BRASIL

Marcha para Jesus se tornou um terreno político em disputa

A Marcha para Jesus se autodenomina como o “maior evento popular cristão do mundo”

Marcha pra Jesus deste ano teve 13 mil caravanas de fiéis. (Foto: Tomaz Silva)
Marcha pra Jesus deste ano teve 13 mil caravanas de fiéis. (Foto: Tomaz Silva)

Por Amanda Audi e Danilo Queiroz | Edição: Mariama Correia

Jair Bolsonaro foi o primei­ro presidente do Brasil a participar de uma Mar­cha para Jesus, em 2019. Na ocasião, foi fotografado fazendo gesto de “arminha”, como se estivesse executando alguém que ...

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Jair Bolsonaro foi o primei­ro presidente do Brasil a participar de uma Mar­cha para Jesus, em 2019. Na ocasião, foi fotografado fazendo gesto de “arminha”, como se estivesse executando alguém que estava no chão. Em 2022, em busca da reelei­ção (que não veio), ele parti­cipou da marcha em Vitória, no Espírito Santo, ao lado do senador evangélico Magno Malta (PL-ES) e outros candi­datos que iriam concorrer nas eleições daquele ano. Entre a multidão, era possível ver uma arma gigante e um cai­xão com o símbolo do Partido dos Trabalhadores (PT). Fazia poucas semanas que um pe­tista havia sido morto por um bolsonarista após uma discus­são política.

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Para pesquisadores que es­tudam o desenvolvimento da Marcha para Jesus no país – que é organizada pela Igreja Renascer em Cristo, do após­tolo Estevam Hernandes e da bispa Sônia, desde 1993, e foi crescendo à medida que a po­pulação se tornou mais evan­gélica –, esses acontecimen­tos são simbólicos de como o evento se consolidou como um palanque político nos úl­timos anos. Com privilégio mais evidente de políticos de direita e extrema direita.

Este ano, a Marcha para Jesus do Rio de Janeiro teve participação de pré-candidato à prefeitura e ataques ao Su­premo Tribunal Federal (STF). No ano passado, a Marcha na capital paulista reuniu aproxi­madamente 3 milhões de pes­soas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi à marcha em São Paulo. Ele res­pondeu com uma carta em que agradecia pelo “honroso convite” e enviou como re­presentantes a deputada Be­nedita da Silva (PT) e Jorge Messias, advogado-geral da União, que foi vaiado durante seu discurso. Na edição deste ano, no dia 30 de maio, Mes­sias foi novamente o repre­sentante do presidente.

 

De evento evangelístico a palanque

A Marcha para Jesus se autodenomina como “maior evento popular cristão do mundo”. Ela se afirma como uma clara de­monstração da capacidade de mobilização e da força da população evangélica no país. Este ano, cerca de 13 mil caravanas de fiéis de diferentes denomina­ções evangélicas e estados participaram do evento.

Em suas mais de quatro décadas, a Marcha para Jesus deixou de ser ape­nas um evento de música e oração, como demonstra a ativa participação de po­líticos que figuram no trio principal e nos discursos feitos no palco.

No Brasil, a primeira Marcha para Jesus, rea­lizada em São Paulo em 1993, reuniu 350 mil pes­soas. A pesquisadora Ra­quel Sant’Ana explica que o crescimento do evento coincide com a chamada “explosão gospel” nos anos 1990 e a consolida­ção da Frente Parlamentar Evangélica no legislativo.

“Esses movimentos ofe­receram um repertório co­mum de músicas, progra­mas de televisão e agenda política, que passou a cir­cular além das igrejas es­pecíficas, por um público amplo”, explica.

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Nos anos 2000, a mar­cha já era um megaevento. “A partir de 2013, com o retorno das mobilizações de rua como modelo de ativismo político e a maior organização da chamada nova direita, as atividades de preparação da marcha, com caravanas de bairros e de igrejas, a elaboração de cartazes próprios, ca­misas de movimentos com pautas próprias e outros modos de manifestação do público passaram a ser mais comuns”, diz a pes­quisadora.

Foi durante esse perío­do que a Igreja Renascer tornou-se pouco a pouco um conglomerado de mais de 800 templos, escolas, gravadoras e emissoras de rádio e TV.

