O trabalho de recuperação e posterior preservação desse ecossistema, que no passado sofreu com o crescimento urbano desordenado, rendeu ao município reconhecimento internacional. A cidade foi incluída no Top 100 Good Practice Stories do Green Destinations, entidade holandesa dedicada a apoiar destinos sustentáveis em todo o mundo. O projeto “Restinga preservada, nossa orla protegida” destacou-se pelas boas práticas de turismo responsável, aliando preservação ambiental e aproveitamento turístico de forma equilibrada.
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Segundo o prefeito Liba Fronza, a conquista projeta Navegantes no cenário global como exemplo de compromisso com o meio ambiente. “É a valorização dos esforços de gestão ambiental e o fortalecimento da imagem de Navegantes como cidade que alia desenvolvimento econômico, turismo de qualidade e conservação dos ecossistemas”, afirma. Ele ressalta que o reconhecimento também reforça políticas públicas voltadas à qualidade de vida e à proteção do litoral para as próximas gerações.
Função estratégica do ecossistema
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O professor e doutor em Ecologia e Recursos Naturais, Marcos Polette, explica que a restinga é uma vegetação típica da transição entre a praia e a Mata Atlântica, reconhecida como patrimônio nacional pela Constituição Federal e classificada como Área de Preservação Permanente (APP) pelo Código Florestal. “Ela abriga flora e fauna específicas e atua como barreira natural contra a erosão marinha, função cada vez mais relevante diante das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar”, detalha.
Em Navegantes, o especialista considera exemplar a proteção desse ecossistema, com cercas e passarelas que evitam pisoteio e facilitam o acesso de forma ordenada. No entanto, alerta para o caso do bairro Gravatá, onde a retirada da vegetação, décadas atrás, provocou intensa erosão e obrigou o município a investir alto em obras de defesa costeira. “Preservar é mais barato, eficiente e inteligente do que reparar os danos depois”, reforça.
O fotógrafo e ativista ambiental Antônio Neuwiem lembra que a restinga protege espécies como corujas, répteis e ninhos de tartarugas marinhas, além de prevenir desastres naturais ao conter a erosão e reduzir impactos de ressacas. “Navegantes é hoje um exemplo de conservação, mas o desafio é permanente diante da expansão urbana, da poluição e das mudanças climáticas”, pontua.
Recuperação histórica e benefícios urbanos
Para o ativista Luciano Palumbo, a preservação atual representa uma “dívida histórica” com o meio ambiente. Ele recorda que, no início do século passado, a extração irregular de areia para a construção civil e o aterramento de mangues alteraram profundamente a orla. A partir das décadas de 1960 e 1970, a ocupação urbana e o crescimento turístico, especialmente no bairro Gravatá, intensificaram a degradação, sem a devida consciência ambiental.
A reviravolta veio com o projeto Nossa Praia, fruto de compensação ambiental da Portonave, que plantou mais de 100 mil mudas de espécies nativas, criou dunas embrionárias e restaurou parte do ambiente natural. “Hoje a restinga funciona como um parque natural de acesso livre, abrigo de aves, pequenos mamíferos e polinizadores. Além disso, contribui para a drenagem da água da chuva, ameniza a força dos ventos e cria um microclima mais agradável na orla”, descreve.
Mais do que vegetação rasteira, a restinga é um ecossistema completo, formado por plantas de diferentes portes, fauna associada e funções essenciais. Ela fixa a areia, estabiliza dunas, filtra o ar e protege a orla contra o avanço do mar. Com cerca de 11 quilômetros de praia de mar aberto, Navegantes garante, por meio dessa barreira natural, que a areia perdida nas ressacas seja reposta de forma natural, mantendo o equilíbrio ambiental e assegurando a atratividade turística.
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“Preservar e ampliar as áreas de restinga é uma questão de inteligência, responsabilidade e visão de futuro”, resume Marcos Polette. “É garantir um litoral protegido, valorizado e sustentável para as próximas gerações, sem abrir mão do desenvolvimento econômico e da qualidade de vida.”