Thaisa: Foi um momento que me pegou de surpresa, mas me deixou muito feliz. Eu já tinha recebido o prêmio de Jovem Empresária do Ano pela associação, alguns anos antes, e até brinquei na época que gostava do título de “jovem”. Mas ser reconhecida como Empresária do Ano, sendo a primeira mulher, realmente me encheu de orgulho. Acho que isso está muito conectado à inovação que a gente entrega e ao propósito da Edificart com o legado que quer deixar. Acredito que esse reconhecimento vem disso. Me senti muito responsável por essa relação com a cidade e pela entrega como empresária. Foi algo muito gratificante e especial mesmo.
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Como iniciou sua trajetória como construtora e qual foi o momento mais difícil?
Thaisa: Para contextualizar um pouco, a trajetória da Edificart está diretamente ligada ao fato de eu ser arquiteta e urbanista. Fiz minha formação na Univali e, depois, fui morar fora do Brasil. Passei dois anos em Barcelona estudando, e sempre digo que isso foi uma virada de chave. Quando voltei ao Brasil, enfrentei o desafio de querer aplicar aqui tudo aquilo que estava vivenciando na Europa. Itajaí é uma cidade fantástica, mas meu desejo era trazer esse impacto positivo e essas referências para cá. Foi uma jornada longa e construída com muito esforço. Estamos há 15 anos com a Edificart, fortalecendo essa relação com a cidade.
Como avalia a relação que temos com a cidade? É uma relação saudável ou temos muito a melhorar?
Thaisa: Acho que temos muito potencial. Itajaí está num ponto muito favorável, próxima de Blumenau, Brusque, Balneário, Navegantes, tem o porto e várias condicionantes econômicas. Estamos com o aeroporto muito perto. Eu diria que estamos no momento e no lugar mais privilegiado que poderia existir. Itajaí merece grandes projetos para ser exatamente tudo o que pode e merece ser. [Seu olhar como mulher, arquiteta e urbanista é mais sensível para identificar os desafios e soluções dos problemas?] Acredito que sim. São dois olhares. O arquiteto, por si só, tem essa relação de olhar o ser humano de forma integral. E acredito que a mulher tem esse olhar sensível. A junção dessas duas visões proporciona uma abordagem bastante humana para o que a gente entrega.
Como foi chegar à presidência da ACII?
Thaisa: Essa talvez seja uma resposta que a Gabriela poderia dar melhor, porque o movimento e o olhar de liderança partiram dela. Na época, eu, à frente da Edificart, participava de muitos movimentos fora da cidade. Estava presente em diversos business clubs em São Paulo, em eventos internacionais como o Smart City, que acontece em Barcelona. Eu vinha me envolvendo com muitas iniciativas fora do Brasil, porque isso me conectava com ideias e referências que eu queria trazer de fora para dentro. Mas, por conta disso, eu acabava não participando tanto do que acontecia aqui na cidade. A Gabriela Kelm chegou para mim e disse: “Thaísa, tu moras em Itajaí, és de Itajaí, tua empresa está aqui. Por que não atuar aqui também?” Foi um verdadeiro choque de realidade. Eu pensei: claro, isso faz todo o sentido. Respondi: “Gabi, nem posso te dizer não. Só posso dizer: vamos!”. Tenho esse hábito de, quando a vida me apresenta algo, não ficar em cima do muro. Digo “vamos”. Hoje, inclusive, não consigo imaginar como eu não estava aqui antes.
Mesmo com quase 100 anos, a ACII ainda não havia realizado uma feira de negócios. Sua administração tem deixado a associação com ares menos elitistas. A ACII está mesmo aberta a todos os comerciantes e empresários?
Thaisa: São 96 anos de história e a associação vem caminhando conforme os momentos de Itajaí, da economia nacional e do Estado. Se olharmos para uma trajetória mais antiga, Itajaí contava com poucas e grandes empresas. Foram esses grandes empresários que se uniram e impulsionaram o setor que a associação representa hoje. Hoje, são muitos os empresários que contribuem para o crescimento de Itajaí. É essa força coletiva que impulsiona o desenvolvimento. A associação está preparada para atender e dar voz a qualquer empresário. [Como foi realizar a feira?] A feira foi um marco incrível. Tomou exatamente a proporção que desejávamos, embora, claro, no início havia receio. Tínhamos um objetivo audacioso: gerar mais negócios, que sempre foi uma pauta importante dentro da associação. Com mais de 1300 associados, promover negócios entre eles é uma grande entrega. Agora já temos o compromisso, porque o prefeito, no dia da inauguração, falou: “entra pro calendário da cidade”. Já está oficializado e a feira de 2026 vai acontecer nos dias 11, 12 e 13 de setembro.
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Por que, hoje, é importante para o empresário fazer parte da ACII?
