ITAJAÍ
Protesto por mais segurança no Canto do Morcego será neste domingo
Vítimas que sobreviveram aos acidentes na descida do morro entre Cabeçudas e Praia Brava vão participar da manifestação
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
No domingo, moradores, ciclistas, surfistas e frequentadores da Praia Brava, em Itajaí, farão um protesto pacífico por mais segurança e infraestrutura viária na rua José Menescau do Monte, que liga o bairro de Cabeçudas ao Canto Norte, na Brava. No último domingo, a empresária Fabiana Paula, de 46 anos, foi atropelada por uma bicicleta desgovernada. O local tem sido palco de constantes acidentes, inclusive com uma vítima fatal. O ato busca chamar a atenção das autoridades para a necessidade de melhorias no local.
A manifestação acontecerá a partir das 9h na base do morro. Ainda em recuperação dos ferimentos causados pelo acidente, Fabiana disse ao DIARINHO que pretende participar da manifestação porque acredita que ela é importante para conscientizar a população sobre a necessidade de segurança e infraestrutura adequada naquele trecho, principalmente porque ele atrai inúmeros moradores e turistas para curtir o Canto do Morcego.
Fabiana foi atropelada por outra bicicleta no domingo passado, às 15h, quando deixava a Praia Brava com o marido. Sabendo dos perigos do morro, a empresária descia empurrando a bicicleta, quando foi atingida por outra bike, desgovernada e pilotada por uma mulher.
Fabiana teve um leve traumatismo craniano encefálico, corte profundo na cabeça, onde recebeu 10 pontos, além de cortes no rosto e ferimentos pelo corpo. Já a ciclista que a atropelou ficou com dores no peito, mas se feriu com menos gravidade.
“Eu tenho muitas ressalvas daquela descida, hoje transformadas em pavor, mas eu sempre tive receio. Era o primeiro dia que esquentou, estava caótico, com gente subindo e descendo, carros, motos, ciclistas, mas a última coisa que eu me lembro, antes de estar sentada no chão cheia de sangue, é de ver uma ciclista na minha frente empurrando a bicicleta. Eu ainda pensei, esse tipo de cuidado é coisa de mulher. Segundo depois veio uma mulher e me atropelou”, contou Fabiana, que está cheia de hematomas, com pontos na cabeça e se recuperando física e emocionalmente do acidente.
Outras vítimas estarão na manifestação
Além de Fabiana, uma amiga dela que se acidentou em fevereiro deste ano também participará da manifestação de domingo. A analista de logística Sandrina da Silva, de 34 anos, sofreu a queda no dia 12 de fevereiro, por volta das 15h30. “Eu fui desviar de um cimento sobre a pista e desequilibrei e cai. Fui de cabeça no chão e o peso do corpo sobre o ombro causou a fratura do úmero superior [braço]”, conta. Ela teve ferimentos na cabeça, pernas, braços e joelho.
Sandrina conta que até hoje está se recuperando do acidente, fazendo fisioterapia e terapia ocupacional. “Temo pelas outras pessoas que transitam ali, maioria está em seu momento de lazer e espera voltar pra casa viva, e nem sempre isso acontece. O fluxo de ciclistas aumentou significativamente após a construção da ponte que liga a Praia Brava ao Canto do Morcego, com isso as pessoas aproveitam para pedalar pelas praias e conhecer a região, mas não fazem ideia dos riscos que correm naquele caminho”, alerta Sandrina.
A família de Eder Moser, outra vítima que sofreu um acidente em novembro de 2018 e até hoje está lutando para se recuperar das sequelas sofridas, também confirmou presença. Eder estará presente em cadeira de rodas, junto aos seus familiares.
Eder teve hematomas no cérebro e passou por cirurgias, ficando 68 dias na UTI do hospital Marieta e mais 18 de isolamento. Desde que recebeu alta hospitalar, há quase quatro anos, Eder ainda luta por sua reabilitação. Ele passou um ano somente na cama. Atualmente, entre as sequelas do acidente, Eder ainda não consegue caminhar sozinho e fala e se alimenta com muitas dificuldades. “O local tem boa inclinação e é convidativo para largar o freio. Precisa iluminar, sinalizar e se possível alargar a via, nem que seja por passarela. Um lugar muito lindo que infelizmente não recebe a atenção adequada do poder público”, pontua Débora Moser, esposa de Eder, convidando a comunidade a participar do protesto.
A empresária Fabiana lembra que o movimento gostaria de convidar também a família e os amigos do jovem que foi vítima fatal da descida em março deste ano, mas não possui o contato deles. O jovem tinha 19 anos, era natural do Pará, quando se perdeu na descida e caiu às margens do morro. Ele foi encontrado inconsciente, chegou a ser socorrido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu ao traumatismo e faleceu antes de chegar ao hospital Marieta.
Com tantas vítimas da descida e com a chegada do verão, quando o movimento irá triplicar no espaço, os amigos e familiares da empresária e a Associação de Surfe de Itajaí (ASPI) decidiram fazer o protesto pacífico. “Sempre que passo pelo morro vejo situações de imprudência, as pessoas precisam se conscientizar, mas também existe a necessidade de melhorar a infraestrutura do local. Aquela via não suporta a quantidade de veículos, ciclistas e pedestres que recebe, os constantes acidentes deixam isso muito evidente”, desabafa o empresário Fernando Petri, esposo de Fabiana.
Presidente da Aspi presenciou acidente nesta quinta-feira
O presidente da Aspi, José Alberto Luz, o Beto Luz, estava no morro na manhã de quinta e flagrou mais um acidente. O jovem Eduardo descia o morro pedalando a sua bike, passou por um buraco e caiu no chão.
A bike ficou torta e Eduardo sofreu ferimentos na mão, no ombro e nas pernas, mas todos leves. “Se tivesse passando um carro ou um caminhão na hora, poderia ter ocorrido uma tragédia. Isso mostra o perigo que é aquela descida. Precisa de uma manutenção, de uma ciclovia, de mais segurança. Ainda bem que ele ficou bem”, contou Beto ao DIARINHO.
Beto convida Eduardo e outros jovens para participar da manifestação de domingo. “A gente vê muitas crianças e adolescentes que querem descer o morro, porque a Praia Brava é famosa. O trânsito é intenso, querem conhecer o Canto do Morcego, ver as ondas e curtir o paraíso. A gente exige segurança para que todos possam ter acesso”, explica.
Para o presidente da Aspi, a Secretaria de Urbanismo informou que tem projeto, mas não para este verão. “Precisamos de atitudes imediatas, sinalizar e tapar os buracos, até ser feita uma passarela. Também queremos que seja informado que já teve óbito naquele trecho por acidente com bicicleta – para que o pessoal ande devagar e saiba do perigo”, pede.
A Aspi fez comunicado à Secretaria de Obras e à Codetran requerendo melhorias. “Na manifestação será feito um abaixo-assinado e será entregue ao prefeito Volnei Morastoni. Vamos trabalhar para conseguir segurança no local”, finalizou Beto.