Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Quarentena, Copa do Mundo...
Houve um período, no início dos anos 60, em que estavam na moda filmes “pós guerra nuclear”. Decorrência da então Guerra Fria entre o bloco americano e o recém emergido bloco soviético. Tudo orquestrado pelos a EUA, os russos não tinham como colocar sua produção cultural no mercado ocidental e mostrar seu ponto de vista. Mas como saíram na frente na corrida espacial, deram um susto – principalmente, com a brochada das tentativas americanas, que só passaram à frente com a chegada na lua.
Simultaneamente, as distribuidoras – americanas, é claro – inundavam os cinemas com filmes sobre a Segunda Guerra (na TV, foi típico o seriado “Combate”) – em que os heroicos soldados americanos salvavam o mundo da barbárie nazista. A proximidade temática era tendenciosa ao extremo: sem o Tio Sam e seu capitalismo desvairado, cairíamos nas garras dos comunistas. Sem que se soubesse, minimamente, que diabos era isso.
Paralelamente, a imprensa – liderada por publicações americanas traduzidas – fazia a cabeça das pessoas, usando o vácuo de revistas no ambiente brasileiro. O “American way of life” era a felicidade, a abundância e a liberdade; o “perigo vermelho” era a ameaça de pobreza, opressão e vida dura.
Mas voltando aos filmes, eram, na maioria em branco e preto – o que facilitava filmagem de cidades desertas, num cenário de fall-out, isto é, da radiação que acabaria com a humanidade depois de um conflito nuclear.
Só que as pessoas ficam em casa mais durante os jogos da Copa do Mundo que durante a pandemia: quem quiser, e puder, explique. Um passeio pela cidade durante os jogos revela um cenário que lembra o dos filmes citados: ninguém, nem a pé, nem de carro, nem de moto ou bicicleta. Só eu e minha birra anti-futebolística, mas em boa companhia: cães e aves...
Já me disseram que, se eu ficar nesse cenário mais que duas vezes 45 minutos, vou achar triste e sinistro. Duvido muito, triste e sinistro são as pessoas com sua falta de consciência social, desafiando um dos grandes flagelos do nosso tempo.
TEMOS que desenvolver outra sociabilidade, é sabido que eles – os vírus chineses – virão cada vez com maior frequência e mais letais. Em parte, isso já estava a caminho com a dependência – quase obrigatória – dos celulares e redes sociais. Mas os botecos, festas e baladas parecem vício, ninguém resiste.
É difícil ou impossível formular hipóteses do que vem por aí. Conforme dizia minha avó, “só quem viver verá”...