Um grave erro jurídico da Prefeitura de Barra Velha expôs de maneira indevida uma cadeirante moradora da cidade como alguém que estaria tentando burlar a Justiça para conseguir uma pensão vitalícia. A situação veio à tona em março, quando uma foto da cidadã Andreza Santos foi publicada num recurso judicial do município como se fosse outra pessoa – no caso, Elisângela Pérola de Souza, esta sim, vítima de atropelamento por um ônibus da prefeitura em 2014.
Continua depois da publicidade
Andreza foi apontada, num recurso jurídico assinado pelos advogados do município, como autora de um processo reivindicando pensão vitalícia para si própria, em virtude do acidente que aconteceu há ...
Andreza foi apontada, num recurso jurídico assinado pelos advogados do município, como autora de um processo reivindicando pensão vitalícia para si própria, em virtude do acidente que aconteceu há 10 anos. A foto da cadeirante foi inserida nos anexos do recurso, mas não se trata da verdadeira autora.
Continua depois da publicidade
O documento acabou vazando na internet, e expondo Andreza como sendo Elisângela, e como alguém que apesar de pedir judicialmente pela pensão, foi flagrada pulando carnaval neste ano, pela Escola de Samba Bambas de Barra Velha, do carnavalesco Odair Inocêncio.
Continua depois da publicidade
Andreza realmente foi uma das participantes do desfile – mesmo na cadeira de rodas, participou de vários ensaios, dando um exemplo de disposição e alegria. Ao usar a foto de Andreza, o município alegou que ela seria Elisângela, e insinuou que o fato de a suposta autora da ação pular o carnaval seria uma espécie de “mau exemplo” e que ela não deveria exigir pensão vitalícia, pois não está inválida.
A imagem chegou a ambas – tanto à Elisângela como à Andreza; e deixou a verdadeira vítima do atropelamento indignada. Elisângela gravou vídeos explicando a situação e afirmando que sequer conhecia Andreza. Seu relato é tocante: ao ser atropelada quando estava de bicicleta, ela sofreu fratura exposta, perfurações corporais que atingiram sua genitália e que lhe trazem consequências até hoje.
“A ferida até hoje abre, tenho perda de sangue e de fezes, tenho muita dor quando fico muito tempo sentada. O acidente me deixou dentro de casa”, disse ela, em vídeo. “A prefeitura tirou ou pegou a foto da cadeirante. Não sou eu”, protesta Elisângela, que usa remédios permanentes para controle da dor. “O banco da bicicleta perfurou minhas partes íntimas”, detalha.
Segundo a vítima, o acidente faz 10 anos e desde o então não houve um único contato da prefeitura com ela, para saber se precisava de remédios, fisioterapia, assistência social, atendimento psicológico, absolutamente nada.
“Eu sou prova do que a Elisângela passou na época. Fui visitá-la vários dias na UTI, sei muito do sofrimento dela; o alívio quando foi transferida para o quarto. Cheguei na ocasião e me deparei com ela com fome e os braços amarrados. Eu e a minha irmã Adriana alimentamos ela na boca”, detalha a amiga e professora Raquel Batista.
Andreza também reagiu. “Usaram a minha imagem”, falou a cadeirante, ao lado do esposo Eduardo. “Vamos entrar com as medidas cabíveis, pois usaram minha foto de forma indevida”, alegou Andreza ao DIARINHO. Até mesmo o presidente da escola de samba Odair atestou que Elisângela nunca esteve no carnaval deste ano.
Posição mais de uma semana depois
Mais de uma semana após o vazamento da foto errada no recurso, o jurídico de Barra Velha lançou nota sobre o caso. A prefeitura alegou ter sido “equivocada” a alegação de que Elisângela estaria festejando o carnaval, e um pedido formal de retratação “foi protocolizado”. Em nenhum ponto da nota o município buscou se retratar com Andreza.
Continua depois da publicidade