Thaisa: A associação oferece muitas oportunidades. São mais de 15 soluções, que vão desde gestão, redução de custos, financeiro, recursos humanos. Essas soluções podem dar suporte para toda a rotina do dia a dia dentro da empresa — esse é um dos braços da associação. Outro caminho importante são as capacitações. Todo mundo precisa de pessoas, de gestão financeira, de expandir, de gerir melhor os recursos. O empresário pode estar em fases distintas da jornada, mas as necessidades são muito parecidas. Um dos principais motores que movem a associação é esse: impulsionar o empreendedor. Temos total know-how, esse é o nosso core business. E isso é um dos grandes motivos pelos quais os associados se conectam com a gente. E a gente tem voz, representatividade para se posicionar, estar à frente e agir. Já vimos grandes movimentos em Itajaí que só aconteceram pela força da associação empresarial. [Quantos associados a ACII tem atualmente e qual é a meta de crescimento?] O objetivo inicial era chegar a mil associados. No final do ano passado, a Gabi organizou a festa dos mil associados. Agora, estamos mirando, para o centenário, alcançar três mil. Atualmente, temos cerca de 1300 associados. A meta é audaciosa: queremos dobrar esse número. [Essa projeção de crescimento também abrange a criação de novos núcleos para representar novos setores? Quantos núcleos existem hoje e qual é a principal função deles?] Hoje temos 15 núcleos — na verdade, 14 núcleos e mais o conselho, que faz a união entre todos eles. É muito importante que todos os núcleos falem a mesma língua, tenham a mesma voz.
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A ACII sempre defende a bandeira dos interesses de Itajaí. Qual é o mote trabalhado atualmente?
Thaisa: São as nossas frentes estratégicas, como chamamos dentro do planejamento estratégico. Eu identifico quatro grandes iniciativas que considero fundamentais. A primeira é o próprio desenvolvimento de Itajaí. Temos acompanhado os números apresentados pela prefeitura, que indicam que a cidade pode chegar a 750 mil habitantes. É um número muito expressivo. Mesmo que não chegue a tanto — que sejam 350 mil, por exemplo —, ainda assim é um crescimento muito intenso. Estamos atentos à questão da moradia, da segurança e, principalmente, refletindo: como será essa Itajaí do futuro? Como vamos atuar diante desse crescimento? Nossas frentes estratégicas estão muito focadas em acompanhar o desenvolvimento urbano: para quais áreas a cidade vai crescer? Como será o planejamento urbano? Quais áreas de lazer serão entregues junto com esse crescimento? E o que acontecerá na área da educação, com escolas e estrutura pública? Outro ponto importante, tanto em nível municipal quanto estadual, é a mobilidade urbana. Já colapsamos. Essa é uma bandeira que a associação e a federação defendem há muitos anos.
Nesse eixo da moradia, tem projetos em andamento dos governos municipal e federal, e da própria associação de oferecer moradias para os trabalhadores da construção civil?
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Thaisa: Muita coisa está em mesa, em discussão, mas algumas das coisas já avançaram, principalmente quando a gente traz pra mesa o Instituto Itajaí, que é a OSCIP. Um dos grandes grupos de trabalho da OSCIP é justamente como que a gente dá condições, como que a gente traz esse número pro município, de como que a gente atrai investimentos e empresas que trabalhem com o Minha Casa, Minha Vida pra que dê condições de que realmente eles venham pro município e possam fazer essa moradia. Quando a gente fala nesse tipo de moradia, a gente tá falando em moradia de até R$ 220 mil, pra famílias que recebem até R$ 4,5 mil. Hoje essas famílias não conseguem comprar nada em Itajaí. Muitas vezes elas não conseguem nem alugar nada em Itajaí. Só que existe um desafio aqui da nossa legislação, do custo do terreno. Então tem que, sim, ter essa correlação entre as empresas e a municipalidade pra que isso funcione. Um dos grandes grupos de trabalho da OSCIP é justamente isso, e tem avançado bastante. Além da moradia popular, o segundo mote é sobre mobilidade. A intenção desse instituto é entregar os projetos executivos, dando condição de a prefeitura executar os melhores projetos.
Como a senhora analisa os nove primeiros meses do governo Robison Coelho?
Thaisa: Eu vejo bastante positivo, embora dentro da associação a gente seja apartidário. É uma entidade que acompanha as coisas, e como empresária, como Edificart, a gente está sempre acompanhando para onde a cidade vai e tudo o que está acontecendo. E, como moradora, mais ainda, porque principalmente nessa questão da segurança, o que eu observei: o Robison veio com uma vontade muito grande de fazer uma boa gestão, de trazer bons resultados, e ele conseguiu colocar muitas pessoas técnicas dentro de alguns setores-chave. São pessoas que já entregavam dentro do seu setor, são pessoas que têm uma visão e que querem fazer acontecer.
Quais mecanismos a prefeitura precisa fomentar para melhorar a vida do empresariado?
Thaisa: Hoje Itajaí está entre as cidades que montam e abrem uma empresa com maior velocidade de tempo. Eu acho que essa virada de chave eles já conseguiram entregar pra gente. [Qual o principal gargalo das empresas atualmente?] Mão de obra. Hoje a gente tem capacidade e tem grandes indústrias também que estão pleiteando a vinda pra cá. E eu acho que a gente pega um pouquinho esse gargalo da mão de obra que bate no gargalo da moradia. O gargalo que a gente enfrenta — e que a gente escuta nas maiores reclamações, inclusive nas nossas pautas de diretoria, que daí a gente pega desde a indústria, comércio, serviço — é a mão de obra e a qualificação da mão de obra. Quando vem mão de obra de fora, tem dificuldade em se instalar, em permanecer.