Em geral
Por Em geral -
O futuro depende dos banqueiros
A economia, como a geologia, funciona em ciclos que, mais ou menos, se repetem. Quando o ciclo das navegações despejou na Europa produtos novos e baratos, aí pelo Século XVII, enriqueceu os burgueses, desmantelou a economia agrária, liquidou os feudos e empurrou para as cidades multidões de trabalhadores. Dinheiro, mão de obra, mercado, conhecimentos de Física e Metalurgia acumulados durante o Renascimento ..., não deu outra coisa: veio um ciclo da industrialização, a Revolução Industrial. Durou até 1871, quando os banqueiros ingleses, liberados pela força militar e o vício do ópio da dívida chinesa, tomaram de vez o comando da economia europeia – ou a alavanca da máquina – e impuseram o regime que mais convêm a eles: juros altos, atividade contida, dinheiro caro. Entre 1870 e 1929, primeiro na City londrina, depois em Wall Street, os bancos reinaram. Foi um tempo de desemprego, revolta quase sempre contida, migrações gigantescas, disputa de poder entre nações, acumulação de riqueza e luxo. Montanhas de libras e dólares que valiam ouro destruíram e reformaram cidades; estimularam as artes, os espetáculos e as excentricidades; promoveram intenso desenvolvimento da ciência. As vacinas e a assepsia; a topologia, a teoria do átomo e das radiações portadoras de energia; o cinema, o rádio e a televisão; a iluminação e os motores elétricos e a combustão interna; os automóveis e aviões; o vaso sanitário, a pasteurização e os frigoríficos, as bases da petroquímica; as pesquisas do inconsciente, do imaginário e dos símbolos; a relatividade, a incerteza e, afinal, a incompletude; a neurofisiologia dos reflexos, sua projeção na psicologia humana, a pragmática dos discursos e seu uso no controle de massas e multidões: tudo isso é criação daquele tempo, mas só chegaria aos homens em geral, na forma de produtos, quando a indústria voltou a se libertar do jugo das finanças. Isso aconteceu na década de 1930, no embalo de três grandes estatismos, o soviético, o do nazifascismo e o do New Deal americano. Com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, repetiu-se a superoferta de mão de obra e o volume de bens produzidos multiplicou-se rapidamente – até recomeçarem os problemas sociais, os impasses políticos e a pressão sobre matérias-primas que culimariam com a volta dos bancos ao poder, fechando a porta dos cofres onde o dinheiro, que não vale nem seu peso em papel, acumula-se ao infinito. É aí que nós estamos. Como aquelas multidões errantes, enfezadas e impotentes de há cem anos, vemos prosperar os bilionários, rimos da presunção deles, babamos assistindo a sua coreografia de poder e festas suntuárias. Não há exatamente uma explosão das artes, como na era vitoriana – sinfonias, óperas, ideias revolucionárias no palco e nas telas – mas, em que pese o mau gosto, a ciência avança. Geralmente, temos informação dela pelas novas máquinas de guerra, protótipos e relatos que parecem ficção. Quando se liberarem as forças produtivas em novo ciclo – há forte pressão para que isso não aconteça --, presumimos que o mundo será radicalmente transformado. Deixaremos, talvez, o trabalho para máquinas pensantes, viajaremos em naves hipersônicas, teremos computadores quânticos e colônias extraterrestres, experimentaremos prazeres e vícios imprevisíveis, a sociedade mudará radicalmente. Só podemos imaginar como será. Mas, como afiança a experiência histórica (estão aí as criações dos que, já um século, se arriscavam a prever o futuro), a realidade superará nossa imaginação.