Por força do meu tema, estarei me referindo ao que poderíamos chamar de “riso urbano” – aquele do nosso convívio nas cidades e em circunstâncias normais, de interação, conversa, coloquialidade. Porque se for para enveredar em profundezas filosóficas, complica demais – veja-se a leitura de Rabelais por Bakhtin.
Intuitivamente, avaliamos uma reunião, um encontro, uma conversa – claro que sempre falando da vida urbana em circunstâncias normais - pelo “teor de riso”. Já estive próximo de uma reunião de japoneses – aqui mesmo, não lá... – que comiam caranguejos e riram do começo ao fim do encontro. Às vezes, uma única palavra provocava gargalhadas estrondosas. Em outro restaurante – “distante no tempo e no espaço”, diria o Fernando Pessoa – uma mesa dentro de um evento mundialmente famoso, em que todos pareciam emburrados, quase não se conversava. Ou o grupo levara uma invertida catastrófica, ou era de uma nacionalidade casmurra – como adivinhou nosso acompanhante. O que era uma avaliação generalizante da parte dele, mas nem por isso menos certeira.
Evidente, ninguém precisa me dizer: cada vez, temos menos motivos para rir. O Neoliberalismo tem fórmulas – principalmente injetadas via televisão, em “palestras”, filminhos, ditos – em que se ri por conivência, isto é, foi feito pra ser engraçado e aceitamos isso, para sermos sociáveis. Mas, pensando um pouco, percebemos que se trata de induções muito pouco risíveis: um palavrão dentro do assunto “sério” é dos mais comuns. Ou apenas uma referência tão gasta que essa é a graça: não ter graça nenhuma... Ou o gasto e velho histrionismo, a palhaçada.
Em grande parte, essa situação foi produzida pela banalização televisiva: a repetição do que, supostamente, todos viram na tela, em uma situação particular. Para quem tem aversão à tal tela, a ironia fica totalmente incompreensível.
Onde foi parar a graça?! Excluindo a resposta que se espera – a graça morreu... – ainda vejo duas possibilidades:
• aquela que vem de uma colocação-relâmpago e, em poucas palavras, abre a imaginação para outra perspectiva inesperada e cômica;
• a das pessoas – raríssimas, contam-se nos dedos, e não estão na TV – que têm o dom da narrativa. Como regra, não usam histrionismo nem outros recursos fáceis; simplesmente, contam causos que podem até ser comuns, mas foram filtrados por uma ironia hábil e inteligente.