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Camboriú constrói ciclofarsa para desestimular o ciclismo


Camboriú constrói ciclofarsa para desestimular o ciclismo

A infraestrutura para ciclistas que está sendo construída na atual reforma da avenida Santa Catarina não merece ser denominada de ciclovia, ciclofaixa nem ciclorrota, mas de “ciclofarsa”; e o seu objetivo não pode ser interpretado de outra maneira: desestimular o uso da bicicleta como meio de mobilidade e transporte na cidade de Camboriú.

A administração municipal que se despede em 31 de dezembro deste ano conseguiu piorar o que já era horrível. A ciclofaixa que se iniciava na rua Leopoldo Leite e terminava na rotatória da rua Joaquim Garcia era perigosa por ser estreita, mal sinalizada e com acúmulo de barro na pista.

Mas a reforma, que deveria trazer alívio e demonstrar o devido respeito à população, decepciona, entristece e indigna quem utiliza um eficiente e simples meio de transporte, a bicicleta ...

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A administração municipal que se despede em 31 de dezembro deste ano conseguiu piorar o que já era horrível. A ciclofaixa que se iniciava na rua Leopoldo Leite e terminava na rotatória da rua Joaquim Garcia era perigosa por ser estreita, mal sinalizada e com acúmulo de barro na pista.

Mas a reforma, que deveria trazer alívio e demonstrar o devido respeito à população, decepciona, entristece e indigna quem utiliza um eficiente e simples meio de transporte, a bicicleta, que só traz benefícios para a sociedade, para a saúde pública, para o erário, para o meio ambiente e para a economia familiar.

O próprio desenvolvimento da obra, penúria ainda sem data para acabar, serve de prenúncio ao desastroso resultado que vai se concretizando muito lenta e desordenadamente. Desde o início os ciclistas foram entregues, entre montes de brita, buracos, poças e destroços, absolutamente desprotegidos, a irritados e excessivamente velozes motoristas que, não raro, agem como se os ciclistas fossem intrusos na via pública.

Indiferente com estudantes de todas as idades, desprezando trabalhadores cansados, insensível com mães transportando seus filhos nas cadeirinhas e em desmazelo com cicloentregadores, o que a prefeitura vai entregar para seus cidadãos e cidadãs é uma ciclovia sobre calçada com minguados 1,50 m de largura, com um péssimo pavimento que já se esboroa antes mesmo de concluído e com vários trechos com a pintura vermelha totalmente removida. E, ao que tudo indica neste momento, em extensão menor do que a antiga ciclofaixa.

Mesmo quem nunca subiu numa bicicleta, o que parece ser o caso dos gestores da obra, compreende que 1,50 m de largura é insuficiente para uma ciclovia bidirecional, pois os ciclistas sempre correm risco de colisão entre si; e entende que, além de não comportar o atual fluxo de ciclistas, desestimula que mais pessoas passem a adotar a bicicleta como veículo. Além disso, todo mundo pode ver que o risco das bicicletas caírem de cima do meio-fio para debaixo dos rodados dos caminhões que trafegam na via estará sempre preocupando os ciclistas.

Esta decisão da prefeitura torna-se ainda mais revoltante porque estamos tratando de uma modalidade significativa e relevante. A pesquisa ‘Origem e destino’ realizada em 2015 pela Amfri, demonstrou que 47,7% dos domicílios possuem pelo menos uma bicicleta, que 27,7% dos moradores utilizam frequentemente a bicicleta como modo de transporte — sendo que, destes, 67,71% o fazem de forma diária —, que 53,81% escolhem este veículo por ser de fácil locomoção e que o tempo médio de deslocamento das viagens, 21 minutos, é o mesmo dos automóveis. E já faz 10 anos que o ‘Diagnóstico da conexão ciclística entre Camboriú e Balneário Camboriú’, elaborado pelo IFC - Instituto Federal Catarinense, contabilizou 1692 viagens de bicicleta em um período de 13 horas na avenida Santa Catarina.

Precisamos compreender que a prefeitura tomou essa decisão de caso pensado, pois transgrediu sua própria Estratégia de Mobilidade Urbana do Plano Diretor de Desenvolvimento Territorial de Camboriú (Lei nº 90/2017), que estabelece que as ciclovias devem ter 2,50 m de largura e ser protegidas por canteiros com 50 cm de largura. O fez consciente de que o Manual de Sinalização Cicloviária do Conselho Nacional do Trânsito (Resolução nº 874/2021) recomenda, para ciclovias, largura de 2,50 m e determina largura mínima de 2,00 m. O fez negligenciando a Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei 12.587/ 2012), que instituiu a “prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado”.

A prefeitura elaborou o projeto apesar de ter, no seu calendário, a  Semana Municipal do Ciclismo de Camboriú (Lei nº 2868/2015), que tem, entre outros objetivos, “buscar soluções para a viabilização de vias exclusivas para os ciclistas, trazendo assim melhorias para o trânsito”. A prefeitura investiu dinheiro público sabendo que contradiz sua intenção de atrair ciclistas para a Rota de Cicloturismo Trilha do Jacaré de Camboriú (Lei Municipal 3.419/2022) e para o Circuito de Cicloturismo Costa Verde & Mar, que administra junto com os municípios da Amfri.

Antes de se despedir do cargo, a atual administração poderia dirigir-se aos munícipes explicando porque, contrariando as leis e o bom senso,  escolheu deixar, como marca na principal via de acesso à cidade, uma ciclofarsa. Mas, de qualquer forma, fica como desafio para a próxima gestão corrigir esta deprimente mancha para conferir a merecida dignidade a uma parcela considerável da população da cidade e aos seus desejáveis visitantes.

* Coordenador do Observatório da Bicicleta; Conselheiro Regional Sul da UCB - União de Ciclistas do Brasil

 

 


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