Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Tempos de ginásio II
A cantina do Salesiano vendia um sanduiche delicioso: pão do Patiño com mortadela (com direito a borda de celofane) além da Laranjinha; Maria-mole; paçoquinha de amendoim (Q-Big); Embaré e, de quebra, material escolar.
No pátio, numa cesta de palha coberta com uma toalha de imaculada brancura, o seu João vendia bananinhas.
Durante o recreio não se podia sentar. Devíamos nos manter sempre em movimento e sem mãos no bolso. O olhar vigilante do Conselheiro, padre Otávio Bortollini cuidava disso: de perto, uma lambada com a corrente de seu relógio, muito doída e de longe, com uma bolinha de tênis e uma pontaria infalível. As brigas eram terminantemente proibidas. O acerto de contas passou a ser feito no pátio da freira após os “clérigos” virem apartar em nome do bom conceito do aluno salesiano, mudou-se para o areal atrás da Matriz nova, mais longe do Colégio.
O espiribol foi outra diversão trazida pelos padres: consistia em enrolar em torno de um poste uma “bola” de couro em forma de pêra, presa a uma corda. Um e outro time tentava fazê-lo em sentidos contrários.
Não se admitia aluno em “manga-de-camisa”. Paletó era traje obrigatório para todos os dias. Uma opção mais leve para os meses de calor eram paletós finos, de gabardine, denominados “slacks”, comprados na Casa Narciso ou na Casa São Paulo, do seu Kunifas. Os professores leigos sempre de paletó e gravata e os padres de batina ou branca, no verão.
Dia 24 de maio era dia de N. Sra. Auxiliadora. Desfilávamos impecáveis pelas ruas do centro. Tal qual em Sete de Setembro, tais desfiles eram precedidos de incontáveis ensaios. A fanfarra dava duro: surdos, caixas-claras e retinidas e uma inovação: os instrumentos de sopro. A “marcha batida” executadas antes das cerimônias, era de arrepiar: adrenalina pura. Aprendia-se a cantar o Hino Nacional inteiro e corretamente, além dos hinos da Independência, da Bandeira e da República nas muitas horas de civismo.
Antes de entrarmos em classe, reuníamo-nos todos em formação: do pré-ginasial à quarta série, para as orações e para o “bom dia” ou “boa tarde” de nosso Diretor, padre Pedro Baron, que com este cumprimento finalizava seu pronunciamento diário “aos seus meninões”.
Anualmente, realizava-se o “certame de catecismo”, um teste de perguntas e respostas decoradas à exaustão. Todos em pé: quem errava, sentava. No fim, o vencedor recebia uma medalha, prova de que não tinha se enganado em uma vírgula sequer e eliminado todos os seus concorrentes.