Somos diferentes, apesar de tudo que nos coloca no mesmo lugar. Nossas diferenças físicas, nossas combinações genéticas, resultam em sermos distintos. O corpo é a expressão desses contrastes. Gostamos de ser diferentes porque a discrepância nos dá individualidade. Ser diferente é bom! Cada um, cada um! Mas temos necessidades comuns: precisamos viver em grupos e falar uns com outros. Falar uns com os outros é ter que produzir um sistema comum de vida e comunicação. Até mesmo ficar isolado e mudo é uma maneira de expressão social.
Precisamos estar semelhantes para produzir diferenças entre nós. Não posso sem os outros e preciso estar com os outros para, comparativamente, me perceber. É o mundo social e político que nos fornece os ingredientes para sermos semelhantes, parecidos; e diferentes, discrepantes. Vivemos por comparações. O mundo ao meu redor me fornece parâmetros e conteúdos para eu poder me identificar, justamente porque se diferenciam de mim. Por isso é tão fácil pensar e viver o mundo por hierarquias, estruturas e dinâmicas, erros e acertos, autoridade e obediência, rotinas e casualidades, certo e errado. Os contrates nos formam e formam o mundo no qual vivemos.
Ao olharmos para o indivíduo assumimos um ponto de partida: cada um. Do indivíduo para o mundo, os sentidos das coisas se dão exatamente pela procura e descobertas de distinções, diferenças, separações, distâncias. Já na História todo o processo é invertido: é do conjunto para o indivíduo o sentido das coisas, do todo para o individual. Aqui procuramos o que nos une, nos faz coletivo, nos permite o conjunto. As formas de ver o mundo e as coisas se dão pela maneira segundo a qual a pergunta é elaborada. A pergunta que distribui os modelos pelos quais vamos pensar o mundo, e não as respostas – essas são resultados e não origem.
Uma pergunta bem-feita é a maneira mais fácil de obter boas respostas. Por isso, quando de orientação de trabalhos científicos, há tanto esforço para que a questão que orientará o trabalho a seguir seja rigorosamente pensada. Apressar-se na resposta é mutilar o pensamento. Da boa resposta se terá, como raiz, o fundamento de uma boa pergunta. Perguntar adequadamente é salutar, fundamental, essencial para bons passos.
As formas de se perceber o mundo nascem de boas perguntas. Ao acalento desse fato se exige a postura de reflexão frágil e inconclusiva, da postura coordenada entre desconhecimentos, da inebriante forma de se colocar como ignorante frente aos fatos, a despeito de tudo “que se sabe”. É a ignorância que protege o conhecimento e a sabedoria; modéstia perante a “verdade”. Para os que se apressam nas respostas, a probabilidade de erros e inquietações são maiores, e a postura de respondente não se equivale a condição de conhecedor. O especulador tem como extrato bancário, como contabilidade, respostas sem perguntas.
O conhecimento e boas condutas se fazem por boas perguntas. Perguntas antecedem a convivência elegante com a ignorância. A sabedoria, traçada pelos anos de repetições das coisas, só é permitida pela postura de decência e simplicidade. Para todos os casos, se colocar como amigo da ignorância permite a postura de se perceber o mundo antes pelas perguntas, e não pela correria das respostas. Perguntar enaltece e o erro é meu amigo!