Pais acusam de fraude uma empresa que representaria a Academia Militar Mirim na realização de cursos paramilitares para crianças em Itajaí. Eles teriam pagado R$ 650 cada um pelos uniformes e pelo curso com 24 aulas teóricas e práticas de 2h cada, sempre aos sábados, totalizando 48h de formação cívico-militar. A promessa era de que as crianças e adolescentes aprenderiam a disciplina militar, rapel, primeiros socorros, sobrevivência, acampamento em mata, entre outras atividades. Mas nada disso ocorreu.
Os pais dos alunos conheceram o curso por meio de contatos via redes sociais e, caso tivessem interesse, participavam de uma reunião com os representantes da empresa Life Treinamentos, ...
Os pais dos alunos conheceram o curso por meio de contatos via redes sociais e, caso tivessem interesse, participavam de uma reunião com os representantes da empresa Life Treinamentos, de Campinas (SP), no auditório de uma instituição de ensino na cidade. Nessas reuniões eles recebiam um prospecto do curso, faziam as matrículas e o respectivo pagamento, junto com as mensalidades, no cartão de crédito.
“Se o pagamento fosse feito à vista, o custo ficava em R$ 600 ou senão era parcelado em seis vezes de R$ 150, totalizando R$ 900”, relatou uma das mães que foi vítima do golpe. As disciplinas teóricas, que representavam a maior parte da grade curricular, teriam aulas aos finais de semana no auditório da instituição de ensino alugada pela empresa.
As aulas práticas aconteceriam fora do local, onde as crianças seriam levadas pelos pais. No entanto, os instrutores abandonaram o curso após a segunda aula teórica. A mãe do aluno conta que eles tentaram entrar em contato com os representantes da Academia Militar Mirim, quando as famílias foram informadas de que a instituição Força Pré-Militar Brasileira (Fope) assumiria o curso. “A partir daí nos bloquearam no WhatsApp e não atendem nossas ligações”, diz a mãe.
O comandante da Fope Brasil para Santa Catarina, Davi Moretto, diz que a instituição não tem qualquer ligação com a Academia Militar Mirim ou com a empresa Life Treinamentos. “O curso é da Academia Militar Mirim, que iniciou as aulas em várias cidades brasileiras e posteriormente nos contatou para darmos continuidade ao curso”. No entanto, segundo o dirigente, isso não aconteceu porque a Fope também foi enganada.
“Quando nos propuseram dar continuidade às aulas, para que as crianças não fossem prejudicadas, nos informaram que seríamos remunerados pelas mensalidades de 50% dos alunos que haviam parcelado o valor total do curso. No entanto, quando tivemos acesso aos números, apenas 10% dos 1,1 mil alunos inscritos em praticamente todo o Brasil haviam parcelado. Aí declinamos da parceria”, diz o comandante.
Procuradas, a Life Treinamentos e a Academia Militar Mirim não retornaram até o fechamento desta matéria. O contrato de locação da sala da faculdade foi feito em nome da PEM Cursos e Treinamentos, com registro em Mogi Guaçu (SP). O responsável pela empresa disse que o contrato foi feito sem seu conhecimento e autorização, alegando também ser vítima. “Nós não temos qualquer relação com isso. Também nunca fizemos nenhum tipo de trabalho na cidade de Itajaí”, afirmou.
Pelo Instagram, a Academia Militar Mirim informou que a situação envolvendo o nome da entidade “já está sendo resolvida na esfera jurídica”. O procurador do Procon de Itajaí, Salésio Pedrini, disse que, até o momento, o órgão recebeu uma reclamação do caso. Ele orienta que os consumidores lesados façam a denúncia pessoalmente no Procon ou por meio do site procon.itajai.sc.gov.br.
Protesto e mobilização de cerca de 20 famílias
No dia 1º de outubro, um grupo de pais fez um protesto em frente ao prédio da faculdade Unicesumar, em Itajaí, onde as aulas da academia deveriam acontecer aos sábados. O contrato previa uma turma de manhã e outra à tarde. Apesar do curso previsto para seis meses, os pais descobriram que a sala foi alugada só por um mês o que, segundo as vítimas, já seria um indício de golpe.
Os pais das crianças também se organizaram em grupos de WhatsApp, um deles com mais de 20 pessoas lesadas pela empresa de treinamentos, e foram orientados a registrar o caso na polícia e abrir uma ação coletiva.
“Bastante gente ia fazer o boletim de ocorrência, mas não é de certeza que vão ressarcir o dinheiro”, comentou uma das mães, que fez o pagamento do curso de forma parcelada. Com a troca de informações entre as vítimas, ela relatou que, na hora dos pagamentos, cada maquininha de cartão aparecia com nomes diferentes.
“A gente desconfia que podem ser laranjas, porque nenhum pagamento foi passado no mesmo nome. Entrou tudo para contas diferentes esses valores”, disse. Outra suspeita é de que a empresa de treinamentos tenha usado indevidamente o nome da Academia Militar Mirim para vender o curso. Em contato com o perfil da academia no Instagram, uma das mães foi informada que a entidade não atua na região.