Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Vento terral ou “rapa-canela”: o frio em Itajaí
Os invernos de antes em Itajaí, quando ainda não eram conhecidas as denominadas “mudanças climáticas”, hoje tão faladas, faziam-se acompanhar quase sempre de um vento forte, frio e cortante.
Era o vento terral, assim chamado porque sopra da terra para o mar, e que o povo costumava chamar de “rapa-canela”.
O vento, como se sabe, é o ar em movimento e é responsável por uma série de fenômenos naturais, dentre eles, a formação de ondas no mar.
Os ventos, conforme sua intensidade, podem ser classificados em três tipos e quando sua velocidade oscila entre 19 e 35 quilômetros/hora, podem ser chamados de ventos moderados. É o caso do vento terral, que mesmo assim levanta forte poeira com muito detritos de areia, folhas, gravetos, etc.
Esse vento é o mais desejado por praticantes do surfe e o mais temido por pescadores e velejadores. Temido, porque em qualquer situação emergencial ou perda de controle, ele levará o pescador ou praticante da vela para o alto mar.
Já os surfistas o desejam, pois é responsável por segurar a crista das ondas do mar e pode originar alguns tubos e deixar lisa a parede das ondas. O terral garante que a onda não quebre de forma irregular e que tenha uma parede mais lisa e tubular.
Tão apreciado por quem pratica o surfe, que “Vento Terral” é o nome de uma grife de roupas, masculinas e femininas, para surfistas.
Mas, nas manhãs geladas dos invernos de antigamente, o velho e malvado vento terral não era desejado, principalmente, por trabalhadores e alunos que cedinho se dirigiam ao trabalho ou à escola.
Todos aqueles mais pobres, desprovidos de roupas mais quentes e protegidas, temiam as lufadas de ar enregelante que ele soprava nos rostos, nas mãos, nas pernas, em todo o corpo.
Quase ninguém tinha toucas, luvas, blusas de lã, casacos isolantes do frio. Alguma pelúcia ou um tecido de feltro era o que mais se usava para se fazer roupas de inverno, sem muita garantia de aquecimento adequado do corpo.
A rapaziada da escola, meninos e meninas, caminhando a pé, com seus uniformes escolares de calça curta ou saia pelo joelho, deixando as pernas desprotegidas, era quem mais sofria. Além do frio glacial, o vento terral levantava a areia fina das ruas de terra, açoitando sem piedade as canelas dos guris e das gurias tiritantes.
Daí lhe veio o apelido, com que alcunharam o temido e gélido vento: “rapa-canela”.