Armação
Igrejinha do século 17 espera obra de restauro há 20 anos
Estimativa é que Capela de São João Batista precise de até R$ 2 milhões para ser completamente reformada
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
A Capela de São João Batista, com 263 anos de história na Armação do Itapocoroy, em Penha, vai receber R$ 100 mil da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) para contratação de projeto de restauração. A igreja, que recebeu o recurso via edital do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, espera a autorização da fundação para contratar a empresa responsável.
O presidente da comissão de restauração da capela, Aloisius Carlos Lauth, explica que os recursos serão para a contratação dos projetos arquitetônicos, incluindo os projetos estrutural, elétrico, de cobertura, ajardinamento, hidrossanitário e sistema preventivo de incêndio. A execução do restauro virá depois e ainda dependerá da captação de novos recursos, num valor estimado de R$ 2 milhões.
“Quando a gente tiver todos os projetos em mãos, tem que correr atrás [de financiamento] para realização das obras”, explica Lauth, que é consultor, historiador e escritor.
O dinheiro do prêmio foi repassado em abril, quando a capela completou 263 anos. A elaboração dos projetos ficará por conta da Ornato Arquitetura, especializada em restauro de patrimônio histórico, incluindo prédios tombados como o da igrejinha de Penha. A restauração da Catedral Metropolitana de Florianópolis está entre os trabalhos da empresa.
A tentativa de contratação de uma primeira empresa não deu certo. “Agora estamos tentando agilizar esse processo, requerendo da fundação autorização para contratar a nova empresa para que ela possa assumir os projetos”, informa o presidente. A partir da contratação, a empresa terá seis meses para concluir o trabalho. Depois, os projetos precisam ser aprovados pela FCC antes que qualquer obra seja feita na igreja.
Lauth informa que a capela foi abandonada nos últimos 20 anos, sofrendo com diversos problemas, como infiltrações, desprendimento de reboco, estragos no forro, destelhamento, ação de cupins e materiais apodrecidos. O arco principal da capela, no interior da igreja, está rompido e precisa ser restaurado. A cobertura é uma das prioridades.
No próximo edital do estado, a igreja pretende buscar recursos para obras do telhado, já contando com o projeto técnico em mãos. Há uma estimativa de que a restauração completa da igreja custará R$ 2 milhões e que o serviço levará de dois a cinco anos para ser executado. Para as obras se tornarem realidade, a igreja buscará investidores junto à comunidade e captação de recursos em diversas fontes.
Padre Josué agilizou reabertura
![Padre Josué celebra missas muito prestigiadas na capela](../fotos/202207/800_62cf5efa0a9bf.jpg)
Padre Josué celebra missas muito prestigiadas na capela
O restauro da capela ganhou fôlego com a chegada do padre Josué de Brito Souza, transferido em 2019 de Blumenau para a Paróquia Nossa Senhora de Penha, responsável pela igreja da Armação. Na expectativa da contração dos projetos, ele destaca a importância da reabertura da capela em 2021, após reparos emergenciais.
O serviço foi bancado por doações da comunidade, permitindo que as portas da igreja voltassem a ser abertas. “Foram retiradas as vegetações do telhado e torre, contidas as infiltrações e goteiras, reboco e parte elétrica e completamente pintada. Desde então, voltou a ter missa toda semana, às segundas-feiras, às 6h30”, informa o pároco.
Ele comentou que a participação dos fiéis nas missas tem sido muito boa e lembrou que, devido à festa de São João Batista e São Pedro, todo o novenário já foi celebrado na igrejinha.
“Desde que assumimos o governo da Paróquia Nossa Senhora da Penha a prioridade é a restauração da Capela Real. Hoje ela está digna para ser usada como espaço sagrado, além das missas, também para casamentos. Mas é necessária a a total restauração”, explica.
No momento, ele aguarda o parecer da FCC para que os projetos sejam encomendados. “Este passo é o mais importante. Após termos os projetos aprovados, vamos atrás de verba para a execução dos mesmos”, completou.
Símbolo da armação baleeira
![Capela é um marco do que restou da armação baleeira do Itapocoroy](../fotos/202207/800_62cf5f190cfef.jpg)
Capela é um marco do que restou da armação baleeira do Itapocoroy
A capela é tombada como patrimônio histórico desde 1998. Os esforços pela restauração começaram em 2005, quando um incêndio destruiu o interior da igreja. Dois anos depois, houve apenas uma manutenção superficial na estrutura e a situação se deteriorou nos últimos anos.
Marco da colonização de Penha, a capela de São João Batista é o que restou da armação baleeira do Itapocoroy, a terceira a ser criada no estado e um dos símbolos da exploração portuguesa ligada à matança de baleias para extração de óleo no litoral catarinense.
A construção começou em 1759 e a entrega aconteceu em 1788. A igreja tem caraterística do estilo colonial, comum da época, erguida com pedras e uso de argamassa feita de cal do mar e areia, além de óleo de baleia.
O historiador Carlos Lauth observa que a igreja também pode ser chamada de Capela Real. “Ela foi construída para um projeto do governo português: a Armação Real São João Batista”, explica. O empreendimento tinha na área do atual trapiche uma grande senzala e tanques de derretimento de óleo.
Ele conta que a capela foi aberta oficialmente com registros de batizados e casamentos em 1791, na ocasião subordinada à Paróquia Nossa Senhora das Graças, em São Francisco do Sul, a cidade mais antiga de Santa Catarina.
Durante mais de 100 anos, a igrejinha serviu de sede para os registros, incluindo nascimentos e óbitos, da região entre a barra do rio Itapocu, que hoje limita Barra Velha e Araquari, e o rio Camboriú, que corta as atuais Balneário Camboriú e Camboriú.
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