CRESCIMENTO
Bairros mais cobiçados sofreram mudança radical
“República de Cabeçudas” foi reconhecida assim na década de 50
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Quando o sol dá as caras, não há itajaiense, raiz ou de coração, que não pense em correr para a estrada de Cabeçudas, adornada pela mata atlântica de um lado e as águas cristalinas do outro, pra arejar a mente e o coração. Para chegar lá, o visitante passa antes pela Beira Rio, a avenida preferida dos amantes de caminhada, skate e dos pratos e petiscos servidos nos restaurantes e quiosques do Saco da Fazenda. Bairros históricos que passaram por sucessivos planos de urbanização para se ajustar às mudanças trazidas pela modernidade.
Foi o superintendente Marcos Konder (1915-1930) que abriu a estrada de Cabeçudas e deixou para a história uma das teorias sobre a origem do nome. Cabeçudas foi assim batizada “por causa do cabeço do morro onde se ergue um farol”. Cabeço é o cume arredondado do morro, avistado pelos navegantes ao chegar àquele que seria o primeiro balneário de Santa Catarina.
No livro “Itajahy – cantos, recantos e encantos – história das comunidades itajaienses”, Magru Floriano resgata os primórdios da praia que foi descoberta pelos imigrantes alemães no início do século 20. Em 1921 já circulava a primeira linha de “auto-ônibus” Cabeçudas-Centro. Em 1926 é aberto o primeiro restaurante (Mira-Mar) e, em 1928, o Hotel Cabeçudas.
Em 1927, Marcos Konder começa a colocar em prática um plano de edificação, arborização e saneamento do “Balneário de Cabeçudas”. Nos anos 50, quando foi aberto o Iate Clube, a partir do trapiche por onde chegaram os imigrantes alemães, a praia contava com veranistas ilustres, como o governador Irineu Bornhausen e figurões do Banco Inco, fazendo com que o balneário ganhasse o apelido de “República de Cabeçudas”.
De lá pra cá, o bairro passou por algumas intervenções, sem abandonar o charme de paraíso bucólico, em harmonia com o meio urbano. Nos anos 60, ganhou o Marambaia, um hotel de arquitetura modernista.
Passeios arborizados, com acessibilidade e ciclovia garantem a segurança de pedestres e ciclistas. E a urbanização do molhe, nos anos 2000, transformou a praia do Atalaia em visita obrigatória para admirar o vai e vem dos navios.
Fazenda já teve engenho de farinha de mandioca e plantações de café
O bairro Fazenda remonta aos tempos das sesmarias, grandes porções de terra que eram doadas pela Coroa Portuguesa para que o proprietário fizesse benfeitorias, tornando-as produtivas. Em 1793, a área pertencia ao tenente-coronel Alexandre José Azeredo Leão Coutinho, que transformou o local ermo com plantações de café, cana-de-açúcar, mandioca e frutas, usando de mão de obra escravizada, inclusive para fabricação de açúcar e farinha.
Em 1896, os herdeiros venderam a Eugênio Luiz Müller, o primeiro prefeito eleito de Itajaí, que não assumiu por causa da Revolução federalista. Em 1959, os herdeiros desmembraram o terreno e transformaram em loteamento. Anos antes, em 1931, Marcos Konder transferiu o cemitério, que era no centro, para o bairro. Em 1956, foi aberto o Clube Recreativo e Cultural Fazenda. No ano seguinte, é aberta a primeira escola municipal, a Gaspar da Costa Moraes.
Em 1962, o bairro foi escolhido para ser a sede do Corpo de Bombeiros. Na década seguinte, recebeu, na divisa com o centro, o campus da Univali, e, próximo ao rio, a pavimentação da avenida Ministro Victor Konder (Beira- Rio). O local tinha sido aterrado no governo do prefeito Lito Seára em 1957, mas só começou a ter a cara que tem hoje em 1979, na gestão Amylcar Gazaniga. Em convênio com a Petrobras, a avenida ganhou o Caminho de Sodegaura (cidade japonesa irmã de Itajaí) e a praça Genésio Miranda Lins, palco de eventos culturais e esportivos.
Nos anos 2000, a avenida foi remodelada para se tornar uma via gastronômica e ganhou pistas de caminhada que atraem centenas de moradores todas os dias. Nos últimos anos, a avenida se tornou ainda mais famosa com a abertura do Centreventos e a Marina Itajaí, qualificando os equipamentos de lazer e gerando emprego e renda para o município.
Ressacada é um bairro rico em fontes de águas mineral e mantém via de palmeiras centenária
A Ressacada recebeu este nome porque se trata de uma área baixa, sujeita a alagamento por causa das fontes de água mineral que descem da morraria de mata atlântica. O primeiro reservatório de água de Itajaí ficava ali, no Morro Arapongas.
O local pertencia à família Liberato, que depois vendeu a José Gall, comandante do barco a vapor Itajaí-Blumenau. Conta a história que foi ideia dele plantar uma extensa fila de palmeiras em frente à sua propriedade, em 1910, onde hoje é a rua José Siqueira, ao lado da avenida Contorno Sul.
Os primeiros loteamentos se chamavam Jardim das Mansões e Jardins das Palmeiras, e o bairro logo se transformou numa área residencial cobiçada, com mata preservada, que abriga o primeiro parque da cidade, criado em 1982. O espaço está sendo redefinido de acordo com estudos ambientais e deve contar com equipamentos de ecoturismo e educação ambiental.
Brava era reduto de surfistas e hippies
Mas se teve um bairro itajaiense que sofreu as transformações mais drásticas foi a Praia Brava, na divisa com Balneário Camboriú. Praia de mar grosso, era a preferida dos adeptos do surfe, e começou a mudar de configuração a partir dos anos 2000, quando ganhou o status de bairro. Hoje é destino turístico internacional e ganhou, além da orla urbanizada, restaurantes, hotéis, casas noturnas e residenciais de alto padrão, sem deixar de deslumbrar os amantes da natureza com seus costões de pedra e restinga preservada.