Comida saudável
Diferença de preço entre empórios naturais chega a 331,65%
A maior variação rolou na chia, que é vendida a preços que vão de R$ 19,90 a R$ 85,90
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Por Renata Rosa
Especial para o DIARINHO
A bastecer a dispensa com produtos que deixam a vida mais saudável pode estourar o orçamento doméstico se o consumidor não ficar ligado no valor médio praticado no mercado. Isso porque não há controle de preços como acontece com combustíveis ou itens da cesta básica.
A livre concorrência resulta em contrastes como verificado no preço da chia, considerado um superalimento porque sacia e não engorda.
A sementinha estava custando R$ 19,90 o quilo no Capim Limão e R$ 85,90 na Cia da Saúde, uma diferença de 331,65%!
O segundo produto em variação de preço foi o cacau (168,18%), que custa R$ 22 na Casa das Ervas, dentro do Mercado do Peixe, e R$ 59 na Cia da Saúde, anexa ao supermercado Giassi, na Fazenda.
Em terceiro lugar aparece o chá verde, que pode ser adquirido por R$ 45 o quilo no Capim Limão e R$ 96 na Casa das Ervas, diferença de 113,33%.
Outro item que apresentou variação acima de 100% foi o açúcar mascavo, que estava em promoção na Casa das Ervas por R$ 9,50, enquanto na Cia da Saúde é vendido por R$ 20 (110,52%).
Também apresentaram grande diferença de preço os seguintes itens: mix de castanhas (72,83%), folha de louro (68,04%), ameixa preta sem caroço (66,82%) e grão de bico (62,50%).
O empório que apresentou o maior número de itens com preços mais acessíveis foi o Capim Limão (16), seguido da Casa das Ervas (9).
A coleta de preço foi realizada entre os dias 25 e 27 de outubro. Foi pesquisado o menor valor de cada item da lista disponível no estabelecimento.
Dietas e veganismo fazem empórios terem cada vez mais destaque
Uma maior preocupação com a vida saudável e, consequentemente, com o que se come, motiva a abertura de cada vez mais empórios para atender a demanda.
Várias lojas foram abertas nos últimos anos, inclusive dentro de mercados, vendendo produtos integrais a granel para que se possa levar de tudo um pouco. Mas aquele valor em gramas pode esconder preços bem salgados.
Para ajudar o consumidor a fazer sua cesta básica natureba, o DIARINHO pesquisou 25 itens, entre farinhas, chás, temperos, especiarias, grãos e frutas secas, em três estabelecimentos de Itajaí: Casa das Ervas, Capim Limão e Cia da Saúde. (ver tabela)
O mercado de produtos naturais é filho direto da revolução cultural dos anos 60, quando os jovens foram às ruas protestar contra a guerra, exigir direitos civis e sonhar com um mundo mais fraterno, com respeito à natureza e ao próprio corpo, considerado um templo.
Nos anos 70, os hippies aderiram à macrobiótica, uma filosofia de vida inspirada no oriente, que enfatiza a importância do consumo de cereais integrais, legumes e leguminosas.
Na década seguinte, já era possível comer em restaurantes de comida natural e ingressar em grupos de proteção ao meio ambiente, como a pioneira Associação Itajaiense de Preservação Ambiental (Assipam).
A partir dos 2000, outro fenômeno veio bombar a tendência da alimentação saudável: a preocupação com o uso de agrotóxicos nas lavouras, que fomentou a produção e mercado de produtos orgânicos, e a partir de 2010, o crescimento de adeptos da dieta vegetariana e vegana.
Agora, além da preocupação com o corpo, a geração Z colocou em pauta o “especismo”, uma forma de discriminação a quem não é da mesma espécie, ou seja, eles abrem mão de se alimentar de animais e optam por uma dieta a base de vegetais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Vegetarianismo, 18% da população não come mais carne. Para não ficarem desnutridos, os adeptos precisam ingerir proteína de outras fontes, principalmente leguminosas, como grão de bico e feijão. E tomar suplementação de vitamina B12. O aumento da demanda por alimento sem carne também estimulou a produção industrial de alimentos similares, como o hamburguer de soja.
Outro fator que provocou a multiplicação de empórios foram dietas da moda, como sem glúten, em que é retirado o trigo e em substituição utiliza-se farinha de arroz e polvilho. E também quem aboliu os laticínios por ter intolerância à lactose, que tanto pode ser por fatores genéticos ou adquiridos. Aí a solução foi substituir por leites vegetais a base de cereais e oleaginosas. Há um outro grupo que precisou fazer reeducação alimentar e incorporar alimentos integrais para reduzir altas taxas de diabete ou pressão alta.
É de pequenino que se come pepino!
Apesar da alimentação natural ter se tornado mais popular, ainda dá trabalho fazer os pequenos experimentarem vegetais diante da quantidade de guloseimas disponíveis no mercado.
Pensando nisso, a nutricionista Rafaela Oechsler da Costa preparou um curso para que as crianças aprendam a comer direito de forma lúdica. “Primeiro elas precisam conhecer os alimentos, como são produzidos e o que fazem no corpo.
Depois todos põem a mão na massa para fazer a própria comida”, relata. Pais que estiverem interessados no curso podem encontrar a nutricionista no instagram @rafanutrifruti.
Rafaela também faz questão de derrubar mitos em relação à comida natural. Segundo ela, não é porque é integral ou natural que a comida vai promover o emagrecimento. “Depende da quantidade. Não adianta substituir doces por castanhas porque também são calóricas. A mesma coisa com pão integral. Não vale comer mais fatias do que o normal”, exemplifica.
Ela também explica que uma dieta for rica em fibras precisa de uma ingestão grande de água para não ter prisão de ventre. Isso porque as fibras absorvem a água e formam um gel que facilita a digestão.
A medida é de 30 a 40ml de água para kg de peso. A nutricionista, que perdeu o avô por complicações da diabete, explica que alimentos integrais reduzem a velocidade com que a glicose é absorvida no sangue. “Ele teve que amputar um pé e na segunda cirurgia, não resistiu. O problema da diabete é que afeta os vasos sanguíneos, dificulta a circulação e cicatrização, é uma doença grave que nem todos entendem”, lamenta.
Rafaela explica, porém, que não dá pra passar uma dieta igual para todos os diabéticos, até porque há casos mais graves, que precisam de insulina, e não podem ingerir glicose nem de fontes naturais, como mel. Aí a recomendação é por adoçantes culinários como o xilitol.
Outro problema é o sódio, presente em alimentos insuspeitos, como o leite UHT. A nutricionista faz um alerta em relação aos temperos prontos com nome de famosos, como Edu Guedes e Ana Maria Braga. E não vê muita vantagem no sal rosa do Himalaia, por ser de alto custo e irrelevante do ponto de vista nutricional. “Todo mundo um dia vai ter hipertensão. Ao longo dos anos nosso corpo é castigado por hábitos que sobrecarregam os órgãos, como fumo, álcool, sedentarismo, por isso é importante prevenir”, recomenda.