Prejuízo de bilhão
Vacinas contra covid não utilizadas no governo Bolsonaro são queimadas por falta de validade
39 milhões de doses, avaliadas em R$ 1,4 bilhão, foram perdidas
Laura Testoni [lauratestoni16@gmail.com]
Desde 2021, 39 milhões de doses de vacinas contra covid-19 foram queimadas no Brasil porque venceram sem serem utilizadas. Os dados são do governo federal, divulgados pelo G1. O prejuízo é de R$ 1,4 bilhão.
O total de vacinas que serão incineradas representa quase 5% do total comprado pelo Brasil. O descarte de medicamentos vencidos é uma prática comum, mas a quantidade está acima do índice considerado aceitável - de até 3%.
A incineração de insumos médicos é investigada pela Procuradoria Geral da República. O órgão vai apurar se houve improbidade administrativa, crime em caso de agentes públicos causarem prejuízos aos cofres públicos.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é acusado de ser o responsável pelo desperdício. Especialistas entendem que na gestão passada houve demora para compra e distribuição das doses de vacina. Bolsonaro discursava contra as vacinas, inclusive ele próprio se recusando a receber as doses. A CPI da Covid, inclusive, terminou com um pedido para o ex-presidente ser indiciado por nove crimes, dentre eles por promover desinformação.
A assessoria de Bolsonaro disse que o ex-presidente não tinha gerência sobre o descarte das vacinas e que os ministros tinham "autoridade plena" quanto a isso. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazzuelo tocou a pasta até março de 2021 e não se manifestou sobre o assunto. Seu sucessor Marcelo Queiroga disse que as compras foram definidas pelas áreas técnicas da pasta e que não tinha responsabilidade sobre o descarte.
A pasta atualmente é tocada por Nísia Trindade Lima. Em nota, o Ministério disse que herdou mais de 157,9 milhões de itens de saúde a vencer até julho passado, avaliados em R$ 1,2 bilhão. Um comitê foi criado para monitorar e mitigar perdas.
"Também foi pactuado, junto aos estados e municípios, prioridade logística aos itens de menor prazo de validade, assim como articulação via cooperação internacional para doações humanitárias", diz o pronunciamento.
Uma das ações foi a antecipação da campanha de multivacinação de crianças e adolescentes e estratégias para ampliar a cobertura vacinal do país.