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Por que o Conselho das Entidades é contra o aumento do número de vereadores de Itajaí de 17 pra 21?
Bento: Essa votação aconteceu em caráter de urgência e o conselho vê que isso não beneficia a sociedade. Uma pauta dessa tem que ser discutida. Na época de campanha eles vão pedir voto pra quem? Pra sociedade. Tudo bem, a cidade está batendo em um teto de 300 mil habitantes, que essa é uma das justificativas deles. Só que o que esses quatro vereadores a mais vão proporcionar para os habitantes de Itajaí? [Como o senhor olha essa experiência de ter tido 21, fomos para 17 e agora voltar para 21? ] Eu acho que lá atrás a população de Itajaí era bem menor, com certeza hoje demanda muito mais trabalho. Se a gente vai fazer esse investimento, nesses quatro novos vereadores, a gente tem que planejar isso. Não são só os quatro vereadores, são mais os assessores que a gente ganhou no início do mandato, que eles aprovaram de três para cinco, e que também o conselho se posicionou contrário. [O senhor é contrário ao aumento de vereadores ou acredita que faltou discutir a necessidade com a comunidade?] Se eles vierem com a gente pra poder negociar, pra sentar e nos convencer, tecnicamente, que isso é viável pra cidade, a gente não vai discutir quanto à aprovação ou não. Mas a princípio, da forma que foi feito, no calar da noite, em regime de urgência, que tipo de urgência é essa? [Urgência com três anos pela frente...] Exatamente. [Tanto o executivo como o legislativo têm proximidade com os empresários. O empresariado se sentiu traído?] Você sabe muito bem que o nosso conselho tem muitos empresários e a gente batalhou muito pra poder entregar projetos pro município. Não quero aqui entrar no mérito da Oscip, mas somos um dos sindicatos que tá doando R$ 10 mil por mês pra poder fazer projetos pra entregar pro município. A gente está aqui para poder construir junto ao poder público. Desta forma que foi decidido, a gente se sentiu traído, sim.
O senhor sabe qual custo esse aumento de quatro vereadores, com os assessores, trará?
Bento: Não tenho o exato levantamento, mas cada assessor custa em média R$ 6 mil, mais o salário do vereador, mais o gabinete, mais tudo, dá em torno aí de mais de 50 mil de cada vereador, por mês. Dinheiro que podia ser investido, quanta coisa que a gente tem pra melhorar na nossa cidade. [...] Isso que a gente quer debater. O que mais vão aprovar daqui pra frente, se já aprovaram o aumento de vereadores, qual vai ser a próxima aprovação? Fica a pergunta no ar; a gente tá de olho.
O senhor enviou um pedido pra câmara pra que se fosse feita audiência pública. No entanto, ao DIARINHO eles responderam que não seria possível porque já houve a aprovação. O que que o senhor acha desse argumento?
Bento: É que eles colocaram em votação bem numa época festiva, tá todo mundo preocupado em comprar presente e tal. E, simplesmente, talvez eles pensaram assim: vamos fazer no calar da noite, até naquele dia nós tínhamos um show na nossa cidade, aproveitaram que ninguém ia estar lá na câmara, mas não foi correto da forma que foi feito, não justifica. [A votação foi unânime...] Foi unânime, exatamente. Eu sou empresário, se eu quero estar mais tempo como empresário dentro de uma sociedade tenho que fazer o meu melhor. E se o vereador faz o melhor dele, não precisa ter preocupação de botar mais quatro cargos para garantir o próximo mandato dele. Eu acho que eles fizeram exatamente isso. Garantir mais um mandato. Eu acho que a sociedade tem que olhar para quem aprovou essa lei. [Outro projeto que chegou em regime de urgência foi o do IPTU, mas acabou não sendo levado à votação. A entidade tinha conhecimento desse?] Sim, a gente recebeu essa demanda. Tem que ser benéfico para a sociedade e estamos estudando esse caso também. Passei a tarde de ontem [domingo] falando com o pessoal do nosso jurídico discutindo sobre esse assunto. [Já tem um parecer sobre?] Ainda não temos. Temos até que sentar com o presidente da câmara pra ver realmente até onde isso aí vai afetar a sociedade pra gente poder discutir esse assunto.
O senhor acompanhou a paralisação no porto de Itajaí e o impacto que ela teve no PIB da cidade. A demora do edital da dragagem e do edital de arrendamento definitivo podem trazer mais problemas à cidade?
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Bento: Trouxeram as autoridades portuárias de Santos para fazer um trabalho aqui, que ia ser o salvador da pátria. Hoje, eles mesmos estão dizendo que Santos não veio para contribuir. A Portonave está fazendo um investimento de bilhões para entrar navio de 450 metros. Se nós não tivermos um investimento de dragagem para esse navio, ele não consegue entrar no nosso canal. A gente vai estar discutindo junto com a autoridade portuária, junto com o Porto de Navegantes também e o Porto do Itajaí, pra daqui a pouco a gente não ter mais uma surpresa. [E ano que vem é o ano político...] Exatamente. Esse ano político nos deixa bastante preocupados porque muitas coisas não podem ser aprovadas num ano político. [Como o senhor analisa a briga dos portuários com a perda de espaço para a carga geral por conta da atracação dos navios de cruzeiro?] Recentemente, teve o primeiro navio de cruzeiro, vocês sabem que os portuários se movimentaram quanto a isso, mas é uma briga da autoridade portuária com eles. A gente se preocupou com a segurança da sociedade, com a segurança de quem ia desembarcar na nossa cidade. A gente sabe até onde a gente pode ir, mas nessa negociação da mão de obra junto com o porto, a gente não interfere. [E sobre esse impasse entre ter que desatracar o navio de carga geral ou de contêiner para a chegada do navio de cruzeiro? O píer turístico resolveria isso?] O píer é um dos projetos que a Oscip vai entregar para o município e para o governo federal. Nesse projeto, o governo não precisa fazer nada, simplesmente licitar. Então, a nossa parte, como empresários, a gente está fazendo.
