Júlio começa a cursar jornalismo após atuar na imprensa por mais de 20 anos
Colunista político do DIARINHO estreou como calouro aos 57 anos
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
JC está em busca de evolução tecnológica, mas sem abandonar a paixão pelo analógico (Foto: Renata Rosa)
Diálogos de Platão foi um dos primeiros livros que fez Rômulo se interessar pela área
(Foto: Renata Rosa)
O estudo da bíblia dentro da igreja evangélica o levou a buscar mais conhecimento (Foto: Renata Rosa)
JC está em busca de evolução tecnológica, mas sem abandonar a paixão pelo analógico (Foto: Renata Rosa)
Margareth fez da atualização permanente sua meta de vida (Foto: Renata Rosa)
Texto e fotos – Renata Rosa
“Eu não sei onde eu estava com a cabeça”, confessou o colunista Júlio César Douetts, de 57 anos, o JC, ao descrever sua primeira semana de aula na faculdade de jornalismo da Univali. O único “coroa” em meio à turma de adolescentes se sentiu um peixe fora d’água quando viu os colegas entenderem rapidamente as funções de uma câmera profissional, sem sequer usar caderno. “Eu nem gosto de notebook, quanto mais anotar no celular”, comentou dando risada.
“Eu não sei onde eu estava com a cabeça”, confessou o colunista Júlio César Douetts, de 57 anos, o JC, ao descrever sua primeira semana de aula na faculdade de jornalismo da Univali. O único “coroa” em meio à turma de adolescentes se sentiu um peixe fora d’água quando viu os colegas entenderem rapidamente as funções de uma câmera profissional, sem sequer usar caderno. “Eu nem gosto de notebook, quanto mais anotar no celular”, comentou dando risada.
O choque geracional não parou por aí. Na aula de fotografia, ele começou a entender o que diferencia uma foto de turista de uma jornalística, sem falar em todos os elementos que compõem uma imagem para passar a informação correta para o público. “Comecei a entender que não era só mirar e apertar o botão. São tantos detalhes que me deixaram maravilhado, mas também inseguro, afinal, são muitos anos fazendo as coisas do mesmo jeito”, alega.
E não é pra menos. JC teve o primeiro contato com o jornalismo nos anos 80, nos primórdios do DIARINHO, na casa do saudoso Dalmo Vieira, no Morro da Cruz. Ele colava as letrinhas da manchete, trabalhava na gráfica e ainda vendia. Anos depois colocou uma banca na frente de casa e chegou a vender 100 jornais por dia, como DIARINHO, Diário Catarinense, A Notícia e Folha de São Paulo. “Vivi o auge do jornalismo impresso”, comenta.
Atuando como colunista na imprensa local desde os anos 90, JC começou a sentir a necessidade de se aprimorar porque cansou de ouvir comentários do tipo “...mas você é jornalista?”. “Como eu defendo o diploma e me ofereceram bolsa, não dava mais para adiar”, afirma. Em 2018, ele chegou a ter um canal no youtube, o “Desembucha JC”, mas o projeto não foi em frente. “Eu não me sentia à vontade falando para a câmera”, confessa.
Além de enfrentar a insegurança para absorver a demanda de informação que recebe toda noite na faculdade, JC também teve que ajustar a rotina para não atrasar a coluna diária para o DIARINHO. E encarar o temido check-up na saúde, que tanto protelou, segundo ele, por puro desleixo. “Durante a aula percebi que preciso melhorar a audição de um dos ouvidos e a vista que não é mais a mesma. Pelo menos eu vou à pé para a Univali para não ser tão sedentário”, justifica.
Gororoba do JC chega à 16ª edição este ano
A trajetória de JC não passou despercebida pelos professores de jornalismo. Muitos só o conheciam de ouvir falar ou ler sua coluna, que atualiza a pexeirada sobre as últimas tretas políticas da região e coloca o dedo na ferida a despeito da preferência do eleitorado. “Sempre recebi críticas dos citados na coluna, mas de uns anos pra cá houve um acirramento, principalmente na internet, que ainda é terra de ninguém. Nem por isso deixei de criticar o acampamento em frente à Capitania dos Portos pedindo intervenção militar”, destaca.
Mesmo em tempos de Fla x Flu político, o colunista se orgulha de fazer o evento “Gororoba do JC”, que une, no mesmo espaço, personalidades da direita e da esquerda no mês de agosto ou setembro, antes das eleições, de forma amigável e pacífica. “Aqui todos usam a mesma camiseta, talheres, sentam na mesma mesa e nunca ninguém se machucou. Até porque o teu adversário atual pode ser o teu parceiro no futuro”, alfineta.
