Matérias | Especial


722 mortes e quase 53 mil casos de covid na região

Atividades econômicas foram parcialmente paralisadas ano passado, elevando o número de desempregados e aumentando as incertezas para 2021

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]



Renata Rosa Especial DIARINHO

As manchetes de jornais no início de 2020 seguiam o roteiro habitual de verão: muita gente na praia, invasão de águas vivas e o Carnaval de rua socado de gente, principalmente no Navegay. Mas a ressaca veio forte, com a primeira notícia de pacientes infectados pelo coronavírus já em 28 de fevereiro. A covid-19,  infelizmente, foi a grande protagonista em 2020 e o DIARINHO faz hoje uma retrospectiva da crise de saúde pública a partir da nossa região.

Os primeiros infectados pelo coronavírus eram turistas recém-chegados da Itália, segundo país a fechar fronteiras, depois da China. Depois foram 15 passageiros de cruzeiros que aportaram em Balneário Camboriú. A partir daí, começa uma verdadeira montanha-russa, tanto para a população e governos para se adequarem ao “novo normal”, quanto aos profissionais de saúde sobrecarregados e a imprensa para dar conta de tanta informação.



O coronavírus só virou manchete no dia 16 de março, quando o governo do Estado baixou decreto para fechamento de comércio e transporte público na tentativa de brecar o contágio. Afinal, foi esta a medida adotada tanto na Europa quanto nos EUA, onde o vírus chegou primeiro. No dia 18 de março, foi anunciado o estado de emergência, o mais próximo que tivemos de um lockdown, apenas com serviços essenciais funcionando, como supermercados, farmácias, hospitais e segurança pública.

A prefeitura de Itajaí abriu cadastro para famílias pobres receberem cestas básicas e ficarem isentas da conta de água básica. Também afastou servidores do grupo de risco para fazer home office. Uma equipe foi formada para fazer o combate à disseminação do vírus e idosos foram vacinados em casa da gripe comum para minimizar os riscos de contrair o coronavírus.

A população, orientada pela OMS e o ministério da Saúde, adotou o uso de máscaras caseiras já que as profissionais estavam em falta, e denunciava empresas que não seguiam as regras de distanciamento e oferta de álcool em gel. Assim como pessoas que insistiam em seguir a vida como se um vírus mortal não estivesse circulando, fazendo festas e descumprindo as medidas de combate à pandemia. Os prefeitos de Balneário e Penha chegaram a botar barreiras físicas na entrada das cidades e os banhistas foram orientados a voltarem pra casa, sob aplausos da população.


Dia 26 de março os empresários começaram a reclamar, um dia após o pronunciamento em que presidente Bolsonaro chamou a pandemia de “gripezinha”. Bolsonaro criticou governadores e insistiu que apenas velhos e doentes morreriam, portanto, jovens podiam trabalhar e estudar. Ele contrariou o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que só aguentou no cargo até o dia 16 de abril.  Ele foi substituído por Nelson Teich, que também saiu por não concordar em impor tratamento com cloroquina por falta de evidência científica. A única evidência é que causava arritmia cardíaca. A adesão às medidas de prevenção caiu mês a mês, até chegar a beira do colapso em julho.

Se adequando a uma nova realidade

Santa Catarina registrou a primeira morte em 26 de março, quando tinha 150 casos. No dia 31 de dezembro, o Estado contabilizava mais de 5253 mortes e quase 500 mil casos, enquanto o país se aproximava das 200 mil vítimas, sem contar a subnotificação. Em julho, o país já registrava 40 mil casos a mais de mortes por síndrome respiratória aguda em comparação a 2019. Mas, em abril, medidas de prevenção se tornaram impopulares e a volta das atividades econômicas virou prioridade.

O governador Moisés começou a flexibilizar as restrições às vésperas da Páscoa. Até 7 de abril, só podia sair para comprar comida e remédio, caminhar e pescar sozinho. No dia 12, liberou comércio, hotéis, bares e restaurantes delivery. Com a propaganda presidencial do uso do remédio para malária, o descrédito com a quarentena piorou. O Estado catarinense, que tinha sido exemplar, conseguia manter só 49% dos catarinenses em casa. Balneário já tinha 61 profissionais de saúde infectados.

Para piorar, o auxílio emergencial, que seria de R$ 200 e só chegou a R$ 600 por pressão do Congresso Nacional, demorou a sair porque boa parte dos trabalhadores informais não tinham CPF e nem conta em banco. Muitos pedidos permaneceram em análise e a falta de comida na mesa fez com que os mais pobres voltassem ao batente antes do fim de abril.


