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Coluna Exitus na Política

Por Sérgio Saturnino Januário - pesquisa@exituscp.com.br

Avião, riquezas e floresta


A rotina de Oleg era uma acumulação de pressão e pressa. Precisava sempre alongar seu dia para manter as mesmas coisas. Passou a dormir menos, acordar mais cedo, adiantar-se ao sol. Dormia cansado e acordava sem o descanso suficiente. Ao fim das sextas-feiras se autoproclamava rei e lhe dava a recompensa da satisfação de estar vivo, de ter sobrevivido. Aos domingos sentia a sofreguidão da segunda-feira: mais uma corrida pela frente. Sempre chegava ao fim, mas nunca parecia ter vitórias. Já estava se sufocando.

 

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Não podia mais ler porque não havia tempo para isso. Não podia se alimentar com adequação porque não havia tempo para isso. Morava na cidade grande, com todas as grandiosidades que não podia usar por falta de tempo. Subjugado pelo tempo, acumulava a rotina de trabalho-apartamento-dormir-trabalho. Sentia-se com alguma riqueza pelo carro que terminara de pagar: um sufoco daqueles. Vivia sozinho e decidira que assim seria, ou foi o tempo, pouco a pouco, que não lhe oportunizou contatos e acalentos e carinhos.

Mais uma manhã e seguiu sua rotina de todos os dias acumulada de pressão e pressa. Ligou o carro, saiu triunfante pelas ruas e, no lugar de sempre estava a lhe esperar o engarrafamento de sempre. Vivia de engarrafamentos pelo trânsito e garrafas nas sextas-feiras. Mas aquele dia foi diferente: um avião havia sido atraído pela gravidade e tentou, por forças naturais, chegar ao centro do Planeta oval, quase redondo. Nenhum sobrevivente. Incêndios, sirenes, ambulâncias, luzes ferozes, barulhos de todos os lados, espantos de todos os lados. Todos parados. O incêndio impediu qualquer fuga. Estavam presos, sem poder sair do lugar, todos, milhares, cada um em seu automóvel sem qualquer movimento. Oleg pensou o que todos, sem equívocos pensaram: o carro é o refúgio seguro.

No mesmo dia, numa floresta distante dali, um avião teve o mesmo prenúncio: não conseguiu vencer sua luta contra a gravidade, arrebentou-se em copas de árvores e deslizou ligeiramente até o chão. Três adultos não conseguiram suportar tantos ossos quebrados, artérias inchadas, pulmões enrijecidos. Quatro crianças sobreviveram. Assustadas, com medo, com dores, com a alma partida pela ausência da voz ativa dos adultos, se afastaram do aeroplano. Sentaram-se e procuraram comida e água. A floresta era o refúgio: ali haveria tudo que precisariam. Entenderam o mundo que se dava ao seu redor e, com desespero contido, se abraçaram, se protegeram e choraram!

As crianças conseguiram entender o funcionamento da vida na floresta pela sabedoria de seus pais e avós. Tudo o que aprenderam dizia que deviam entender e, depois, usar e preservar as coisas que tinham em sua volta. A floresta não era nem má, nem boa. Era necessário saber viver em paz com as dificuldades, evitar a violência e se integrar ao mundo maior que nos faz vivos. Depois de uma quarentena foram encontradas em boas condições, com vivacidade. O frio era o pior obstáculos, mas souberam se proteger. Cresceram e se formaram em Arqueologia.

Na cidade grande, tempos depois, arqueólogos descobriram uma civilização que sepultara homens e mulheres dentro de seus carros. Cada automóvel, um cadáver. Era difícil compreender porque uma civilização que se considerava tão desenvolvida corteja o fim de etapas da existência em funerais de trânsito. Oleg estava entre os mortos!

Os arqueólogos concluíram que os indivíduos daquela civilização se organizavam para atrair riquezas e se prover de hierarquias. Violências, intrigas, acusações, medos, os afastavam do carinho e do amor, da solidariedade e da comunhão. Viviam como morreram: sozinhos, engarrafados, em sepulcros metálicos, sem ninguém para lhe dar a mão.


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