Margareth começou a segunda graduação aos 64 anos e não quer parar por aí
Sua intenção é se especializar na nova profissão de fonoaudióloga para atender idosos
Depois de uma vida dedicada ao magistério, Margareth Poli Pereira, de 66 anos, pensou que estaria na hora de descansar, viajar e aproveitar a vida. Ela estava de mudança de São José dos Pinhais (PR) para Itajaí após a morte da mãe, que passou a cuidar junto com a irmã.
Mas a resolução não durou muito. “Eu detestei a vida de aposentada. Minha vontade é de morrer servindo à sociedade e eu me encontrei no curso de fonoaudiologia. Se todos soubessem como é importante cuidar da voz, é como academia, todos deveriam fazer”, compara.
Uma das descobertas que fez ao longo do curso foi no estágio da clínica “Amigos da Univali” que atende pessoas transgêneras. “Através de exercícios faciais e orais é possível adequar a voz ao gênero com o qual se identificam. Muitas vezes nem a família apoia, mas elas enfrentam o desafio de forma corajosa, foi uma experiência enriquecedora”, relata.
Margareth nasceu em Itajaí e aos oito anos se mudou para o Paraná por conta do trabalho do pai. Aos 19 anos se casou, mas não abandonou a ideia de ter uma carreira profissional. Aos 20 foi fazer Administração por influência do marido, que seguiu na profissão. Já ela se decepcionou e fez um curso para dar aula para crianças, já que tinha feito o ensino médio “normal” de iniciação ao magistério. “Meu sonho era fazer Letras, mas sempre que tinha um filho, parava de trabalhar. Só tive a oportunidade de cursar o ensino superior aos 40”, conta.
Cinco anos depois, Margareth encarou o mestrado em Comunicação e Linguagem para, finalmente, dar aula na universidade, aos 50 anos, atividade que durou 12 anos. “Como a língua portuguesa é bem abrangente, dei aula para os cursos de Pedagogia, Letras, Direito, foram anos bem intensos”, revela. Neste período, ela fez duas pós-graduações e aos 55 se aposentou, sem parar de trabalhar. Só saiu mesmo quando a mãe adoeceu.
Itajaiense quer se especializar em gerontologia
Durante a convalescência da mãe, Margareth vinha toda semana a Itajaí e começou a pesquisar cursos para adquirir novas habilidades. A opção pela fonoaudiologia surgiu quando percebeu, nela mesma, o processo de envelhecimento da voz, e tinha vontade de aprender como ajudar idosos a terem qualidade de vida. “Muita gente acha que por ser idoso não precisa fazer mais nada, mas há muito por descobrir e viver. A vida é uma só”, afirma.
Após o falecimento da mãe, ela passou a morar no apê da matriarca, que teve 10 filhos. Os irmãos só fizeram uma exigência: proporcionar todas as terças um almoço para que todos pudessem se encontrar. Então ela e a irmã, com a ajuda de uma cozinheira, fazem um rango para o batalhão no apartamento de frente para o molhe. “Eu amo a natureza. Meu sonho foi sempre abrir a janela e ver o mar. Estou vivendo o melhor momento da vida”, comemora.
Rômulo foi das exatas às humanas
Depois de anos como autodidata, o engenheiro começou a faculdade de filosofia aos 57 anos
Quando completou 10 anos de casado, Rômulo Costa Rosa, de 60 anos, vivia para o aperfeiçoamento técnico na área da engenharia. No final dos anos 90 e limiar do milênio, fez pós e um MBA em gestão de negócios pela FGV, patrocinado pela empresa em que atuou por toda a vida: a Telesc, que virou Brasil Telecom, e depois a Oi. Mas quando ele menos esperava veio a separação e sua cabeça deu um nó tão grande que passou a questionar tudo que acreditava. A partir daí, despertou a necessidade em adquirir conhecimento, primeiro como autodidata e agora cursando a faculdade de filosofia EAD, pela Uninter do Paraná.
“Eu sempre fui um católico fervoroso. Quando me separei, comecei a me perguntar o que tinha feito de errado e se aquilo era algum tipo de castigo”, revela. Na ânsia por respostas, ele começou a ler livros de várias religiões: budismo, hinduísmo, islamismo, confucionismo, espiritismo. A leitura autodidata o levou às grandes questões da existência e do próprio funcionamento do universo. Mas ele sentia que precisava organizar a leitura.
“Eu estava atirando a esmo, lendo por prazer, mas sem organizar o pensamento, seguir uma metodologia, por isso pensei em cursar filosofia”, explica. A oportunidade surgiu quando, após a aposentadoria, ele veio para Floripa, depois de 10 anos no Rio de Janeiro. A filha tinha passado para a faculdade de Design na UFSC e a atual esposa passou a trabalhar em home office.