Quem regularizou a situação ficou em filas gigantes em frente à CEF, que teve que abrir aos sábados para atender a demanda. Mais de 65 milhões receberam o auxílio, cujo valor caiu pela metade e acabou em dezembro, como se a pandemia tivesse passado. Depois de algum alívio entre setembro e outubro, os casos voltaram a crescer e atingir os mais jovens, que resistem a seguir as regras de distanciamento social e usar máscaras.

Em 18 de abril, Itapema liberou as academias. No dia 21, Balneário reabriu shoppings, centros comerciais e confeitarias. No dia 23, Navegantes reabriu os templos por pressão de líderes religiosos. Não à toa, um mês depois, a cidade registrava contágio 92% maior do que a média nacional. Abril fecha com o governo do Estado autorizando a indústria a operar com 100% da capacidade, além de liberar esportes coletivos. Já o INSS permaneceu fechado até 22 de maio.

Começa aí o escândalo dos respiradores comprados por R$ 33 milhões, que demoraram a chegar e quando chegaram, eram diferentes do modelo pedido. O secretário de Saúde teve bens bloqueados e o governador passou a ser investigado até culminar com o impeachment em novembro, que durou um mês. A vice teve uma trajetória errática, acusada de não condenar atos de apologia ao nazismo. Quando Moisés volta ao cargo, liberou as atividades econômicas completamente.

Jornalismo urgente


Na noite de 23 de julho, a jornalista Franciele Marcon fez uma live no Instagram do DIARINHO para alertar sobre a situação gravíssima que a região tinha chegado. No dia 19, o Estado chegou a registrar 58 mortes em  apenas 24 horas. Nos 11 municípios da Amfri, só havia cinco vagas de UTI e chegou a ter apenas uma no dia 25. Mesmo assim, dois dias depois, o governador autorizou a volta do Campeonato Catarinense de Futebol.

Como se não bastasse a pandemia, um inédito ciclone-bomba assolou a região no 1° de agosto, deixando um prejuízo de meio bilhão de reais e milhares sem casa e sem luz. Duas agências da CEF tiveram que ser fechadas porque a covid infectou geral. No dia 5, até a mulher do prefeito de Balneário, grávida de nove meses, foi infectada. No dia 10, MP e TCE questionaram o prefeito Volnei sobre a gastança com remédio ivermectina usado contra  piolho. Naquele dia, SC registrou 1500 casos.

No dia 12, quase 100 presos da Canhanduba testaram positivo e foram isolados. Andressa Haddad e Rosalie Knoll, que estavam à frente do combate a pandemia, pedem pra sair, às vésperas da distribuição do “kit covid”. No dia 13, missas são suspensas e restaurantes têm que fechar às 20h. A exemplo das Olimpíadas e Enem, a regata mundial Volvo Ocean Race é adiada.

Várias pessoas conhecidas da região morreram de covid, mesmo em hospitais de ponta como o Sírio Libanês, como o proprietário da panificadora Santa Catarina. A matriarca do restaurante Vovó Carola faleceu dois dias antes do seu genro. Assim como médicos, jornalistas, professores, donas de casa, pessoas de todas as idades e profissões. Itajaí alcançava a marca de 100 mortos por covid. A cidade vivia um luto coletivo que contrastava com festas clandestinas que rolavam na praias e até a bordo de lanchas e iates.

Hospital de campana e leitos exclusivos de UTI

Enquanto a situação se agravava, o prefeito de Itajaí fez de um tudo para mostrar serviço. A primeira medida foi pedir ao governador um  hospital de campana na cidade, como foi feito na Europa. Mas a contratação de uma entidade religiosa para tocar a empreitada foi barrada na justiça. Do governador Moisés veio a promessa de abrir 40 leitos de UTI na nova ala do hospital Marieta. Até chegaram 20 respiradores feitos pela WEG, mas a falta de profissionais de saúde na área de terapia intensiva também impediu o imediato funcionamento da ala. Nos meses mais graves da pandemia, os novos leitos foram abertos. Atualmente, o hospital opera com 70 leitos de UTI exclusivos para tratar covid.


