Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Nos anos cinquenta...
Não se falava em terrorismo. Terror era assistir no cinema “O Mostro da Lagoa Negra”e “A Mosca da Cabeça Branca”. A guerra-fria não matava. A bossa nova dava seus primeiros passos. Brigitte Bardot estava começando. Só se escutava a rádio Difusora quando a rádio Clube chegou, inovando. Os radinhos de pilha depois dos Spica eram os Hitachi e os Sharp, mais potentes. “Coca-cola” grande lhe dá muito mais – depois de um copo encher, fica outro pra beber! “O Brasil era campeão na Suécia. Dona Leda era professora de Educação Física. Quem podia, tinha um LP do Ray Conniff e outro do Miltinho. Melhor era ter também “Os metais em brasa”. Festa americana era tocada à radiola, Cuba e Hi-fi. A Crush havia chegado aqui. “Melhoral, Melhoral é melhor e não faz mal”. Carrão mesmo era o Chevrolet amarelo do “seu” João Macedo. Táxi era carro de praça – o Ford do “seu” Braga. Telefone daqui tinha número de três dígitos. Quem não usasse Ban-Lon não era gente. Pena que poucos usavam desodorantes Van-Ess. “Abra uma conta no INCO e pague com cheque!”. Ir ao centro era “ir lá embaixo”. O “point” era o bar Caiçaras do Tião e do Hélio, nos altos dos Malburg Palace Hotel. Cafezinho no Democrático era servido por garçon, nas mesas.
Ir a Blumenau e a Brusque era viajar. Com o “seu” Lima ou com o Rápido Cometa? Havia o morro do Encano – ir a Florianópolis podia virar aventura. Lia-se o Cruzeiro, Manchete e Fatos & Fotos. Ouvia-se o Repórter Esso. A barquinha da passagem para Navegantes levava só pessoas e bicicletas. Comentava-se sobre o tamanho da fila na balsa da Barra do Rio. O padre Vendelino mandava sair da missa as mulheres com vestido sem manga. As missas eram em latim: “Dominus Vobiscum!”. Íamos ao aeroporto na rua Blumenau para ver os aviões da Varig, Cruzeiro, Real, TAC e Sadia. Na política, tudo bem, tudo certinho com o Jânio, Irineu e Dadinho! Vespa ou Lambretta? “Phimatosan, igual não tem, é o amigo que lhe convém”.
Pegava-se tosse-comprida. Olha a ambulância do SAMDU! Na falta da estrada, andava-se de carro pela areia da praia de Camboriú. Cabelo se cortava no “seu” Marçal ou no Ângelo Ardigó. Na Pedro Ferreira, “a Dama-Escora o soutien da senhora”. Compravam-se livros na papelaria Rangel, com a dona Maria. Na Casa Vitória era “lá onde o diabo perdeu as botas...” Presidente bom era o JK que estava construindo Brasília. As mocinhas do São José usavam saia plissada, gravatinha e meias três-quartos. Alpargatas-roda ou sete vidas? Gay ou bicha era viado mesmo. Cerveja boa era a do casco escuro. Sapatos com grife só na casa Balinho. Não se falava em grife. Pegar onda era fazer jacaré sem prancha. Chic era fumar Minister. No Carnaval havia desfile de carros alegóricos e lança-perfume. Itajaí tinha dois acessos. Rua Sete e rua Blumenau. E os tratores Ford, carregando madeira, atrapalhavam o trânsito. Começavam a surgir os Volks e os DKW. As pessoas se visitavam e conversavam, pois não havia TV. Nossos avós existiam e nossos pais eram moços...