A maioria dos internos recebia apelido tão logo chegava. Alguns “pegavam”, outros não. Lembro-me de um que usava calças de elástico na cintura, sem cinto. Como elas eram grandes demais e para que não caíssem, ele abotoava o botão de abertura da calça no botão de baixo da camisa. Disto resultava uma imagem esquisitíssima. Como a Renner fazia propaganda na época de uma linha de vestuário chamada “British-Look”, pegou o apelido de “British” imediatamente. Assim havia o Fuinha, o Clocló, o Lageano, o Gambá, Lumumba, o Katanga, o Patinhas, o Pilão, o Paraná, o Múmia, o Faraó... Disso não se livraram nem os padres: o Cacareco, o Lobão, o Tijolinho, o Pomboca, o Penico, entre outros.
O grande programa das saídas no domingo eram os cinemas no centro da cidade. O cine São José com poltronas reclináveis e onde só se entrava de paletó; na rua paralela o cine Ritz e um terceiro que pela quantidade de pulgas quase não íamos, o cine Roxy. A primeira sessão era a uma e meia da tarde e dava tempo de assistir à segunda no outro cinema, às três e meia, antes do horário de voltar ao colégio. As paqueras com as meninas eram inevitáveis, mas o aluno interno não gozava de muito cartaz com nenhuma delas.
Havia uma ocasião que a Irmã Tereza do Colégio Sagrado Coração de Jesus trazia um grupo de internas para uma visita ao Colégio Catarinense. Era algo rápido, sob severa vigilância. Por nossa vez, nunca fomos convidados a retribuir a visita. Havia também uma certa frequência feminina às missas diárias das seis e meia e a missa dominical. Eram sempre as mesmas senhoras e moças que não nos causavam muito entusiasmo.
No dia de Santo Inácio de Loyola era rezada pelo Arcebispo Dom Joaquim Domingues de Oliveira, já velhinho, uma missa solene, toda cantada, que começava às sete e terminava às 10h. A compensação para nós era o almoço festivo com galinha e macarrão. O Rogério Cancellier, veterano de muitas missas solenes, sabia imitar com perfeição o sermão do “Quinca Beleza”, apelido do Arcebispo.
Em determinada data havia o famoso confronto de futebol no “campo grande”, Internato x Externato. Como o número de externos era bem maior, o time deles era superior e não me lembro de ter presenciado nenhuma vitória nossa.
Entre os externos, colegas de famílias tradicionais de Florianópolis, os Daux, Ferrari, Kotzias, Linhares e um deles mais novo, com uma boina azul que nunca tirava, pois tinha queda de cabelo, e que se chamava Esperidião Amin.
Em 1962, voltamos ao internato para cursar o segundo ano científico. Alguns dos colegas do primeiro ano não retornaram. A chegada de novos alunos internos nos transformou em veteranos, sabedores de todos os macetes e todas as dicas úteis que procurávamos transmitir aos mais amigos. Foi o ano em que todos tínhamos um rádio portátil, de estojo de couro, marca Hitachi ou Sharp. Eles, com seus fones de ouvido, nos colocavam em contato com o mundo exterior.
No final de 1962, terminou o Internato do Colégio Catarinense e com ele uma tradição de 57 anos. Embora ainda houvesse um semi-internato, a maioria de nós, mesmo cursando a terceira série do científico, optou por morar fora, nas pensões de estudantes. Lá experimentamos durante 1963 uma vida nova, sem horários rígidos, mas com obrigações de vivermos de mesada, procurar refeição mais barata e a responsabilidade de nos prepararmos para o vestibular.
"O grande programa das saídas no domingo eram os cinemas no centro da cidade. O cine São José com poltronas reclináveis e onde só se entrava de paletó...”