Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Tempestade mais que perfeita!
No estudo da língua portuguesa deparamos, no capítulo da conjugação dos verbos, com o pretérito mais-que-perfeito do indicativo que é usado para indicar uma ação ocorrida antes de outra ação passada. Pode indicar também um acontecimento situado de forma incerta no passado, exemplo: jamais “trabalharam”.
Anotada a lição, usarei neste texto apenas a expressão - mais que perfeita – apenas para designar, não uma ação ocorrida antes de outra passada, até pelo contrário, para designar um movimento atual – uma tempestade mais que perfeita que assola os dias de toda a população deste país.
Assim, não bastasse a pandemia presidida pelo “coronavirus”, invadindo os organismos de milhares de brasilenses levando um número expressivo ao óbito, somos apoquentados por uma súcia de nativos completamente desprovidos de qualquer afeto pelos demais componentes do grupo nacional, ignorando os mais comezinhos princípios de governança e administração dos bens, direitos e interesses da população.
Disse apoquentados porque os nacionais se sentem moralmente atormentados pelas estripulias dos cidadãos instalados nas instituições governamentais, atuando e agindo com completo alheamento dos dispositivos constitucionais, ordenadores da ação e comportamento dos investidos nas funções de gerir e zelar pelos interesses da nação.
Veja-se: estabelece a Constituição: “Art. 2º - São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.
Tomando, aleatoriamente, algumas manchetes recentes: “Presidente não mostra exames; juíza dá novo prazo”, Bolsonaro aponta ‘crise institucional’: STF reage”; “Novo revés no Tribunal: Por unanimidade, o STF derrubou trechos da MP que restringia a Lei de Acesso à informação” (Estadão, 1º/5/20); “Toma lá, dá cá: Maia nega ‘obstrução’ ao país e diz que Bolsonaro tem direito de negociar com centrão”; “Ataque à imprensa mostra disposição autoritária e antidemocrática de Bolsonaro, dizem estudiosos”; “Em recado a Bolsonaro Toffoli diz que divergência não pode levar a ‘agressões ou ameaças ao STF”; “Deputados desidratam contrapartidas exigidas em troca de verba federal” (Folha SP, 06/5/20).
Salta aos olhos a pandemia que atingiu os poderes da União que de há muito vêm atuando em completo alheamento à disposição constitucional antes transcrita. Manchetes como as citadas, colhidas aleatoriamente como foi dito, se repetem diariamente na mídia que também se vê envolvida nas escaramuças político-governamentais.
Merece atenção o fato de que, em momento algum dos embates e divergências vislumbra-se qualquer alusão aos direitos e interesses do povo o qual, nessa briga do mar com o rochedo compara-se ao marisco, sofrendo a intensidade da arrebentação que alcança força excepcional, consequência da tempestade mais que perfeita resultante da conjugação da pandemia, mais ruptura política e crise econômica, ameaçando aniquilar os ocupantes desta “terra brasilis”.