"“Desta forma que foi decidido, a gente se sentiu traído, sim” interna"
Qual a avaliação que o senhor faz do primeiro ano do governo Robison Coelho?
Bento: Eu vejo sangue novo. Um cara muito atuante, que tá de madrugada já na rua, veio com muita vontade. Lembro bem que lá no dia 2 [janeiro] as entidades levaram uma proposta pra fazer uma ação, que a gente tinha tanta reclamação dos moradores de rua, em lugares onde não dava mais para caminhar, correr ou passear. E a gente construiu junto uma ação no bairro Nossa Senhora das Graças. E dia 2, o conselho estava lá. O governo Robison nos recebeu e a gente fez essa ação em conjunto com a segurança pública. Veio tanto agradecimento... Foi uma primeira ação que emplacou e ajudou muito a sociedade. Quando a gente elege alguém, tem que contribuir, ajudar e acreditar. E o Conselho acredita nesse governo. [E a Câmara de Vereadores, como o senhor avalia esse primeiro ano?] A Câmara de Vereadores, eu acho que ela iniciou mal, aumentando o número de assessores, que a gente foi contrário também, e fechou o ano negativamente, pior ainda. Não dou nenhuma pontuação, mas dá pra melhorar muito. Espero que no próximo ano eles não venham com mais surpresas, que venham mesmo para contribuir e fazer a parte que foi dada para eles fazerem, que é a gestão da Câmara de Vereadores do dinheiro público que vai pra lá. A gente vai ficar de olho.
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Um dos nossos grandes problemas é a BR 101. Ela virou o principal meio de deslocamento entre cidades. Como a entidade está trabalhando nesse grave problema?
Bento: Em outubro, eu estive lá representando o Conselho em Brasília, com o pessoal do transporte. É uma preocupação muito grande. Cadê os investimentos? A gente foi lá cobrar. A ponte de Navegantes agora está sendo investigada, talvez tenham que condenar a ponte. Por que demoraram tanto pra olhar esse gargalo? A gente foi, sim, pra Brasília. Cobrou. Se precisar ir novamente pra Brasília, a gente vai. A gente não tem partido político. Por isso o Conselho das Entidades tem porta aberta com qualquer deputado, qualquer senador. [Como o senhor viu a aprovação do Promobis no Senado? Finalmente vamos ter o túnel?] O túnel vem ajudar muito nesse processo que está andando agora. Esses valores aprovados são pra mobilidade, mas ainda não contemplam o valor do túnel. O projeto está sendo feito. O túnel vai sair, sim, é uma demanda de toda a nossa região, mas a gente precisa pensar em outra BR, em outra duplicação. O túnel ajuda, mas também vai movimentar nossa cidade. Tem que ver se não vai criar um gargalo gigantesco aqui dentro.
"O que esses quatro vereadores a mais vão proporcionar para os habitantes de Itajaí?”
O conselho atuou contra a unificação do Batalhão de Pronta Resposta na Amfri. Por quê?
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Bento: Essa demanda chegou ao conselho: retirar os melhores policiais daqui pra formar um batalhão em outra cidade, pra atender a região. Já está com baixo efetivo. Isso não traria benefício pra Itajaí, porque o batalhão nem ficaria aqui. A gente levou isso ao governador. Eu fui pessoalmente até a Casa da Agronômica entregar essa demanda. Ele perguntou o que o conselho queria, e a gente disse: "que fique como está". E assim foi. Graças à ação do conselho isso não aconteceu.
Outro problema é a falta de mão de obra, não só qualificada, mas mão de obra mesmo. Como o Conselho vê isso?
Bento: Tem muita gente passando necessidade e tantas vagas abertas. É uma discussão muito ampla. As entidades, a federação e a confederação tentam buscar alternativas. Pela Fecomércio, com Sesc e Senac, a gente tá investindo em cursos técnicos pra qualificar. Mas muitas vezes não é só qualificação. Recebemos imigrantes quase todos os dias e ainda falta mão de obra. Falta também porque às vezes não tem moradia, às vezes a pessoa não consegue sobreviver aqui com aluguel de R$ 1,5 mil, R$ 2 mil. É uma situação muito complexa.
Itajaí pode perder cerca de R$ 500 milhões com a reforma tributária a partir de 2032. Como enfrentar isso?
Bento: Tem muito benefício hoje em Santa Catarina. Itajaí foi uma das cidades que saiu na frente com esses benefícios. Por isso que o nosso porto ficou parado e ele não sentiu muito. As empresas importadoras, hoje, estão dentro da nossa cidade. O que vai acontecer quando esses benefícios caírem? É um desafio grande do poder público. O que eu vou fazer para essas empresas não irem embora para São Paulo? Muitas empresas de São Paulo têm galpão na nossa cidade, mas de fato a empresa é de São Paulo. O que eu estou fazendo para essa empresa continuar produzindo na nossa cidade, gerando emprego aqui? Hoje a gente tem um dos maiores PIBs do estado. É muito fácil manter, mas nós temos que preparar alguma coisa para entregar para essas empresas continuarem aqui. Dificuldades todas as cidades vão ter. Que bom que o Robison está preocupado com isso. É sinal que o nosso estado sempre foi diferenciado em tudo. Isso a gente tem que construir junto.
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