Os parlamentares, no último dia 4 de março, por unanimidade, liberaram R$ 100 mil para a nova edição da Festa do Pescador Evangélico do Gravatá, tradição religiosa local que inicia nesta terça-feira e segue até o dia 25 de março. O valor é 100% maior do que o recurso liberado em 2022, ano da última edição da festa, que contou com R$ 49.800 da prefeitura, também aprovado no legislativo.
O parecer contrário à liberação do recurso foi assinado no dia 23 de fevereiro deste ano por Gleycellen Jussiani de Freitas da Silva, advogada do poder legislativo. Ela recomenda a rejeição da transferência dos R$ 100 mil proposta pelo projeto vindo da prefeitura de Penha.
O dinheiro vai para a Associação dos Pescadores Evangélicos do Gravatá (Apeg) para subsidiar o custo da festa. De acordo com o parecer jurídico, a mensagem explicativa do projeto detalha que a festividade é aberta à população e é um “evento cultural” que reúne os pescadores de Penha, divulgando “a cultura local, a gastronomia, pesca e a história dos pescadores locais”.
Na análise jurídica, a advogada Gleycellen observa que o projeto está correto em sua competência, que é do município, já que as subvenções e liberações de recursos são atribuições do prefeito Aquiles da Costa (MDB). O parecer também considera que a entidade beneficiada não tem finalidade lucrativa.
O parecer, entretanto, pontua pela rejeição pelo fato de 2024 ser ano eleitoral e, baseado na Lei Federal nº 9504/1997, são proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, condutas que podem afetar a igualdade de oportunidade entre candidatos ou, ainda, a “distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo poder público”.
O mesmo parecer aponta que em 2022 a Festa do Pescador foi promovida com subvenção da prefeitura, porém com valor muito mais baixo – R$ 49.800. “Salta aos olhos o valor do repasse, o dobro do que foi pago e liberado em 2022”, reforça a advogada que, entretanto, também admite que o parecer é um “ato de opinião técnica-jurídica” e não “um ato administrativo”.
O presidente da Apeg, Israel da Silva, questionado pelo DIARINHO sobre o motivo do aumento do valor de custeio, relatou que essa cobrança também foi feita pelos vereadores, entre eles Luiz Fernando Vailatti (Podemos), quando ele foi à câmara justificar o pedido do recurso.
“Em 2022, ainda tivemos que manter o distanciamento devido à pandemia, e então a festa teve 50% do público, ou seja, nossa estrutura foi menor. Em 2023 não tivemos a festa, mas os custos subiram porque agora o evento é maior, então orçamos novamente’, detalhou.
“Tem interesse público”, diz Júnior Leite
O presidente da câmara de Penha, Júnior Leite (Cidadania), alegou ao DIARINHO que o parecer tem caráter consultivo. “Após a análise do parecer, cabe aos vereadores a decisão final, com base em seu julgamento e no interesse público”, opinou.
Júnior lembrou que o repasse financeiro à Apeg acontece desde 2013, quando a associação conseguiu o título de utilidade pública. Os valores partiram de R$ 30 mil, em 2013, e em 2019 estavam em R$ 100 mil. O presidente alega que o valor definido em 2022 provavelmente levou em consideração o retorno do evento e eventuais disponibilidades orçamentárias do pós-covid 19; em 2023, embora não tenha havido repasse financeiro, a prefeitura já havia destinado serviços de tendas e outros pertinentes à promoção da festa. A prefeitura de Penha, procurada pelo DIARINHO, não se manifestou sobre o assunto.