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Por que vamos pagar caro


Humberto de Alencar Castelo Branco tinha um projeto para o Brasil – tanto que uma das primeiras medidas de seu governo foi criar o FGTS, gigantesco reservatório de recursos que logo financiaria o “milagre brasileiro”. Enfrentou forte oposição da linha dura: oficiais treinados pelos americanos para repetir slogans anticomunistas e não pensar. Morreu em um desastre de avião mal explicado, pouco depois de deixar o cargo. O sucessor, Artur da Costa e Silva, chegou lá porque era o mais antigo. Governou em um período de forte agitação e muitas provocações – talvez entre elas o assassinato do estudante Edson Luís, que levou ao AI-5. Arrependeu-se, em seguida, e tentou, sem êxito, outorgar uma Constituição que devolvesse ao país alguma legalidade democrática. Insone e pressionado pela linha dura, enfartou. O terceiro governante, Emílio Garrastazu Médici, liberou a carnificina. A repressão atingiu intelectuais e pessoas da sociedade. O insano Brigadeiro Luís Paulo Burnier assassinou Anísio Teixeira, Rubem Paiva e Stuart Angel, entre outros. Os mortos eram cremados em fornos de queimar cerâmica. Generalizou-se a tortura com tal amplitude e crueldade que a reação no meio militar veio com a eleição de Ernesto Geisel: sua linha de atuação, próxima da de Castelo Branco, vinha acrescida de ideais nacionalistas do grupo do General Albuquerque Lima, preterido na sucessão de Costa e Silva. Geisel, além de levar adiante um projeto de soberania, avocou a si a repressão e logo proibiu torturas e assassinatos em repartições militares. Diante de mais dois crimes – os assassinatos de Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho – , demitiu o comandante do II Exército, Ednardo d’Ávila Mello, e o Ministro da Guerra, Sylvio Frota. Daí em diante, a linha dura passou a executar ações subversivas, sem ser oficialmente inculpada. É provável que tenha matado Juscelino Kubitschek (em um desastre encenado), João Goulart e Carlos Lacerda (simulando causas naturais), entre 1976 e 1977; jogou bombas e tentou uma grande operação de falsa bandeira, o fracassado atentado do Riocentro. Restabelecida a normalidade política, o certo teria sido apurar esses crimes e punir os culpados. Em lugar disso, aprovou-se ridícula anistia, que distribuiu a culpa por todos os militares – atualmente, 444.814 federais autorizados na ativa e mais 425.348 de polícias estaduais (fora os inativos), forçando-os a se solidarizar em defesa da instituição a que pertencem. O equívoco – irrecuperável erro estratégico – foi repetido pela Comissão da Verdade que igualou a responsabilidade política dos comandantes à culpa criminal dos executores. O resultado é que o ponto de vista militar deixou de ser levado em conta onde deveria. A agenda progressista tradicional, que associava soberania e luta de classes, deslocou-se para abrigar as propostas identitárias e ambientais geradas e financiadas no processo da globalização (justamente para combater a luta de classes), sem limite ou juízo crítico. Nosso povo mestiço foi ocultado: todos os que não parecem brancos passaram a ser “negros” e o Brasil importou, por esse meio, o racismo estilo norte-americano. Pior: inventaram para ele um passado de casa grande e senzala, logo saudado com entusiasmo pelos herdeiros de imigrantes fascistas do Sul do país. A tolerância (mesmo entre conservadores) de nossa tradição dissolveu-se em promoções de exibicionismo sexual e beijo gay na novela das nove. A toda ação corresponde reação igual e contrária, diz a Lei de Lavoisier. Daí, a linha dura, mais radical, odiosa, grosseira e servil ao imperialismo, está de volta, conduzida por cegos e empurrada por milhões de mensagens de WhatsApp. De qualquer forma, vamos todos pagar caro por isso.


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