, dos índios, dos negociantes ribeirinhos. O desbravamento do oeste paulista e o nascimento de novas cidades com desenvolvimento econômico. Os “causos”, a política, as doenças, os episódios da guerra do Paraguai, do Chaco e da conquista do Acre.
Pouco tempo atrás em Curitiba, fui a um “sebo” na rua Emiliano Perneta, um dos meus locais preferidos. Lá, perguntei ao proprietário sobre tais livros. Ele, consternado, afirmou que não existiam mais. A políticapreservacionista considerou-os “politicamente incorretos”. O tio Chico matava bicho demais. Desta maneira, nem novas edições foram possíveis. Este país é mesmo sério?
Fico a pensar se o Arthur e o Alaércio não têm mesmo razão. Sábado, no final da festa do Guarani, tomando as muitas “saideiras”, aventaram a teoria que as primeiras preocupações com o meio ambiente tiveram como ponto de partida a Adelaide Chiozzo, que abraçada ao seu acordeão, cantava: “Sabiá lá na gaiola, fez um buraquinho: voou, voou, voou, voou. E a menina que gostava tanto do bichinho: chorou, chorou, chorou, chorou....
 
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