Histórias que eu conto
Por Homero Malburg -
Homero Bruno Malburg é arquiteto e urbanista
Anos cinquenta
Nós começamos a estudar no Colégio São José, em 1953. Primeiro ano primário, sem direito a jardim de infância ou “prézinho”. Direto da saia da mãe para a sala de aula. Caderno e lápis em vez da lousa e do giz, como se fazia até pouco tempo antes.
Na metade do ano, recebíamos autorização para escrever à tinta; sujeira pura. As canetas de madeira com penas de aço, molhadas no tinteiro borravam tudo, desde o caderno e a mesa, ao uniforme, não bastava folhas e mais folhas de papel “mata-borrão”. Isto quando não se virava o tinteiro, pois então a desgraça era completa. Depois de certo tempo, nossos pais nos compravam as canetas-tinteiro, que por não serem às vezes de boa qualidade, vazavam e sujavam todo o bolso da camisa.
Em 1954, as irmãzinhas resolveram não mais fazer o segundo ano misto. O Colégio afinal era só para meninas e fomos então para o Victor Meirelles, mas só por poucos dias. Elas, ante os pedidos, voltaram atrás e acabamos cursando o segundo ano também no São José. Nesta época surgiram as primeiras canetas esferográficas, de corpo de madeira pintado de amarelo e tinta de um vermelho carmim. Foram imediatamente proibidas porque “estragavam a letra”... Só os professores utilizavam nas correções.
Numa manhã de agosto saí de casa de manhã cedo para a aula. No caminho, colegas que voltavam do Colégio avisavam que não havia aula, pois o presidente Getúlio Vargas tinha morrido. Cheguei em casa e dei a notícia. Meus pais correram para o rádio, sintonizaram as estações do Rio para saberem o que tinha acontecido. O Repórter Esso ficou sendo escuta obrigatória, pois os jornais chegavam com um dia de atraso e as revistas com no mínimo uma semana.
No ano seguinte, 1955, não teve jeito: saímos do São José e fomos para o Ginásio Itajaí, do professor Cunha, para o terceiro ano. Lembro-me de que ansiávamos por usar o uniforme cáqui no ginásio, de corte militar. Nada feito: nós, pequenos, fomos dispensados de usá-lo. Dona Hilda e dona Zilda eram nossas professores; uma inovação: duas mestras para nos dar aulas!