O quadro de professores do Colégio Catarinense, na época, era objeto de muitas histórias e de muito folclore. O Pe. Dullius, grave, circunspeto, ministrava História, mas infelizmente morreu afogado no fim de nosso primeiro ano. Pe. Braun, era o mestre da Biologia; tinha o hábito de comer tudo o que era porcaria para provar que era comestível, ou que tinha valor nutricional. Sua frase mais “batida” era: “a forma é a imagem plástica da função!”
O Pe. Benno Schorr dava aulas de física e tanto ele como o Pe. João Alfredo Rohr, arqueólogo e professor de química, jamais se preocuparam com algum tipo de atualização. A matéria era ministrada da mesma maneira há decênios. O Pe. Rohr chamava o nitrogênio de “azoto”, embora esta nomenclatura já tivesse sido abolida há meio século. Chegava ao cúmulo de usar, para símbolo do Cobre, “Cp” em vez de “Cu” oficial, em nome na moral e dos bons costumes. Evidente era que, só com a Física do Benno e a Química do Rohr, ninguém passava no vestibular.
A Matemática no primeiro científico, 1º Ci, era ministrada pelo professor leigo Waldir Busch, que impunha um clima de terror nas suas aulas, mas a gente aprendia. No 2º e 3º Ci o professor Aníbal Nunes Pires ensinava Matemática e quase nunca fazia uma prova, a nota era dada pelo que ele achava do aproveitamento do aluno. Extremamente bonachão não reprovava ninguém e, se não levássemos a coisa a sério, não saberíamos nada da matéria. Para o Desenho Geométrico tínhamos outro professor leigo, o Dimas, que jamais usou uma régua ou compasso para desenhar no quadro-negro. Era tudo à mão livre e absolutamente perfeito. O professor Warken ensinava Geografia e meu pai já tinha sido aluno dele. Francês e Espanhol eram matérias do prof. Celestino Sachet, ministradas com perfeição. Ainda hoje sabemos poemas nestas línguas que decorávamos com prazer. Educação Física era com Héber Lebarbenchon Poeta, cheio de frases e lero-leros que certa vez comprou um carrinho pequeno que no intervalo da aula a gente ergueu e encaixou no meio de duas colunas do corredor. Coube tão justo que ninguém soube como saiu dali... A grande figura entre os professores do Colégio, cercada de fama, era o Pe. Pedro Geremia. Apelidado de “Pomboca” era baixinho, tinha cara de bonzinho, de bobinho, mas que ninguém se enganasse com isso! Falava manso, mas era uma verdadeira fera no português. Ensinava durante um mês inteiro verbos no modo imperativo nas formas afirmativa e negativa. Ia à exaustão. A partir do segundo mês quem errasse um imperativo na prova tirava zero. O resto podia estar tudo certo. Certa vez mandou escrever no quadro: Alceu Amoroso Lima. Foi escrito por pura ignorância, “Ao seu amoroso Lima”. Mandou o aluno para rua da sala! Em uma prova de fim de ano, deu como tema de dissertação: “A intentona comunista” – poucos sabiam o que era comunista, quanto mais intentona... Ensinou português “na marra” durante os três anos do científico e embora temido, era querido pela maioria. O texto que tivesse algum “floreio literário”, que faltasse com a clareza e objetividade, recebia na margem uma anotação: “alfafa!” – frases curtas! Sinal de uma visão moderna do português.
Tínhamos provas semestrais em junho e as temidas provas finais – escritas e orais no fim do ano. E a medida que tais épocas se aproximavam, cresciam as tensões entre os internos. As brigas aconteciam pelos menores motivos, ficavam todos grudados nos livros para conseguir uma nota salvadora.