Segundo o secretário de Obras de Balneário, Elton Garcia, os motoristas e funcionários da secretaria têm medo de trabalhar na zona sul, região onde rolou o acidente e onde os brutos foram queimados. Tive que conversar com eles pra tentar acalmar a situação, disse.
O motorista Sidnei Batista Gonçalves, que há 15 anos trampa na prefa, dirigia o caminhão que bateu no motoqueiro. Ele ganhou uma licença de 15 dias até que a investigação administrativa sobre o acidente acabe.
O secretário diz que o motorista saiu do local do acidente porque começaram a jogar pedras nele. Ele se apresentou para os bombeiros e pegou carona com um funcionário de uma firma próxima. Estava sendo ameaçado e achou melhor sair do local, explicou.
Elton destaca que a Kombi que era usada pra transportar os funcionários e um dos caminhões foram completamente destruídos. Os outros dois veículos podem a voltar a rodar após a perícia, que é pra rolar até quarta-feira. Somente depois da perícia é que podemos fazer um levantamento do prejuízo. Eu acredito que deve ficar em torno de R$ 100 mil, especulou.
O delegado Alan Pinheiro de Paula, da depê de Balneário, comanda a investigação do caso, mas não quis passar qualquer informação. Tem um inquérito, e é apenas isso que vou falar. Sem nomes, nem nada. Apenas tem inquérito, falou.
Pra especialista, pode piorar
A queima dos brutos da prefeitura é apontada como uma revolta espontânea, igual ao que ocorre em cidades grandes, como São Paulo e Rio de Janeiro. Eduardo Guerini, mestre em sociologia e professor da Univali, diz que aqui, ações desse tipo não são comuns, mas podem se tornar cada vez mais frequentes. Existe um caldo de indignação e revolta com os gestores públicos, e a tendência é que cada vez mais, em situação intencional ou que envolva o poder público, haja esse tipo de revolta, acredita o especialista em segurança pública.
Ele culpa os próprios gestores por este tipo de ação da comunidade. O entendido diz que eles prometem mundos e fundos, coisas que não podem cumprir e o povo está cobrando a conta. O primeiro sinal foram os protestos ocorridos no mês de julho em todo o país. A tendência é que as manifestações sejam mais constantes ainda. Elas são chamamentos para que os gestores públicos escutem que o povo está pedindo mais segurança, mobilidade urbana, transporte e saúde, concluiu.
Falta de sinalização revolta povão
Ontem, enquanto familiares e amigos velavam o corpo de Lúcio no cemitério da Barra, por pouco o bairro Jardim Bandeira não foi palco de outra desgraça. Era por volta do meio-dia, quando um carango e uma cabrita bateram no cruzamento das ruas Raposo Tavares e Braz Cubas. O motoqueiro sofreu apenas ferimentos leves.
Pros moradores, os acidentes poderiam ser evitados se houvesse mais sinalização. A aposentada Onilda Olímpio Oliveira, 63, que mora no bairro há 17 anos, é testemunha do tráfego pesado de caminhões na região e reclama da péssima sinalização. Não sei de quem foi a culpa no acidente, mas a sinalização é ruim, disse.
O mano dela, Onildo Olímpio Oliveira, 63, acredita que o problema está ligado à falta de respeito com as leis de trânsito. A maioria dos motoqueiros não respeita as leis de trânsito, mas a sinalização também é importante. Tem que ter sinalização clara, palpita.
Pro secretário Jaime Mantelli, que comanda o fundo Municipal de Trânsito (Fumtran), a sinalização até pode ter facilitado o acidente, mas certamente não foi a principal causa. Ele diz que na rua Raposo Tavares existem placas de sinalização que mostram a preferencial, conforme determina a legislação. Independente disso, é aconselhável que todos tenham cautela no trânsito, pede o abobrão.
Em toda a extensão da rua onde ocorreu o acidente, que tem mão-dupla, existem cinco placas com a indicação pare.
No cruzamento onde ocorreu o acidente, a placa havia caído e tinha sido retirada por funcionários da prefa. É provável que tenham retirado. Mas o local não é de trânsito pesado como o centro. Há uma sinalização básica pro bairro, falou Jaime.
Ex-cunhado lamenta a morte do irmão
Fabiano Ramires, 28 anos, lamenta a morte do ex-cunhado, que considerava um irmão. Os dois se criaram juntos em Bauru (SP), até que, há 11 anos, Lúcio veio pra Balneário. Fabiano veio atrás e há três anos mora no mesmo bairro. Na segunda-feira, ele foi até a minha casa, ficou meia hora e depois voltou pra casa. Na terça-feira, fui acordado com a notícia de que ele tava morto. Era um cara bom, tirava dele pra dar pros outros, lamenta.
Ele diz que Lúcio tinha uma fabriqueta nos fundos de casa e ajudava a sustentar a mãe, Elaine Pereira Domingues, 53. E a mãe, por sua vez, o ajudava a cuidar do filho de oito anos. Ele [o filho] pediu pra gente ir ao hospital buscar o Lúcio. Como o velório foi de caixão fechado, ele não se deu conta que o pai morreu. Como vamos contar pra ele?, indaga.
Fabiano concorda com os moradores que a culpa do acidente foi da falta de sinalização, mas afirma que também houve imprudência. Reclama que os caminhões andam em alta velocidade naquele trecho. Precisa de sinalização! Eles estão sempre atropelando os cachorros e vão embora como se fosse nada. Temos crianças aqui. Meu irmão morreu. Precisam de mais mortes pra fazer alguma coisa?, questiona.
O acidente rolou na manhã de terça-feira. Lúcio seguia de motoca pela rua Pascoal Moreira, no bairro Jardim Bandeira. Ia cruzar a rua Raposo Tavares e seguir pela Pascoal, pois sua casa ficava no meio da quadra. Mas não deu tempo. No meio do cruzamento, foi parar embaixo do rodado do caminhão da prefeitura, que seguia pela Raposo, no sentido centro.