IGREJA CATÓLICA

Júlio Lancellotti é calado nas redes enquanto padres conservadores discursam para milhões

Dom Odilo Scherer censura padre Júlio nas redes sociais, mas mantém sua conta com mais de 50 mil seguidores

Jose Cruz/Agência Brasil
Jose Cruz/Agência Brasil

Por Bruno Fonseca | Edição: Ludmila Pizarro

Enquanto o padre Júlio Lancellotti, conhecido por defender pautas progressistas e a população de rua em São Paulo, está proibido de transmitir missas ao vivo e seguir com suas atividades nas redes sociais, outros religiosos com milhões de seguidores nas plataformas digitais seguem com a atividade liberada — que incluem declarações sobre política. Muitos também mantêm sites e anúncios pagos para páginas de cursos e lojas virtuais.

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Um exemplo é Frei Gilson, que tem 8,65 milhões de inscritos no YouTube e 11,1 milhões de seguidores no Instagram. Gilson da Silva Pupo Azevedo, que está à frente da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Diocese de Santo Amaro, em São Paulo, publica músicas, cortes de shows, leituras e reflexões sobre a Bíblia.

Por que isso importa?

  • Padre Júlio Lancellotti é uma das principais vozes religiosas na defesa dos direitos da população em situação de rua e no combate à aporofobia, ódio às pessoas pobres.
  • No Instagram, padre Júlio tem 2,3 milhões de seguidores em sua conta e não poderá mais atualizá-la. Já Frei Gilson, outro líder católico, porém, conservador, segue com mais de 11 milhões de seguidores na mesma rede social, e não sofreu sanções.

O próprio cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, segue ativo nas redes, apesar de ser o responsável pela solicitação de afastamento do padre. No Instagram, o cardeal tem 53,6 mil seguidores – muito menos que os 2,3 milhões de Lancellotti no Instagram. Na conta, além de conteúdos de divulgação da arquidiocese de São Paulo, o cardeal posta notícias e trechos das suas homilias.

Frei Gilson foi um dos religiosos católicos que “caiu nas redes” de Jair Bolsonaro e chegou a ser defendido publicamente em março deste ano “como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador. Por isso, cada vez mais, vem sendo atacado pela esquerda”, publicou o ex-presidente. A defesa veio após críticas a falas do religioso no Dia Internacional da Mulher contra o empoderamento feminino e a favor que as mulheres atuem para auxiliar homens.

Em 2021, o religioso fez uma live em Brasília contra os “flagelos do comunismo”. A fala aconteceu dentro de um evento chamado “3 dias de clamor pelo Brasil”, no qual o religioso chamou o povo para “despertar na madrugada para rezar por sua pátria”.

O nome de Gilson chegou a ser citado pela Polícia Federal (PF) nas investigações que culminaram na condenação e prisão de Bolsonaro. Segundo a PF, Gilson teria recebido de outro religioso, o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, um texto que pedia a católicos e evangélicos que orassem pelo então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e outros 16 generais quatro estrelas.

A ação foi batizada de “oração do golpe”. O padre Silva chegou a ser indiciado por, segundo as investigações, ter participado de uma reunião com o ex-assessor Filipe Martins e o advogado Amauri Feres Saad, em 19 de novembro de 2022, em Brasília (DF), mas não foi denunciado, assim como frei Gilson também não.

Divulgação de evento com frei Gilson

Padre Paulo Ricardo, defensor de armas

Mesmo sendo de outro estado, padre Paulo Ricardo, vigário na paróquia Cristo Rei, em Várzea Grande (MT), é outro religioso com bastante influência nas redes sociais e também trata de política. Ele conta com 2,7 milhões de seguidores no Instagram, 2,17 milhões de inscritos no YouTube e 328,1 mil seguidores no X/Twitter.

O nome de Paulo Ricardo “estourou” nas redes em 2019, quando Jair Bolsonaro divulgou um vídeo no qual o religioso fala sobre o direito do porte e uso de armas por cristãos. Na gravação, em que o padre diz que “a Igreja não é pacifista, mas é pacífica”, vele relaciona campanhas pelo desarmamento a uma “crise histérica” e diz para o cidadão que “você tem o direito de não ser covarde. Nós cristãos não somos pacifistas”, afirmou sobre uso de armas contra bandidos.

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O vídeo havia sido postado inicialmente em 2011, no contexto do massacre de Realengo, no Rio de Janeiro, quando um homem de 23 anos invadiu uma escola municipal e matou a tiros 12 estudantes.

A relação entre Ricardo e Bolsonaro é longa: em 2017, o então pré-candidato recomendou o canal do religioso como exemplo de rede que combate a “doutrina marxista” no Brasil. Já em 2015, Bolsonaro postou outro vídeo do padre divulgando uma palestra feita pelos dois sobre o tema “família”, a convite do religioso na Paróquia Imaculada Conceição, na cidade de Ceilândia, no Distrito Federal.

Imagens mostram proximidade entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o padre Paulo Ricardo

O padre Paulo Ricardo também investe em anúncios pagos no Google. A busca pelo seu nome gera um anúncio para sua página de cursos online e sua loja de livros.

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Nos cursos, o religioso oferece aulas sobre temas variados, desde “como ler a Bíblia” a “terapia da alma feminina” e a importância das “navegações portuguesas”. O padre também tem um curso sobre a relação entre a fé cristã e as obras de O Senhor dos Anéis, do escritor britânico J. R. R. Tolkien.

Já a página de livros vende títulos variados, inclusive “combos”, como dois volumes para meditação diária da série de homiliários. O combo custa R$ 237,64 à vista ou 12x de R$ 20,83. Nas redes, ele também divulgou uma promoção de descontos de “black november” de cursos “para você se tornar um católico melhor e mais confiante”, nas palavras do padre.

Pública procurou o frei Gilson e o padre Paulo Ricardo pelo Instagram, porém, não obteve retorno. Caso eles enviem seus posicionamentos, a reportagem será atualizada.

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O que diz a Arquidiocese de São Paulo

Procurada pela Agência Pública, a Arquidiocese de São Paulo informa que a proibição foi feita durante uma conversa entre “o arcebispo e seu padre e, portanto, [as questões] dizem respeito ao âmbito interno da igreja”, diz a nota. Via assessoria, a reportagem foi informada que a “orientação” de sair das redes sociais e não transmitir suas missas pela internet, “foi para o bem do padre” e se refere apenas a ele. Os demais párocos da capital paulista seguem liberados para suas manifestações nas redes.

A assessoria de comunicação da Arquidiocese informou que não recebe valores referentes a cursos e livros vendidos por padres. A Arquidiocese recebe, segundo a assessoria, uma parte dos valores arrecadados pelas paróquias. Também foi salientado à Pública pela assessoria que a Arquidiocese Metropolitana de São Paulo não responde por todas as paróquias da cidade de São Paulo, apenas uma parte. Foi dito que a Diocese de Santo Amaro, por exemplo, não responde à arquidiocese sob coordenação de Dom Odilo Scherer, “assim como, a paróquia do padre Marcelo Rossi”.



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