Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Falsidade intelectual
A propósito do programa especial de Natal do Grupo Porta dos Fundos, exibido pela Netflix, o jurista Ives Gandra Martins publicou no jornal “O Estado de São Paulo”, sob o título “Liberdade de expressão ou de agressão?”, artigo onde afirma que “não se pode falar de ética num filme contra a grande maioria dos valores brasileiros”.
Classificando o programa como “brutal agressão aos valores de todos os cristãos na figura do fundador de sua religião”, registra que o mesmo foi considerado, por parte da imprensa e por magistrados de diversas instâncias, uma “manifestação enquadrável na liberdade de expressão que todas as pessoas num país democrático, como o Brasil, devem ter”.
Residiria aí o fundamento para a negativa ao pedido, formulado por instituições religiosas, igrejas evangélicas e comunidades católicas, no sentido de ver proibida a exibição acrescentando-se, para o indeferimento, a justificativa de que “a manifestação cultural não pode sofrer nenhuma restrição”.
Concordando inteiramente com o questionamento colocado pelo articulista de que “há sérias dúvidas se o filme conteria algo que se pudesse enquadrar na classificação de manifestação cultural”, julgo ser importante considerar o significado de “cultura” e a interpretação divulgada pela classe dita “intelectual” em nosso país.
O professor italiano Nicola Abbagnano, em seu Dizionario di Filosofia, encerra o verbete “cultura” concluindo: “A melhor definição do conceito de cultura pode ser considerada até hoje a de Kluckhonhn e Kelly: A cultura é um sistema historicamente derivado de projetos de vida explícitos e implícitos que tendem a ser partilhados por todos os membros de um grupo ou por aqueles especialmente designados”.
Diante de tal conceito já se pode concluir que o filme em questão não se inclui na classe das manifestações culturais, eis que não se constitui “um projeto de vida com tendência a um compartilhamento por todos os membros de um grupo” pois, segundo o IBGE, já em 2010, na população brasileira, estimada em 200 milhões de habitantes, apenas 15 milhões não acreditam em Deus e os restantes l85 milhões de habitantes, distribuídos entre católicos - a maioria, evangélicos, judeus, espíritas, umbandistas e outras religiões com participação maior ou menor, praticam a crença num Deus criador.
Assim, ao ridicularizar a figura do fundador do cristianismo, o grupo foi contra os valores da maioria dos brasileiros os quais, diga-se de passagem, praticam uma civilização eminentemente cristã.
Desta forma, “não há dúvida de que, do ponto de vista da noção acima exposta, a única forma verdadeira e própria de civilização é a do ocidente cristão, porque só juntos aos povos do ocidente cristão a religião e a arte e o “saber desinteressado” da ciência gozaram, salvo períodos relativamente breves, o maior favor” (Nicola Abbagnano).
Fora os falsos intelectuais.