Pingando nos Is
Por Pingando nos Is -
Bicho papão vai te pegar!
O escritor e ensaísta Luiz Felipe Pondé, doutor em Filosofia pela USP, publicou artigo na Folha de São Paulo sob o título “O desprezo pela sabedoria” e após indagar “Por que modernidade e sabedoria são palavras quase antagônicas?”, responde: “Porque a modernidade pressupõe a ruptura como estrutura de todo o processo”.
O escritor atraiu minha atenção não só pelo seu autor, declaradamente “de direita” e, portanto, uma das concessões do jornal à uma opinião diferente da sua linha doutrinária, talvez no intuito de vender uma imagem “isenta”.
Mas, também pelo tema abordado. Os “modernos” em nome dos avanços do progresso costumam desprezar a experiência dos “antigos” somente pelo fato de que estes, atropelados pela velocidade das “atualizações”, experimentam alguma dificuldade em processá-las à vista de suas experiências, adquiridas ao longo de anos e anos de vivência.
Os adoradores da inovação pensam que só o que é novo vale. Mas eles têm razão. A modernidade detesta o passado e o passado pouco agrega de valor aos lucros.
A experiência, suporte da ideia de sabedoria, está intimamente ligada a hábitos, costumes, tradições e, acima de tudo, a ausência de mudanças e falta de opções.
A permanência no tempo implica a baixa frequência de mudanças. Quando mudamos, questionamos muitos dos procedimentos e hábitos que outrora eram considerados óbvios. Os idolatras do progresso acham que isso se aplica unicamente a superação dos preconceitos.
A ideia de sabedoria abriga o pressuposto de que o passado detém alguma forma de conhecimento sedimentado pois se revelou válido ao longo de muito tempo. Exemplifica-se com a sabedoria das avós, passada de mãe para filha e neta que nada mais são do que experiências acumuladas e testadas no decurso de diferentes idades e eras.
Só para exemplificar, imagine-se um “modernista” perdido num deserto, sem celular, bússola ou qualquer equipamento de comunicação ou aplicativo de orientação.
Saberá orientar-se a respeito de sua localização, a não ser pela inclinação do sol (sombra), os pontos cardeais (nascer e pôr do sol), pelas estrelas enfim, por sabedoria adquirida pelos antigos que a acumularam ao longo de demoradas observações pessoais?
Por reconhecer a valia de tais experiências é que ao constatar o “rebuliço” causado pela lembrança do “AI5” é que me lembrei da figura do “Bicho Papão”, sempre evocada pelas mães quando de uma “peraltice” infantil.
Agora, a vista da infantilidade da convocação para “quebra-quebra”, greves e distúrbios nas cidades foi dito, ao invés do “Bicho Papão vai te pegar”, falou-se: “cuidado com o AI 5”.
Pelo que se sabe de história dos povos e nações, tudo está a indicar que a grande carência do Brasil é a falta de estatura moral, cultural, política e principalmente, amor à Pátria.