BALNEÁRIO camboriú
Visitas de tubarões durante obras de alargamento viram assunto nacional
Presença de animais mais perto da costa estaria ligada à dragagem no fundo do mar; 16 peixões foram vistos em nossa região
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O aumento de registros e relatos de tubarões na orla de Balneário Camboriú, durante as obras de alargamento da praia central, ganha repercussão nacional e gera questionamentos se os animais podem representar perigo para banhistas. O aparecimento maior de tubarões estaria ligado às obras na praia mas, segundo o município, não há como comprovar a relação.
A draga começou a operar no dia 22 de agosto deste ano. A embarcação retira areia da jazida a 15 quilômetros da costa e carrega o material até o ponto da tubulação que leva a areia pra praia central. Contagem do museu Oceanográfico da Univali registrou o aparecimento de ao menos 16 tubarões de porte médio ao longo da costa nas praias da região desde agosto.
Em Balneário, foram ao menos três relatos em um mês. O primeiro registro de tubarão perto da praia durante as obras foi em setembro, quando um deles com cerca de dois metros de comprimento foi visto nadando junto ao molhe da barra Sul, enquanto a obra de alargamento ainda estava naquele trecho. A espécie foi identificada como sendo um tubarão-martelo juvenil. Ele não oferece risco os banhistas.
No dia 13 de outubro, um grupo de surfistas relatou ter avistado um tubarão de quase um metro a cerca de 200 metros da praia. O animal teria resvalado nas costas de um dos surfistas e não chegou a ser identificado. No relato mais recente, morador registrou o encalhe de um tubarão na areia, no trecho da rua 1001 da avenida Atlântica. A espécie foi identificada como um tubarão-azul, que foi devolvido ao mar.
Para o biólogo marinho André Neto, responsável técnico do Oceanic Aquarium, há relação entre as obras e o aparecimento dos animais. Ele informa que o alargamento influencia física, química e biologicamente o ambiente, mas que isso é um processo natural, apesar de estimulado pela dragagem.
“Com a dragagem de areia do fundo oceânico, há o afloramento e exposição de espécies que vivem no fundo mar, ativando ainda mais o processo da cadeia alimentar. Seres marinhos como crustáceos, moluscos e pequenos peixes se tornam presas fáceis para peixes maiores e, estes peixes maiores atraem outros ainda maiores que é o caso dos tubarões”, explica.
O biólogo observa que não há motivo pra as pessoas ficarem com medo. Isso porque as espécies de tubarões no litoral sul do país, entre elas o martelo, azul e mangona, não são agressivas, diferentes das espécies comuns no nordeste, como os tubarões-tigre e cabeças-chatas. Um ataque de tubarão na região sul seria algo inédito. “Em toda a história do litoral sul do Brasil nunca houve um ataque de tubarão com letalidade, com gravidade”, destaca André.
Devem voltar para o alto-mar
A continuidade do avistamento de tubarões é incerta, dependendo da oferta de alimentos. “As aparições podem perdurar até o fim da obra. Se vai continuar com essa fauna rica ou não é uma dúvida que a gente ainda não pode responder com certeza”, observa André.
Para a secretária de Meio Ambiente de Balneário, Maria Heloísa Furtado Lenzi, os animais vão permanecer porque vivem no local, mas não devem ser vistos em águas mais rasas.
“Quando parar a dragagem e a enseada voltar pra sua estabilidade e não houver mais essa movimentação, os tubarões voltam a nadar nas águas onde eles estão acostumados, muito mais profundas do que aqui, aonde tem uma disponibilidade maior de alimento”, comenta.
Registros do arquivo Histórico de Balneário Camboriú mostram pescadores com espécies de tubarão caçados nas décadas de 1950 e 1960. A pesca dos animais era comum na região, caindo ao longo do tempo. Mas ainda hoje a carne de cações, que são tubarões, é vista à venda nas peixarias.
Programa monitora impactos ambientais da obra
Os impactos ambientais do alargamento são monitorados pelo programa de biota aquática. A secretária de Meio Ambiente, Maria Heloísa Furtado Lenzi, explica que é feito o monitoramento de qualquer animal que surge tanto na enseada quanto na região de dragagem.
O trabalho começou antes da dragagem, segue durante as obras e vai continuar após o término das obras até completar 36 meses. “Praticamente nós vamos monitorar a enseada por três anos. Isso tudo para avaliar se houve alguma alteração na enseada em virtude das obras”, diz.
Na área de dragagem, o monitoramento é feito 24 horas por dia, com um biólogo embarcado na draga. Em terra trabalham outros biólogos e oceanógrafos, monitorando a enseada durante o dia.
“Já avistamos vários animais: baleias, golfinhos, pinguins, tartarugas, leões-marinhos. Mas pela nossa equipe não foi feito nenhum avistamento de tubarão”, informa. A secretária considera que ainda não é possível comprovar que o aparecimento de tubarões esteja relacionado à obra.
“Pode estar relacionado? Sim, pode estar. Mas não há como afirmar porque você precisaria avaliar isso num espaço temporal maior”, frisa. Maria Heloísa reforça a ideia de que a dragagem, revolvendo o fundo do mar, gerou uma oferta maior de alimentos.
“Que faz com que atraia espécies de peixes e, por consequente, na cadeia alimentar, peixes de maior porte, como é o caso desses cações”, observa. A secretária destaca o uso do termo. “Porque aqui na região todo mundo conhece cação, mas aí quando a gente usa o termo tubarão todo mundo se apavora”, completa.
Ele ressalta, porém, que as espécies avistadas não colocam em risco o ser humano e não estão ligadas a ataques. “As espécies mais agressivas não ocorrem em Santa Catarina”, afirma.
Reunião discute segurança
O alargamento avança em fase final na barra Norte, com trabalhos na altura da rua 1800 nesse domingo. Nesta segunda-feira, moradores da região vão discutir os impactos e mudanças da obra na segurança de banhistas e surfistas que frequentam o pontal Norte.
O encontro será no hotel Marambaia, a partir das 19h, aberto à comunidade e com a participação da associação de Moradores do bairro Pioneiros, grupos do surfe, de busca e salvamento dos bombeiros e representantes da prefeitura e do consórcio responsável pela obra.
De acordo com a organização, a ideia é trocar informações sobre a obra e debater questões de segurança. Entre as medidas está manter o distanciamento do local dos trabalhos e o cuidado com as correntes de retorno que estão mudando de lugar de acordo com o avanço da obra.
A comunidade também vai receber orientação dos guarda-vidas. Para a temporada, devido à ampliação da faixa de areia e à retomada do turismo na pós-pandemia, Balneário terá efetivo recorde: 110 socorristas na orla.