Itajaí
Ossada de Higino Pio irá para BC
Restos mortais do prefeito de Balneário Camboriú, assassinado pela ditadura militar, estão atualmente em Itajaí
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Primeiro prefeito eleito de Balneário Camboriú, Higino João Pio, assassinado aos 47 anos em 3 de março de 1969 nos porões da ditadura militar, terá os restos mortais transferidos do cemitério da Fazenda, em Itajaí, onde foi enterrado, para o cemitério do bairro da Barra. A previsão é que o translado ocorra no aniversário de Balneário Camboriú, no dia 20 de julho. Está programada uma cerimônia a ser organizada pela prefeitura e pela família de Higino, que nasceu em Itapema. A versão oficial era que o ex-prefeito teria se enforcado na Escola de Aprendizes Marinheiros, em Florianópolis, para onde foi levado depois de ser preso pela polícia Federal. As investigações da comissão Nacional da Verdade, em 2014, apontaram que Higino foi morto por estrangulamento. A foto que mostra a cena na prisão foi forjada, conforme a perícia feita para apurar as circunstâncias do caso, sendo mais uma farsa do regime militar. Recentemente, o ex-prefeito foi homenageado dando nome à nova escola estadual inaugurada pelo governo no bairro das Nações. Desde 1976, Higino Pio também batiza a praça da avenida Alvin Bauer. O nome pro colégio veio de um projeto de lei do sobrinho do ex-prefeito, Luiz Eduardo Cherem, na época do mandato como deputado estadual pelo PSDB, em 2014. Dado Cherem, como é conhecido, já foi vereador e vice-prefeito de Balneário, além de secretário estadual de Saúde. Atualmente é presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE). A aprovação da homenagem foi a primeira após a confirmação do assassinato de Higino Pio. Em junho daquele ano, uma audiência pública na assembleia Legislativa elucidou a história com a conclusão da perícia, 45 anos após o crime. A audiência foi acompanhada pelo filho de Higino, o empresário Júlio César Pio, e seus dois netos, além de Dado Cherem. Higino Pio foi o único preso político assassinado pelo regime militar nas dependências de um estabelecimento público em Santa Catarina. Outros nove catarinenses mortos pela ditadura perderam a vida fora do Estado. A prisão rolou em fevereiro de 1969, um ano após os militares baixarem o Ato Institucional Número 5 (AI-5), que oficializou o terror do regime no país. A prisão teve relação com os adversários políticos derrotados na primeira eleição à prefeitura de Balneário, após o desmembramento da cidade de Camboriú, e que eram ligados aos militares. Acusações de corrupção forjadas Higino era amigo pessoal do presidente deposto João Goulart. Foi acusado de corrupção após o golpe de 1964. Mas mesmo inocentado pela Câmara Municipal, os inimigos políticos apelaram pela aplicação do AI-5, querendo a cassação do mandato e uma investigação por suposto enriquecimento ilícito. As acusações nunca foram comprovadas e os depoimentos colhidos só confirmaram o caráter político do processo. Na quarta-feira de cinzas de fevereiro 1969, o então prefeito e outros funcionários da prefeitura foram presos pela polícia Federal e levados pra Floripa. Só Higino teve a prisão mantida após o interrogatório. O corpo dele foi encontrado dentro do banheiro da escola de marinheiros, com o rosto encostado na parede, pés encostados no chão e uma toalha no pescoço, forjando um suicídio.