O cliente colocou suas compras no porta-malas e apenas empurrou o carrinho para o lado, tirando-o da frente de sua ré, sem se importar em bloquear a passagem de seu vizinho de vaga.
É uma pessoa muito mal-educada, dotada de uma preguiça grosseira. Transferiu a sua responsabilidade para um terceiro, obrigando quem sairá depois a deslocar o carrinho para o setor certo.
O que custava encaminhar o carrinho vazio para o corredor central do estacionamento?
Três minutos? Quatro minutos? O que vai interferir na sua hora de ir embora?
Admitimos engarrafamento, admitimos filas, mas não aceitamos o intervalo da cordialidade.
Temos uma dificuldade de praticar a empatia nos mínimos gestos, no básico da cidadania, naquilo que nem deveria ser mencionado ou alertado de tão óbvio que é.
Educação é respeitar o espaço do próximo. É não querer ocupar todo o espaço. É perceber que você não está sozinho no mundo.
Alguém terá que colocar no lixo o papel que você joga no chão, alguém terá que mover o carrinho que você abandona ao léu na área de manobra.
Para economizar o seu tempo, você rouba o tempo do outro, omitindo-se de sua função social, sobrecarregando um desconhecido com as suas tarefas. Trata-se de uma lição que carregamos desde a época da escola. Lembro que, na aula de artes, tão importante quanto pintar era limpar a bagunça ao final do período.
O que você faz você desfaz. O que você tira do lugar você guarda.
Representa o princípio da coexistência. Liberdade não pode ser confundida com alheamento ou privilégio.
O egoísmo acaba sendo um atalho da soberba, em decorrência de uma pretensa exclusividade e monopólio das cenas públicas. Por algum desvio psíquico, você jura que possui mais direitos do que deveres.
Na mesma linha de descuido generalizado, é impressionante o quanto é natural não dar seta no trânsito.
A maior parte das colisões surge dessa omissão (não é esquecimento).
Se a sua carteira de habilitação não foi indevidamente comprada, você tem consciência de que a seta não é opcional, não é um enfeite, não é uma árvore de Natal no carro, com luzes piscantes: emerge como um item obrigatório, um jeito de avisar aos demais do fluxo de suas decisões e rotas.
Diante do número exorbitante de motoristas que mudam radicalmente de pista, entram abruptamente numa garagem, dobram a rua e não sinalizam, como vamos adivinhar? Existe carro automático, não carro telepata.
Há ainda os condutores com delay, que ligam a seta após ter feito o desvio. Acham que assim consertam o seu erro, porém acidentes não têm replay. Elegância é saber conviver.