Foi durante a reeleição de Lula à presidência, em 2009, que a celebração passou a ser incluída no calendário oficial do país. A lei, sancionada pelo pre­sidente, é de autoria do senador Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que já foi um dos bispos da Igreja Universal, presidida pelo seu tio Edir Macedo.

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No ano passado o go­vernador de SP, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou uma lei que de­clara o evento como patri­mônio cultural de natureza imaterial do estado.

Este ano, Tarcísio mais uma vez esteve presente no evento, acompanhado do prefeito da cidade, Ri­cardo Nunes (MDB), que acena para o eleitorado evangélico numa tentativa de se reeleger.

As edições dos anos 1990 eram apenas uma aposta, dialogavam com a mobilização nacional ge­rada com o impeachment do presidente Collor, mas ainda eram muito identifi­cadas com a Igreja Renas­cer em Cristo, não havia adesão de um público e um arco de alianças abrangen­te como o de hoje.

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A partir de 2013, com o retorno das mobilizações de rua como modelo de ativismo político e a maior organização da chama­da nova direita, as ativi­dades de preparação da marcha com caravanas, a elaboração de cartazes próprios, camisas de mo­vimentos com pautas pró­prias e outros modos de manifestação do público, paralelas à programação do palco, passaram a ser comuns.

A marcha de SP, em es­pecial, que sempre valo­rizou a institucionalidade e a participação de repre­sentantes dos executivos municipal, estadual e na­cional, independentemen­te do seu espectro político, é tratada como uma prova da relevância do evento. A necessidade de respeitar e orar pelas “autoridades” é sempre defendida pelos apresentadores e pela or­ganização. O que não quer dizer que o público não tenha suas próprias ideias e medidas do respeito de­vido (ou não) a esses polí­ticos. Em 2018, por exem­plo, a participação de Jair Bolsonaro, ainda na condi­ção de parlamentar e can­didato, inspirou algumas vaias, junto aos gritos de “mito” e aplausos.

 

Por que isso importa?

Maior evento gospel do país, a Marcha para Jesus cresceu junto com a popula­ção evangélica. A marcha se tornou um terreno de dispu­ta política que tem sido do­minado pelo bolsonarismo e pela extrema direita.

A aprovação do gover­no Lula entre os evangélicos segue baixa. Na opinião de Christina Vital, professora de Sociologia e coordenado­ra do Laboratório de Estudos Sócio-Antropológicos em Po­lítica, Arte e Religião da Uni­versidade Federal Fluminen­se (UFF), a esquerda ainda falha na comunicação com esse público.

“Isso vem favorecendo os políticos e líderes mais à di­reita”, diz a pesquisadora.

Por outro lado, Raquel Sant’Ana, antropóloga e pes­quisadora do Museu Nacio­nal da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pontua que a direita investiu “siste­maticamente recursos, qua­dros e elaborou projetos que incluem os evangélicos de um modo que a esquerda não faz”.

Sant’Ana pesquisa mani­festações evangélicas na es­fera pública brasileira. Um dos pontos do seu trabalho é a teologia do domínio, que defende a disputa do poder terreno por aqueles que que­rem implementar o reino de Jesus na Terra – o que valori­zou a atuação de alguns gru­pos evangélicos na política institucional e na mídia.

“Também é importan­te notar que quem teve os melhores recursos para rea­lizar essa disputa foi quem se associou à ditadura. Mui­tas concessões de rádios gos­pel, por exemplo, foram fru­to dessa relação. Por outro lado, a esquerda evangélica, desmobilizada durante o re­gime, priorizou outras fren­tes de organização política e defendeu durante muito tempo que era necessário se­parar religião e política, dei­xando o terreno livre”, con­cluiu.

De acordo com Vital, a as­sociação com a direita se in­tensificou ao longo do tem­po.

“Embora essa associação já fosse verdadeira durante a Constituinte de 1987, vá­rios parlamentares evangéli­cos que compunham a cha­mada ‘bancada evangélica’ votavam em favor de pau­tas sociais ligadas ao comba­te às desigualdades sociais, de acesso à saúde e educa­ção”, diz.



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