ITAJAÍ
Cães comunitários ficam no Centreventos até pintar adoção
Permanência de casal de cachorros criou polêmica entre vizinhos e prefeitura, mas acabou resolvida
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O casal de cães comunitários que vive ao lado do Centreventos de Itajaí não será mais despejado do local de eventos da cidade, ao menos até ganhar um lar definitivo. Reunião na tarde de quarta-feira entre o cuidador dos animais, Ricardo Collyer, o diretor do Instituto Itajaí Responsável (Inis), Mário Cesar Ângelo, e o secretário de Turismo, Evandro Neiva, selou um acordo para a permanência dos animais no pátio da Marejada até que alguém se disponha a adotar os dogs comunitários.
O entendimento encerra uma polêmica que ganhou as redes sociais e tinha virado um abaixo-assinado com cerca de 1000 assinaturas, quando o cuidador dos cães levou os animais para o quintal de seu escritório pra evitar que eles fossem levados para o canil municipal. A retirada dos cães do Centreventos teria sido um pedido do secretário de Turismo, mas os protetores alegaram que a medida seria ilegal por contrariar a lei de proteção aos animais comunitários.
O advogado Hugo Jordão Ulisses, representante de Ricardo Collyer, informou que todos chegaram a um consenso. “Os animais serão devolvidos ao local onde vivem há aproximadamente cinco anos. Todas as partes se comprometeram a realocar os animais, mediante adoção por terceiros, desde que em local com as mesmas dimensões daquele onde vivem hoje”, explicou.
O protetor dos animais, Ricardo Collyer, confirmou ao DIARINHO que está feliz com o desfecho. “Os animais têm amparo. Houve um ruído na comunicação. Vamos encontrar um lar definitivo pra eles. Enquanto isso, vamos ajudando e recolhendo os cães em dia de eventos. O secretário Neiva se mostrou um grande apoiador da causa animal”, disse.
O secretário Evandro Neiva também disse ao DIARINHO que está satisfeito com o acordo. Ele lembrou que os animais se estabeleceram no espaço, sem grandes problemas, durante a pandemia, quando a Marejada ficou suspensa por dois anos.
“Mas agora começa toda uma agenda de eventos e os cães realmente oferecem risco pra quem frequenta os eventos. Então, não é o local adequado”, explicou. O acordo prevê uma campanha de adoção dos cachorros. Até lá, o cuidador Ricardo ficará responsável por recolher o casal de dogs quando houver eventos no espaço da Marejada.
“Quando não tiver evento, ele [Ricardo] vai poder soltar os animais no acesso da lateral, sob a responsabilidade dele. A gente vai fazendo uma avaliação enquanto os animais não são adotados”, completou o secretário.
Se não houvesse o acordo, o caso poderia ser levado à justiça. Conforme entendimento dos vizinhos, os cães não poderiam ser levados para viver confinados no canil municipal. Ricardo entende que haveria risco de os animais adoecerem devido às condições do abrigo e por ficarem longe da comunidade. “São animais que estão acostumados à convivência livre. Sendo enjaulados numa área de dois metros quadrados não teriam qualidade de vida”, comentou Ricardo.
Polêmica teve recolhimento de cães, resgate e abaixo-assinado on line
Segundo o relato da vizinhança, os cães vivem no entorno do Centreventos há mais de cinco anos. Os vizinhos alegam que eles são bem tratados, dóceis e criaram relação afetiva com a vizinhança. Os animais já foram retirados da Marejada uma vez, em dezembro de 2021, sendo levados pelo Inis ao canil por solicitação da secretaria de Turismo.
Os dogs foram resgatados do abrigo na sexta-feira passada, após o advogado ter notificado extraoficialmente o Inis e a prefeitura pra devolução do casal de animais ao lar comunitário. Uma nova determinação de levar os animais para o canil pegou os cuidadores de surpresa nessa semana e acirrou a polêmica.
Pra evitar o recolhimento, Ricardo levou os cães para o quintal do escritório dele, em frente ao Centreventos. “Esse recolhimento é ilegal. O Inis não tem a capacidade de recolher animais que sejam considerados comunitários, que é o caso desses nossos amigos”, protestou em vídeo que foi postado nas redes sociais.
Contra a decisão da prefeitura, vizinhos lançaram um abaixo-assinado online pra reverter a situação. O manifesto somou mais de mil assinaturas e pedia que os cães pudessem voltar ao convívio comunitário no Centreventos.
O recolhimento feria o protocolo de Defesa Animal do Inis, que prevê o recolhimento das ruas apenas de animais vítimas de maus tratos, doentes, agressivos, com problemas de locomoção e fêmeas grávidas, com filhotes ou no cio.
Pela lei 6856/2018, os cães da Marejada se enquadrariam como comunitários, “aqueles que estabelecem com a comunidade em que vivem laços de dependência e de manutenção, ainda que não possuam responsável único e definido". “Eles não cabem no conceito de animais abandonados e não podem ser recolhidos ao canil”, analisou o advogado Hugo Jordão.