Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Trânsito sensato
Em 1997, ao assumir Jandir Bellini, o trânsito em Itajaí era atrapalhado por mais de cem lombadas, na época preconizadas como a grande solução. A cada semana, recebíamos da Câmara de Vereadores mais de dez solicitações...
Então, em 1998, fomos Macagnan, Ênio Casemiro e eu a Cuiabá para sermos apresentados a um sistema de trânsito que lá tinha sido implantado. Embora o grande enfoque deste sistema fosse a instalação de pardais, lombadas eletrônicas, etc e tal, uma verdadeira teia de aranha à cata de infratores e de muitas multas, tal solução, pelo alto custo de instalação, não foi implantada.
Dentro de toda aquela parafernália tecnológica que nos foi apresentada, uma coisa chamava atenção: o sistema de monitoramento dos semáforos. Certos cruzamentos de grande movimento eram monitorados por computador, através de uma central. O fluxo de veículos era pesquisado para que, nas horas de pico, o sentido de maior trânsito tivesse o tempo de luz verde dilatado. O sentido de pouco ou nenhum movimento era monitorado para que o tempo de passagem fosse mais curto. Além disso, os diversos semáforos eram sincronizados para que o tal fluxo sempre fosse contínuo.
Nada mais que bom-senso. Para um trânsito ser bom, tem que fluir. Para fluir nada de parada de cem em cem metros para aguardar a abertura de sinal. Aliás, trânsito e urbanismo nada mais são do que a aplicação de muito bom senso, soluções práticas e quase sempre baratas. Jaime Lerner, grande nome do urbanismo brasileiro já dizia que um viaduto é a maneira mais cara de se transferir um engarrafamento de um lugar para outro...
Meses atrás fui a Blumenau com compromisso de hora marcada. Cheguei no início da rua Itajaí uns quinze minutos antes. Embora duvidasse que chegaria a tempo, o sincronismo dos semáforos deu-me três minutos de sobra. E pensar que do meu escritório na rua Uruguai até a secretaria de Educação na Barra do Rio, já levei 35 minutos!
Circular em Itajaí nos sábados de manhã é trágico! Além de todo o mundo procurando chegar ao centro, os tradicionais mercadores de filas de sinaleiros, pedindo ajuda, distribuindo folhetos , querendo nos convencer a colaborar com associações de portadores de AIDS a “mau olhado”, levam todo o mundo ao desespero. A indisciplina dos motoqueiros e das bicicletas que se acumulam em frente ao primeiro carro, retardam a partida após aberto o semáforo. As motos simplesmente “costuram” através dos carros tirando “finos” à busca de um espaço para avançar.
Lombadas, pelo amor de Deus, não! Meu falecido pai já dizia, com toda a sua sabedoria, que a qualidade de uma cidade poderia ser medida à razão inversa do número de lombadas em suas ruas. Em tempo: da entrada de Porto Belo à minha casa em Canto Grande, contei vinte e seis...
Trânsito bom é aquele que pouco precisa de guarda. Escoa tão bem que o policial está ali mais para orientar do que para punir. Aliás, o único que deveria ser punido é aquele que deseja atrapalhar. Punição pois, às sinaleiras que sempre estão fechadas e que nos fazem parar a cada cem metros!