Daí vieram os “tratamentos alternativos” para “melhorar a imunidade”. Primeiro foi a cânfora, que seria ingerida e distribuída em casa. A justiça barrou a iniciativa. Aí veio a fase do vermífugo, distribuído no Centreventos para atenuar a virulência da covid. Os promotores da ideia juravam que a África registrava menos casos porque o povo tomava remédio contra piolho. Agora que novas cepas do vírus foram descobertas na Nigéria e África do Sul, superlotando hospitais, a afirmativa ficou sem coro. O auge foi a sugestão de aplicação de ozônio retal, que virou piada nacional.

Em junho, Piçarras implementa toque de recolher, enquanto no Lar São Francisco de Paula, em Balneário, nove idosos e cinco funcionários foram infectados. Moisés já tinha deixado a cargo dos municípios adotarem os protocolos que quisessem (regionalização da quarentena). Bem nessa época que o governador foi flagrado numa fazenda, sem máscara, assistindo a um show numa festa junina. O parque Beto Carrero reabriu as portas na Penha, mas  inicialmente apenas para moradores dos três estados do sul.

Em 11 de junho, a taxa de ocupação das UTIs de Balneário chegava a 90%. No dia 15 de junho, saiu a notícia que as restrições voltariam mais duras. No mesmo dia, escolas particulares fizeram protesto para reabrir. Na edição do dia 21, o alerta: o contágio acelerou e ficou mais fatal. A taxa de letalidade em Itajaí chegava a ser o dobro da estadual. Adolescentes começam a falecer, contrariando o mito de que o coronavírus só mataria velhos e doentes.

No dia 26, quando o setor de eventos pediu para voltar, o Estado decidiu que as aulas presenciais só voltam em 2021 e cirurgias eletivas que precisam de anestesia geral estão suspensas. A demanda por testes é tamanha que planos de saúde tiveram que liberar testagem para assintomáticos. SC contabilizava 25 mil casos e 324 mortes.

Flexibilização e depois o abre e fecha

O alívio dos contágios rolou no fim de agosto, mas, no dia 7, as mortes bateram recorde: 71 vítimas em 24h, bem quando a USP apontou que uma pessoa que teve covid pode se infectar novamente. No dia 10, já eram 1500 mortes. No dia 20 de agosto, bares e restaurantes voltam a operar até às 23h, e o Hospital Marieta autoriza a presença da volta do acompanhante na hora do parto. Itajaí e Balneário também liberam cultos e quadras esportivas.

No dia 24 de agosto, a chefe de reportagem do DIARINHO volta a entrar ao vivo sobre a volta do transporte público municipal, mas tem um detalhe: nem Itajaí nem Balneário tinham mais empresas para tocar o serviço. Os contratos com a Expressul e Transpiedade não foram renovados e centenas de funcionários foram demitidos. A volta parcial do serviço ficou a cargo da Praiana, mas a Transpiedade retornou no final do mês depois de novo contrato emergencial.

Cinemas e esportes coletivos voltaram em 4 de outubro, assim como idosos na academia. Os feriadões encheram as praias e o prefeito de Balneário se animou em liberar o foguetório, além da retomada as aulas. Mas, em 29 de outubro, um balde de água fria: a taxa de contágio volta a aumentar, na contramão do país.  E a região da Amfri é a mais grave, inclusive com a morte de um bebê. Até no frango congelado foi encontrado coronavírus.

No dia 7 de novembro, aulas presenciais voltaram em algumas escolas particulares de Balneário. Em Itajaí, agências do Itaú foram fechadas por surto de covid no dia 10. No dia seguinte, desembargador fechou escolas a pedido do sindicato dos professores. No dia 15, MP proibiu o Réveillon, mas liberou carreatas e comício no último dia da campanha política.

No dia 19, Itajaí tinha 700 casos ativos. Com UTI pública lotada, o prefeito de Balneário teve que cancelar o réveillon e transferir pacientes. Na volta ao cargo, Moisés  autorizou aulas presenciais e horário estendido para compras de Natal. Em dezembro, Santa Catarina voltou a ter taxa de contágio alta e hospitais tão lotados quanto em julho.

O governo liberou 100% de ocupação nos hotéis na véspera do feriado de fim de ano. Já o MP deu prazo de 24h no último dia 20 para governador proibir eventos e voltar ao decreto que estipulava lotação de 30% em hotéis nas áreas de risco gravíssimo de contágio.  A decisão foi cassada pela justiça, que liberou 100% de ocupações em hotéis.

O ano de 2020 fechou com a região da Amfri registrando 53.180 casos positivos pra doença e 722 óbitos nas 11 cidades que compõem a região. Os curados são 47.942 pacientes.




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