Calejados com as enchentes, os moradores de Itajaí receberam uma promessa no final de 2011. Uma draga do governo do estado faria a limpeza e o aprofundamento do canal do Itajaí-mirim, o que diminuiria o impacto das cheias. A promessa ficou só no discurso.
Nunca passou aqui, não, nenhuma draga, testemunha a dona de casa Vanda Lucas Francisco, 53 anos, que mora na avenida Campos Novos, no bairro São Vicente, do ladinho da ponte Wilson Kleinubing. Ela diz que a última vez em que viu a baita foi antes de a ponte ser construída. Quando ainda era uma pinguela, faz muitos e muitos anos, revela.
O mototaxista Rogério Soares, 32, conta que saiu de casa no final de 2008 com a água na altura do peito. Ele mora no Rio Bonito, pertinho do Itajaí-mirim, mas diz que nunquinha viu uma draga trampando naquelas bandas. Não me recordo. Se dragaram, foi num dia em que eu não vi. E olha que eu estou sempre zanzando por aí de moto, fala.
Segundo o coordenador da defesa Civil peixeira, Everlei Pereira, a última dragagem no Itajaí-mirim rolou ainda em 2007. Em 2011, a draga não funcionou porque não tinha projeto nem licença ambiental, revela.
De acordo com o prefeito Jandir Bellini (PP), a draga era da Cidasc, do governo do estado, mas nunca chegou a Itajaí. Foi para as cucuias. Desapareceu até o projeto. O mandachuva preferiu não dar os detalhes por telefone e disse que falaria a respeito pessoalmente, quando voltasse da viagem a França.
O secretário de Desenvolvimento Regional de Itajaí, Claudir Maciel, confirma que havia um projeto, mas que nunca saiu do papel. Eu desconheço os motivos. Hoje, a draga da Cidasc está sendo usada por outro município. O governo tem projetos grandiosos para diminuir os impactos da enchente em Itajaí, discursa.
Claudir refere-se ao Pacto por Santa Catarina, que vai destinar cerca de R$ 600 milhões, para obras de prevenção às cheias. Dessa bufunfa toda, Itajaí deve levar R$ 94 milhões. Vai nos trazer uma realidade que não tínhamos, que é capacidade de investimento, revela. O bagrão jura que as obras devem começar, pelo menos, antes do fim do mandato do governador Raimundo Colombo (PSD). Essa é uma das prioridades, afirma.
Everlei conta que, ao contrário do que muita gente pensa, a dragagem por si só não resolve os problemas de enchente. Precisa de um conjunto de obras, explica. Ele acredita que só a dragagem do rio vai custar cerca de R$ 19 milhões. Segundo Everlei, o consórcio que ganhou a licitação para fazer os projetos executivos de todas as obras do Pacto tem até dezembro para deixar tudo nos trinques.
O consórcio é formado pelas empresas Geoenergy e Prósul. Serão analisadas todas as propostas apresentadas pela agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jaica) e também pelos pesquisadores da Univali. Vão analisar todas as propostas, ver o que for mais adequado à nossa cidade. As propostas que apresentarem o melhor desempenho serão postas em prática, explica.
Sabichão sugere fechar barragem para melhorar escoamento
O oceanógrafo e doutor em engenharia oceânica, João Luiz Batista de Carvalho, diz que a dragagem do Itajaí-mirim é apenas uma das alternativas para diminuir os impactos das cheias. E está longe de ser a solução ideal. Ele explica que o rio funciona como um grande reservatório de água, e que a dragagem teria que ser refeita volta e meia, porque o Itajaí-mirim não tem grande vazão de água, por isso a lama acaba se acumulando no fundo.
Uma das sugestões apresentadas pelo especialista é fechar a barragem do Semasa, no São Roque, duas vezes por dia, para forçar a água a escoar pelo antigo curso do rio e evitar que a lama acumule no fundo. Mas o fechamento seria feito durante os horários de maré baixa, para evitar os alagamentos nas terras dos agricultores, detalha. A medida, segundo o sabichão, não custaria praticamente nada aos cofres do município.
Outra sugestão é construir um prolongamento do cais do terminal de trocadeiro, na margem esquerda do rio, na Barra do Rio, para aumentar a vazão da água. Seria uma espécie de molhe, que também poderia servir como atracadouro de navio, explica. O projeto do profe está junto com as propostas da Jaica no termo de referência que foi licitado pelo Pacto por Santa Catarina, o qual deve ser analisado pelo consórcio.