Crônicas da vida urbana
Por Crônicas da vida urbana -
Antes do cinema...
...havia nas cidades umas atrações meio bizarras. É até difícil acreditar que as pessoas saíssem de suas casas para ver essas coisas...
Há tempos, numa pesquisa que em nada se relacionava com o mundo dos espetáculos, encontrei o requerimento de alguém que pretendia exibir seu “circo de pulgas” na cidade. Em “secções de curiosidades” de revistas da mesma época – início do XX – li que não era difícil montar um espetáculo circense com os sifonápteros – apenas, exigia MUITA paciência.
Duas lembranças que emergem da fechada cerração da minha infância, se relacionam com a pouca informação que então circulava. Ambas, montadas em tendas tipo circo na praça central da cidade.
Uma, foi uma sucuri – ou jiboia, não lembro mais – com um comprimento que excedia os 10, 12 metros que se atribuem como comuns a elas. O diâmetro, sempre me fiando da memória, devia chegar a meio metro. A coitada ficava num tanque com água, do qual emergiam o rabo e a cabeça. Dessa extremidade, ninguém se aproximava...
Outro “fenômeno da Natureza” era um esqueleto de baleia. Talvez, como a cobra, fosse um indivíduo excepcional. Já na adolescência, frequentei muito uma antiga “armação” – porto de desmanche de baleias - e as vértebras, costelas e outras peças que abundavam pelas praias, atestavam a sensação infantil de passear dentro do tal esqueleto, como quem anda numa sala muito grande. Mais tarde, quando li “Moby Dick”, lembrei desse esqueleto e não me admirei de que esses cetáceos pudessem se defender das agressões do Capitão Acab espatifando – e bota patifaria nessa história de caçar baleia – baleeiras e navios.
Uma atração para a qual eu era considerado criança demais, eram as faquiresas: apenas escutava comentários dos adultos. Talvez devido às poucas roupagens que usavam em suas vitrinas de vidro, acompanhadas por cobronas que davam ao espetáculo um simbolismo erótico. Não havia aí uma “conotação instrutiva” como no caso das cobras e das baleias.
O público nesses locais era exclusivamente masculino, mesmo nos casos da sucuri e da baleia – que ficava olhando e conversando, “deitando sabedoria” e contando causos de pescador.
Há aqui uma relação de época bastante direta e iniludível: foi nessa mesma época que começaram e a me levar às “matinadas” de domingo de manhã. Uma sequência de umas duas horas de desenhos de Tom & Jerry e Pato Donald, de mistura com filmes do Gordo & Magro e outras amenidades para crianças, se encarregaram de enviar aos porões bolorentos da memória as baleias e as sucuris gigantes.
Key Imaguire Junior