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Cinco séculos de usura


No finzinho da Idade Média, quando os turcos cortaram a linha de comércio que abastecia a Europa dos melhores tecidos, artefatos e temperos. Espanha e Portugal, reinos católicos, partiram em busca de novas rotas no grande Oceano. Tinham como capital inicial os bens confiscados de árabes e judeus, que haviam expulsado por hereges.

Com os custos da aventura, o dinheiro logo acabou. Os reis passaram, então, a recorrer aos bancos – inicialmente holandeses (os Países Baixos eram província de Espanha) e, logo, ingleses – que não se fizeram de rogados, mas cobrariam caro.

A primeira grande fatura extrafinanceira veio quando a Invencível Armada hispano-lusitana foi desbaratada no Mar do Norte pelo pirata Francis Drake, em 1588. A Holanda ganhou independência 60 anos depois, pelo Tratado de Wesfalia, não sem antes promover a bolha especulativa inaugural das bolsas de valores: na paixão dos lances, vendiam-se casas para comprar tulipas.

Quando Portugal se separou da Espanha, em 1640, os banqueiros ingleses vieram de novo socorrer. Em 1703, mandaram a conta: o Tratado de Methuen obrigou os portugueses a comprar panos na Inglaterra e não se industrializar. A gastança lisboeta duraria até que todo o ouro das Minas Gerais estivesse nos cofres da city londrina – e o Brasil gritasse sua independência em 1822, já encalacrado.

Em troca, os ingleses beberam com exclusividade vinho português.

Depois de se livrar de Napoleão, imperador francês, derrotando-o em Waterloo, em 1815, a Inglaterra submeteu, na década de 1850, seu único credor: nas duas guerras mais imorais da História, impôs à China o tráfico de ópio.

A essa altura, tudo mudara na Europa: os produtos das colônias, baratos e de novas espécies (café, açúcar, milho, algodão etc.,) haviam destruído em dois séculos a economia feudal. Multidões acorreram às cidades. Mercado amplo, dinheiro farto, mão de obra disponível, conhecimentos recuperados da antiguidade e ampliados após o Renascimento permitiram a Revolução Industrial.

Com ela, o proletariado. A luta de classes, antes escondida nos feudos, apareceria com escândalo. Surtos de agitação social sucederam-se até 1871, quando a França foi derrotada em guerra pela Prússia e se desfez a comuna de Paris, que governava a cidade havia quase dois meses.

Os banqueiros já tinham, então, a fórmula mágica para acalmar as massas: a recessão. Sujeitas à asfixia econômica, as pessoas não se rebelam, deprimem-se: mastigam o medo e o ódio, que explodiria, afinal, nas guerras mundiais. Fugindo da desgraça, milhões de europeus emigraram; para convencer o mundo a aceitá-los de bom grado, investiu-se no mito da superioridade biológica e mental dos brancos.

O dinheiro extra acumulado na Era Vitoriana foi aplicado em excentricidades e luxo, mas também em ciência: firmaram-se então as bases da revolução tecnológica e cultural do século 20. Após a sangreira da Primeira Guerra , os bancos mudaram da city para Wall Street, em Nova York, aprimoraram-se as técnicas de controle da opinião pública, o mundo experimentou nova guerra quente, quase meio século de guerra fria e conquistas sociais, para retornar, enfim, a tempos tensos de depressão.

Agora, a recessão é imposta a ferro, fogo e propaganda à gente do Sul, aos periféricos. Cabe a nós, desta vez, inflar a riqueza dos bancos que nos exploram, pelo menos, desde a época do descobrimento.

O Primeiro Mundo que se vire, pois, com os imigrantes.


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