Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Pandemia e fotografia
Pessoas confiáveis – inclusive dois cronistas aqui da cidade – assinalam que muita gente está usando a pandemia para colocar ordem nos documentos familiares, inclusive e principalmente, os arquivos fotográficos.
Embora meu acervo, que deve andar pelas 20 mil imagens – entre slides (isso já existiu!), negativos em B&P e coloridos, cópias fotográficas antigas e recentes, ampliações remanescentes de exposições – tenha sido mantido sempre organizado, sempre existe aquele chamado “arquivo geral”, que acumula os cliques mais heterogêneos e difíceis de classificar.
Carrego câmera fotográfica desde uns 10 anos de idade, quando meu pai ensinou a usar uma câmera francesa de fole – precária em vista das de hoje, mas que tinha o mérito de ser didática, a gente aprendia itens importantes na captação das imagens. Os usuários de celulares e câmeras digitais, onde tudo é automático – não é pra menos que atualmente “todo mundo se considera fotógrafo” – desconhecem o que seja abertura de diafragma, velocidade do obturador e até mesmo profundidade de campo. Dirão que, desde que a imagem captada seja boa, esses fatores não interessam – no que talvez estejam certos. Mas que a foto tradicional era melhor, isso era.
O mais ruim da fotografia digital é a virtualidade – ela não tem existência física, por mais que se arquive em HDs, memórias paralelas, pen-drives e nuvens. Um acidente magnético qualquer pode acabar com a memória visual do planeta em instantes.
Razão a mais para SEMPRE imprimir as fotos – e guardá-las com segurança e organizadamente. Claro que essas cópias, além de ocuparem espaço nas exíguas casas e apertamentos atuais, também estarão sujeitas a acidentes. O mais grave, é uma atitude antiga – remonta, ao que eu saiba, aos faraós do Egito. Eles mandavam apagar os hieróglifos que contavam as façanhas de seus antecessores – ou, pior, substituir seus nomes pelos próprios, além de mentir e exagerar despudoradamente nos feitos heroicos. Coisas de todos os tempos e de todos os lugares – alguém já pensou no que será a história contada e partir dos noticiários atuais, das declarações dos políticos e seus capangas?! Ou então as pessoas que, enraivecidas com familiares que lhes são antipáticos, jogam fora as imagens em que eles comparecem ou simplesmente os riscam e recortam?! Convenhamos ainda que os recursos digitais facilitam essa falsificação...
De qualquer modo, é um benefício que o vírus chinês está nos proporcionando. No futuro, se e quando ele chegar, haverá muitas referências a “organizado durante a pandemia de 2020”.