“Quero agradecer à diretora de redação do DIARINHO, Samara Toth Vieira, pelo convite para escrever estas mais do que estabanadas linhas, um dia sim e outro também, nesse nosso DIARINHO de todos os dias. Na verdade, é o retorno a uma casa na qual trabalhei durante cinco anos e exerci diversas funções: na gráfica, entreguei jornais, escrevi matérias e onde o saudoso Dalmo Vieira me oportunizou escrever a coluna Toques & Retoques. Estou de volta!”
Com essa introdução, o colunista Júlio César Douetts Gouveia, o JC, anunciou, em 26 de julho de 2004, que voltava a escrever uma coluna diária de política. Com ele, trazia o chargista Miro Souza ...
Com essa introdução, o colunista Júlio César Douetts Gouveia, o JC, anunciou, em 26 de julho de 2004, que voltava a escrever uma coluna diária de política. Com ele, trazia o chargista Miro Souza para ilustrar as notas picantes. “Vem para somar…”, anunciou JC.
De lá para cá, são 20 anos ininterruptos trazendo os bastidores da política regional para os leitores do DIARINHO. JC teve outra passagem entre 1985 e 1990, ocupando várias funções dentro do jornal impresso. Nessas duas décadas de colunismo político, o nome da coluna mudou para Coluna do JC e, mais recentemente, para Jotacê.
Assim como a mudança de nome, vieram também as alterações no comportamento da população e na forma de acesso aos bastidores da política regional. Se há 20 anos os políticos aguardavam ansiosos a chegada do DIARINHO nas bancas ou em suas casas para saber “o que o JC estava aprontando”, com o avanço da internet, a coluna do Jotacê passou a ser publicada no mesmo dia no portal diarinho.net. Antes disso, pílulas, ou os famosos spoilers, são entregues aos internautas através do Blog do JC e do perfil do socadinho escriba nas redes sociais.
Com um estilo crítico e sempre antenado na política da região, JC foi ganhando espaço e conquistando amigos e inimigos. Se a crítica é positiva, o socadinho escriba cai na graça, e sua tradicional Choupana, na rua Carlos Seará, no Dom Bosco, ganha muitas visitas.
Se a coluna traz algo que a figura pública não gostou ou não gostaria de ler, o colunista vira inimigo. A inspiração para “disseminar a discórdia em prol da coletividade” veio do fundador do DIARINHO, o saudoso Dalmo Vieira. “O Dalmo é insubstituível, mas sempre foi uma inspiração…”, comentou.
Ruim de memória
Assumidamente uma pessoa ruim de memória, JC não cita um fato que lhe marcou nestes 20 anos de coluna. “Mas tem várias coisas que conseguimos sair na frente e dar em primeira mão. Já recebi ameaças, processos, todo tipo de coisa… O próprio pai da vereadora Anna Carolina fez um jornal, mandou diagramar e distribuir pelo WhatsApp para dizer que eu não tomava banho. A minha banca de revistas [atual Choupana], quando o Provesi era reitor, tinha muita informação da Univali, e passaram a falar que ela era ponto de encontro de mulheres casadas”, relembra.
“Outra vez, chegou um cara do PSDB de Itajaí, sentou lá na Choupana e contou que estavam dizendo que eu era gay. Eu respondi que tinha excelentes amigos que eram homossexuais e que não tinha problema algum. Não é isso que nos define. Eu ainda disse: é isso que vocês têm para falar de mim? Se estivessem falando que eu tivesse roubado, matado, agora dizer que eu sou gay ou não tomo banho é falta de argumento…”, revidou.
Gororoba do JC
A popularidade de JC nas duas décadas de circulação da coluna é tão grande que ele mantém há 16 anos a Gororoba do JC, um evento tradicional que neste ano acontecerá no dia 31 de agosto, reunindo adversários políticos em um único espaço, com pratos principais à base de muita fofoca de bastidores políticos e uma deliciosa feijoada.
“Esse evento que leva o meu nome não é meu há muito tempo. Lá acontece muita coisa, as pessoas conversam e sentam à mesa umas das outras. Todo mundo veste a mesma camiseta, senta na mesma mesa, come a mesma comida, usa garfo e faca; nunca ninguém se machucou. E, chegando à 16ª edição, eu sempre digo que é uma espécie de eleição para mim. No passado, a gente fez uma brincadeira, criamos um partido político, que é o PDTBC, que não tem nada a ver com o Bolsonaro. É o Partido Democrático da Disseminação da Discórdia para o Bem da Coletividade…”, conta.
Véspera de eleição
Mesmo com 20 anos de experiência em colunismo político, JC não arrisca palpitar quem será o prefeito eleito em outubro nos municípios de Itajaí e Balneário Camboriú. “Se eu soubesse, eu jogava na Mega Sena [risos]. Eu espero que ganhe o melhor e que as pessoas tenham consciência em quem vão votar. Para mim, a nova política nunca existiu. A política foi sempre a mesma: o certo e o errado. Se a gente tem maus políticos, é reflexo da nossa sociedade. Precisa ter muito investimento em educação e em mudança de comportamento para chegar a uma sociedade que preze muito mais pelo coletivo do que pelo individual”, opina.
E o segredo do sucesso?
O segredo de estar 20 anos na boca do povo, segundo JC, é fazer aquilo que gosta e se manter fiel às fontes. “Eu preservo as fontes e elas têm confiança no meu trabalho. E o engraçado é que falam que todo mundo escreve a minha coluna — e tem um fundo de verdade, porque as fontes ajudam a gente a escrever, estão perto dos fatos e me passam informações…”, reflete. JC também revela qual coluna ainda quer escrever. “A coluna que eu quero escrever é sempre a do dia seguinte, porque eu sempre acho que pode ser ainda melhor”, concluiu.