“Depois de anos estressantes no mundo corporativo, que me adoeceu, quis mudar de estilo de vida, fazer caminhadas, mas as tardes estavam ociosas e eu estava incomodado com aquilo. Estudar à distância foi a forma que encontrei para encaixar o estudo na nova rotina”, conta.
Apesar da conveniência de assistir às aulas on-line, Rômulo confessa que sente falta do ambiente presencial e da mediação do professor. “Existem os fóruns, mas por causa da diferença de idade fico constrangido de interagir com receio que me achem conservador”.
A mudança do mundo dos negócios para o ambiente acadêmico também abriu os horizontes do engenheiro, acostumado a lidar com números, planilhas e gestão. Estudando filosofia, ele descobriu que não existem verdades absolutas e que o pensamento foi construído no contexto de cada época, ainda que muitos autores sejam relevantes para analisar os fenômenos socioculturais até hoje. “Marx, por exemplo, estudou as relações de trabalho durante a revolução industrial, quando as pessoas trabalhavam 14 horas por dia. ‘O Capital’ é a melhor obra de economia que existe, ainda que critique o capitalismo”, exemplificou.
E como está chegando a hora do estágio, Rômulo optou por pesquisar, com base na fenomenologia, sobre a desinformação que inunda as redes sociais com crenças pré-concebidas ou até inventadas, que levou à polarização política. “Minha ideia é estudar a dinâmica dos grupos de família na internet, como pessoas de tendências diferentes interagem e a criação de mundos alternativos”. Você vai ter bastante material, Rômulo!
Ajudar as pessoas a superar dores emocionaislevou Maildo a estudar psicologia aos 57 ano
A vida de Maildo Ferreira, de 60 anos, sempre foi de muita luta e superação. Aos 14 anos, ele teve que abandonar a escola em Blumenau para trabalhar e ajudar no sustento da família. A exemplo do pai torneiro-mecânico, aprendeu a fabricar peças de aço no Senai e atuou na área até 1988, quando o Brasil enfrentou um período de escassez de matéria-prima, levando a uma grande crise econômica e desemprego em massa. Foi aí que conseguiu vaga numa transportadora e conheceu Sandra, companheira de vida e parceira nos estudos há 32 anos.
Em busca de qualidade de vida e estabilidade, Maildo fez concurso e trabalhou como servidor público na prefeitura de Blumenau por 20 anos, mas nunca abandonou o sonho de cursar uma faculdade, principalmente depois que se converteu à igreja evangélica e passou a se dedicar ao estudo da bíblia. Primeiro ele encarou a faculdade de pedagogia em 2018, quando tinha 55 anos, para atuar na rede pública de ensino, assim como a esposa. E em 2021 deu mais um passo na formação acadêmica ao ingressar na faculdade de psicologia da Univali.
“Graças ao transporte gratuito para estudantes aqui em Penha e aos descontos por cursar a segunda graduação, pude dar continuidade aos estudos. Minha motivação era entender como as pessoas pensam e por que agem como agem”, explica. Maildo conta que seu trabalho de pesquisa é sobre o suicídio, fenômeno que tem atingido pessoas cada vez mais jovens. “Quero entender o que leva uma pessoa a se machucar, as origens deste comportamento que tira o desejo de viver. E ajudar a aliviar o sofrimento psíquico e emocional”, complementa.
A curiosidade sobre o funcionamento da mente humana surgiu quando começou a trabalhar com crianças especiais e com dificuldade de aprendizagem agravada por dois anos de pandemia e as precárias aulas on-line. Sua esposa também está se especializando em psicopedagogia e dá aulas de reforço a crianças de baixa renda na própria casa.
Maildo pôde cursar o ensino superior depois que se aposentou e se mudou para Penha, em 2015, para ajudar a cuidar da mãe que faleceu aos 80 anos – ela trabalhava como merendeira, mas sempre sonhou em ser professora. Agora é a vez do pai, de 86, que precisa de atenção especial. “Meu pai disse que agora é a melhor fase de sua vida, mas porque ele não conheceu outra vida que não fosse a roça e a metalurgia. A educação abre portas e me deu a chance de estender a mão a quem mais precisa, ajuda que muitas vezes não tive”, conclui.
Parabéns escriba, é isso ai.
Com certeza vai haver uma troca, os jovens ganham com tua experiência, e tu com a energia deles, além do aprendizado claro. Acho que enquanto existe vida, e vontade de viver, estamos disponíveis ao aprendizado.
Felicidades garoto!
Prof. Dr. Luciano Zucchi.
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