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Crônicas da vida urbana

Por Crônicas da vida urbana -

A formiguização dos humanos


Uma famosa revista americana – e portanto, da direita trumpiana – recomenda, sem o menor pudor, que você esvazie sua casa:

- o que ninguém quer, jogue no lixo;

- se alguém quer, dê;

- se tem valor, venda.

Recomendação semelhante é feita aos livros: priorizar material virtual – que é apensa virtual, não existe – e alienar o livro físico.

Tenho lido em mais de um lugar essa preconização muito questionável do “desapego” – e fico me perguntando razões e possíveis consequências.

O primeiro problema é, sem dúvida, a possível falha na avaliação imediatista: o que a gente não quer agora, pode querer de volta daqui a pouco tempo. O que não parece importante hoje, talvez seja amanhã. O que hoje vale uns contos de réis, amanhã pode valer muito dinheiro. Minha experiência é com livros, mas evidente que pode ser estendida a outros tipos de objetos. As recomendações produzirão, a curto e médio prazo, efeitos bem pouco aceitáveis:

- concentração da cultura. Assim como o dinheiro da humanidade está concentrado numa quantidade ínfima de pessoas, o mesmo acontecerá com a cultura: passaremos a seres desmemoriados, robôs despersonalizados, apenas trabalhando para uma elite;

- a desapropriação do espaço urbano. Se é perceptível que cada vez se mora em lugares menores, consolida-se a tendência aos prédios atuais chineses, onde moram milhares de pessoas, com direito a espaços onde mal se consegue um deslocamento sem atropelar outro morador. E note-se que, se você tem um apartamento, você não tem chão: tua propriedade é uma coisa abstrata, jurídica e portanto manipulável pelo poder político e econômico.

A mim parece claro que “as coisas” – para muita gente, representando o incômodo do espaço ocupado, ou a necessidade de limpar – passarão, num futuro muito próximo, por uma concentração em alguns lugares, de acesso fácil ou não, mas sem propriedade de pessoa física.

E “coisa” aqui vai desde eletrodomésticos, inúteis quando obsoletos, até um quadro velho – que alguém preparado por descobrir que é de um autor muito valorizado. Quantas vezes isso já aconteceu?!

A sociedade humana será em breve mais uma do tipo dos insetos como formigas, cupins ou abelhas: milhões de seres vivem em função da reprodutora-mor, dita rainha por seus privilégios incomparáveis com os dos indivíduos.

Lembre do filme: para simplesmente ver uma maçã murcha, trancada num cofre, você passa por peripécias e aventuras desproporcionais.


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