Manifestação por segurança reúne mais de 100 pessoas no Canto do Morcego
Ato reuniu vítimas de acidentes e frequentadores do local; comunidade quer melhorias no trânsito
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Moradores querem que sinalização alerte para risco de morte no morro de Cabeçudas
(fotos João Batista)
Moradores querem que sinalização alerte para risco de morte no Morro de Cabeçudas (Foto: João Batista)
Vítimas, parentes de acidentados e frequentadores da Brava estiveram reunidos em manifestação na rua José Menescau do Monte, a de acesso ao canto norte da Praia Brava, em Itajaí, na manhã deste domingo. O movimento reuniu cerca de 100 pessoas, entre ciclistas, surfistas e frequentadores do Canto do Morcego.
A manifestação foi organizada após o acidente com a empresária Fabiana Paula, de 46 anos, atropelada por uma bicicleta na descida no morro no domingo passado. Ainda em recuperação de um ...
A manifestação foi organizada após o acidente com a empresária Fabiana Paula, de 46 anos, atropelada por uma bicicleta na descida no morro no domingo passado. Ainda em recuperação de um traumatismo craniano, Fabiana esteve presente, se juntando a outras vítimas de ocorrências no local, como Eder Moser, de 46, que se acidentou em 2018 e até hoje luta contra as sequelas.
A analista de desenvolvimento Lizandra Carvalho, de 26 anos, irmã de Francisco Neto, o Netinho, que faleceu aos 19 anos após sofrer uma queda de bike na descida do morro em março, também participou do movimento. Ela relatou que ficou nervosa ao passar pelo local onde o irmão perdeu a vida e disse que ainda é muito difícil superar a perda. Natural do Pará, Netinho estava há dois anos na cidade e fazia faculdade de Logística.
Lizandra comentou que é preciso colocar algum tipo de proteção no morro, pra evitar casos como o do irmão. “Nada que a gente fizer vai trazer ele de volta, mas eu não posso pensar só em mim. Eu tenho que pensar nas pessoas, e vidas importam. A vida dele era muito importante pra gente e a vida de outras pessoas também é importante. Então, acho que as autoridades têm que dar uma olhada pra isso, afinal de contas, é um ponto turístico”, disse.
Voltando ao trecho do acidente que sofreu há uma semana, Fabiana se emocionou no encontro com Lizandra e Eder e ao falar do seu atropelamento. “A primeira coisa que eu posso dizer é que eu sou uma pessoa de sorte. Vendo o Eder agora, mais do que nunca eu reafirmo que realmente eu tive muita sorte pela gravidade do meu acidente”, refletiu.
A empresária foi atingida no domingo passado quando descia o morro empurrando a bike na saída da Brava, junto com o marido Fernando. Fabiana acredita que houve irresponsabilidade da outra ciclista, que a atropelou com a bike desgovernada. “Eu poderia não estar aqui pra contar essa história”, frisou.
Placas sobre o risco de morte
A partir da mobilização de amigos e ciclistas, Fabiana espera que haja ações das autoridades pra prevenir acidentes no trecho. “Eu acho que é imprescindível a sinalização. Porque tem muitas pessoas agora que foi aberta a lagoa [do Cassino], então o acesso ao Canto do Morcego multiplicou a frequência das pessoas aqui nesse trecho, que é um trecho paradisíaco e muito atraente pra todo mundo”, avalia.
A sugestão é que sejam colocadas placas de alerta sobre os perigos. “É imprescindível que tenha placas dizendo que ali já ocorreram mortes”, considera. Atualmente, o trecho tem apenas placas que indicam subida, descida, trecho sinuoso, limite de velocidade e proibição de estacionar.
Melhorias na infraestrutura da rua também foram sugeridas pela empresária, como colocação de guard-rails ou cercas ecológicas. “Se você não se acidenta no asfalto, você cai pro morro, pode rolar e você não sabe onde vai chegar. É um caminho de risco em todos os aspectos”, completa.
De acordo com a Codetran, a sinalização no morro já foi revitalizada no começo do ano. A promessa é de intensificar a fiscalização no local, considerando que não é possível ondulação em aclive ou declive como redutor de velocidade. Um projeto da Secretaria de Urbanismo prevê a revitalização do acesso ao Canto do Morcego, com calçadas e ciclovias, mas ainda sem previsão de sair do papel.
Luta pela recuperação se junta à mobilização da comunidade
Em cadeira de rodas, Eder Moser participou da manifestação com familiares. Desde 2018, quando sofreu um acidente, ele luta pra se recuperar das sequelas. Pelo perfil @reabilitacaoedermoser, rolam ações beneficentes em prol do tratamento. A esposa, Débora Renata Fagundes Moser, de 43 anos, destaca que a reabilitação tem sido positiva.
“O Eder tem muita força de vontade. Nós, em casa, estamos sempre na luta. As emoções dele estão melhorando, porque era uma coisa que aflorava muito. Então, devagarinho, o Eder está voltando ao normal”, conta. O tratamento envolve reabilitação respiratória, motora, preparação física e de fonoaudiologia. Débora diz que o SUS poderia ajudar mais no processo, que é tocado com o apoio de diversas pessoas.
“Agora a gente está com uma rifa pra poder arrecadar mais e continuar o processo até ele conseguir fazer tudo sozinho”, informa. O próximo objetivo é Eder conseguir andar sozinho, o que está no foco da fisioterapia. Os familiares estiveram na manifestação com camisetas que destacam o lema da luta da família: “Quem planta fé colhe milagres”.
Débora acredita que a mobilização vai ajudar a sensibilizar as autoridades por melhorias. “Temos que ficar lutando e correr para os nossos direitos, porque a gente tem direito. Infelizmente muita gente não tem essa conscientização, em geral, que a gente precisa tanto da segurança ali, quanto em qualquer lugar”, comenta.
As pessoas que pedalam no trecho destacam que o local é perigoso, mas ressaltam que também há imprudência dos próprios ciclistas. Morador da Praia dos Amores, Carlos Zappa, de 79 anos, contou que muitos descem em alta velocidade. “Eles também têm que ter a consciência que também têm que se cuidar, porque a vida é frágil”, diz, apontando que solução seria alargar a rua, criando faixa pra ciclistas e pedestres.
Acesso por nova ponte
A mobilização no Canto do Morcego foi organizada pela Associação de Surfe de Itajaí. O presidente da entidade, Beto Luz, defende o reforço na sinalização e a colocação de telas de proteção como medidas imediatas até as futuras obras.
Outra cobrança é pela ponte da Lagoa do Cassino, que desafogaria o trânsito e tiraria os caminhões que passam pelo morro de Cabeçudas. “Se tem aquela ponte ali, que se faça uma ponte que aguente caminhões e proíba os caminhoneiros de passar no morro, e deixe esse morro pra turistas, pra bicicletas e pra turma aproveitar a natureza”, argumenta.
O presidente da Associação dos Proprietários Praia Brava Norte, Celso Rauen, considera que a revitalização do morro é uma obra complexa e poderá travar a única entrada à região, sendo necessário criar um novo acesso. “Temos que pensar uma alternativa. A questão de uma ponte seria um projeto mais fácil de ser aprovado, com menos impacto. Se a gente pensar um pouco na agilidade e questão financeira, a ponte é mais viável. Eu não vejo outra maneira de revitalizar essa via aqui por Cabeçudas que não seja com outro acesso”, analisa.
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