Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
O tempo voa...
Um cronista dos anos 60 escreveu:
- Eu ainda consigo subir uma escada de dois em dois degraus, correr pra pegar um ônibus, dormir tarde e no dia seguinte acordar cedo – mas por que eu não reparava nisso antes?!
Acho que ninguém deixa de se preocupar com a velocidade do nosso tempo atual, é comum escutar frases alusivas em acontecimentos padrão, como festas e aniversários: “já é Natal de novo?!”
Fico pensando cá com meus botões – há décadas ninguém mais fala assim – que sociedades menos urbanas, sentem menos essa velocidade: eles estão mais próximos daquelas situações – dá pra dizer primordiais – em que a passagem do tempo é transmitida pela natureza. Acho que nos tempos relacionados e dominados pela agricultura, o que havia de mais importante eram as épocas de plantio e colheita, com as comemorações devidas quando o trabalho estava feito.
Nós temos um pouco disso quando cuidamos das plantas do jardim ou de animais, eles nos mostram sua evolução, crescimento e, que pena, fim. Mas o que se fazia nos tempos antigos – por exemplo, observar o céu, a passagem dos astros e acontecimentos climáticos – está perdido, a não ser para as catástrofes de inundações e estiagens.
Convivemos fácil com nossos indicativos pessoais: a barba, o cabelo, as unhas – que nos fazem pensar que “eu fiz isso ontem, ou há poucos dias, e já tenho que repetir...” E o espelho do banheiro denuncia que, realmente, já fizemos essas coisas milhares de vezes ao longo da vida...
Criamos recursos para nos mantermos no domínio do tempo – relógios, agendas, calendários – mas, no mais das vezes, só servem para nos alarmar com “já é tarde”, “não dá tempo”, “já está no dia de mandar a crônica?!”, “barbaridade, já tenho que declarar IR de novo!”
O deus mais feroz criado pelas mitologias foi Cronos – que, num simbolismo revelador, tinha um apetite insaciável, devorava até os filhos. É fácil lembrar disso quando vemos fotografias de atrizes que foram um espanto de beleza em suas carreiras – e agora, mal poderiam fazer o papel da bruxa da Branca-de-neve...
Nessa mitologia moderna que são os gibis, os personagens não envelhecem, salvo exceção. São crianças para sempre, ao longo de décadas; heróis façanhudos – bem que a gente queria ver alguns envelhecerem e pedir aposentadoria; heroínas sedutoras – mas acho que faz parte, será que aceitaríamos ver essa “gente” envelhecer como nós? Digo, um super-herói com problema de reumatismo ou esquecimento, uma daquelas crianças prodígio chegando à adolescência e depois à maturidade?!