Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Escolas: velhas e novas
Em 1953, comecei a estudar. Entre seis e sete anos a maioria de nós começava no primeiro ano primário direto. No Colégio São José, nossa sala de aula ficava no prédio mais antigo. Assoalho de tábuas largas, um cheiro forte de óleo que se passava no chão.
O primeiro caderno, o lápis bem apontado, mais tarde a caneta de pau, a pena de molhar no tinteiro. Após muita tinta derramada, muito mata-borrão utilizado, podíamos usar a caneta-tinteiro que vazava e manchava a camisa de fustão branco. Antes de descer para o recreio, todos cantávamos: “Primeiro eu tomo o lanche! Depois eu tomo água! Depois eu vou na casinha e depois eu vou brincar”!, o que determinava a ordem das atividades dali para adiante. O pão trazido na lancheira, a luta para se chegar ao único bebedouro e o esguicho que molhava a cara. E a dita “casinha?”. Era uma construção separada, antiga, com uns três boxes de vasos sanitários, sem tampa, sem papel e absolutamente imundos!
Quando mudei para o Ginásio Itajaí, mais tarde Salesiano, as condições de conforto eram as mesmas. Construção velha, extremamente simples, e os sanitários continuavam imundos e fedidos, lá nos fundos do terreno, junto a um pátio coberto onde se localizavam as mesas de ping-pong.
Em 1961, fui para o Internato para cursar o “científico” no colégio Catarinense, em Florianópolis. Um dos colégios mais caros do estado e as mesmas condições. Tínhamos aula em um prédio do tempo em que meu avô foi interno. Uma construção pequena, térrea, de novo com assoalho impregnado de óleo queimado que absorvia toda espécie de sujeira. No pátio, sob a figueira, a “casinha” com vasos-turcos, tudo sujíssimo e as paredes lambuzadas de c...!
No dormitório do terceiro andar, para cinquenta internos, um só vaso evidentemente sempre sujo, suprema concessão para que não precisássemos descer ao pátio durante a noite.
A arquitetura escolar antiga dava pouca importância ao conforto. Os sanitários em vista da precariedade dos aparelhos – vasos secos e caixa de descarga externa acionada por cordinha – sempre tinham mau-cheiro. Então, quanto mais longe melhor.
Não me lembro de ter visto bibliotecas nos colégios que estudei. No máximo, um punhado de livros em uma prateleira. Os laboratórios do Catarinense, sempre fechados. Os padres raramente promoviam aulas práticas. Muito pouco se pensava nas matérias do vestibular, a etapa seguinte de nossa vida escolar. Parecia que o objetivo era a formatura no secundário e só.
No entanto, ninguém reclamava. A disciplina das escolas nos obrigava a acatar o sistema sempre. Os professores, padres e freiras se esforçavam para nos moldar o caráter de uma maneira que, por tradição, era tida como o jeito certo de educar.
Hoje, arquiteto, faço muitos projetos para as novas escolas municipais. Que diferença! Salas de aula iluminadas e arejadas, equipadas com ventiladores de teto. Instalações sanitárias perfeitas, azulejos impecáveis, papel higiênico, toalhas e sabonete. Bibliotecas chamadas “Centros Tecnológicos” com livros e muitos computadores. Acesso à internet e grandes televisões para cursos em vídeo. Quadras de esportes e um corpo decente especializado. A merenda escolar preparada sob orientação técnica em cozinhas industriais impecáveis. Salas de especialistas para atendimento individual de pais e alunos.
E tem gente que reclama! Pior: tem gente que destrói! Sanitários, equipamentos, material didático! Arrebentam portas, pixam paredes. Quebram os itens de conforto que lhes são fornecidos de graça.
E a moderna pedagogia lhes dá o direito de reclamar, opiniar, participar!
Neste caso, me recuso a mencionar o velho chavão: “Antigamente é que era bom!” Não, não era. Hoje é muito melhor, o ensino está altamente evoluído. A democracia é praticada desde o pré-escolar.
A educação, essa que não é dada pela escola, mas em casa, pela família, é que está em baixa.